Abril/1992 Walter Miranda
"O artista deve ter algo a dizer porque o seu dever não é dominar a forma, mas sim adequá-la a um conteúdo." Wassily Kandinsky Nesta série de trabalhos que venho desenvolvendo desde 1986 e tem como "leit motif" a obra homônima do escritor inglês Aldoux Huxley, procuro abordar o lado sutil do controle do indivíduo, em contrapartida ao lado evidente, que apresentei na série "1984". Nela tento mostrar que, em decorrência da modernidade tecnológica atual, nos tornamos apáticos, alienados e robotizados, incapazes de questionar com profundidade os conceitos fundamentais advindos desse desenvolvimento desestruturado. Incapacidade essa nascida do indireto e sutil controle de nossos anseios e desejos através dos confortos materiais (verdadeiros somas) contemporâneos.
Em outras palavras, a intenção desta série é representar as incoerências do desenvolvimento humano através de três pontos básicos, a saber:
Com isso, tento levantar questões sobre a suposta impunidade do comportamento humano, tais como: Seremos, um dia, interrogados sobre as inconseqüências praticadas através de uma tecnologia impensada? Serão nossos inquiridores nossos próprios descendentes? Será o supremo tribunal será um pla-neta desolado e devastado? Os quadros são planejados com base na relação áurea, uma relação matemática observada em várias criações da natureza e já encontrada nos estudos matemáticos dos povos da Antigüidade. Com ela e alguns cálculos matemáticos, procuro resolver de forma construtivista o desafio da composição. Após vários estudos, determino os retângulos áureos e localizo vários pontos e áreas focais onde serão afixados os elementos simbólicos. As espirais logarítmicas e as linhas de força surgem como conseqüência natural da utilização da relação áurea e dos retângulos. Em alguns quadros criei uma espécie de "circulo fechado" onde o quadro é um detalhe dele mesmo e este detalhe é o próprio quadro.
Segue-se, então, o momento de trabalhar os elementos simbólicos que serão afixados nos pontos ou áreas focais de cada quadro. Entre os elementos simbólicos encontram-se fórmulas físico-matemáticas e elementos artísticos, pintados separada-mente em papelão, que representam o real progresso humano; sementes e folhas de árvores (preparadas para não se deteriorarem) que representam o naturalismo; peças de computador que representam o domínio da tecnologia na sociedade atual; elementos de sucata; imagens produzidas através de computação gráfica, etc.
Alguns elementos são repetidos em várias obras, podendo ser classificados como um tipo de repertório que, ao ser utilizado, enfatiza um universo pessoal de significados, já que a utilização desses elementos como detalhes, ou como primeiro plano, obriga o espectador a examinar as relações metonímicas dos quadros, provocando-lhe questionamentos. O objetivo é que ele tire suas próprias conclusões sobre o tema abordado através de uma linguagem subjetiva. O resultado é a cumplicidade ou a negação, não importa, pois ambas formam um tipo de envolvimento que remetem à essência do que tento transmitir.
Abril/1992 Walter Miranda
Leia sobre exposições desta série:
Diário de Bauru - Walter Miranda e Evaldo Barros expõem na Casa da Cultura
Diário de Bauru - Telas e Poemas de Walter Miranda e Evaldo Barros, Amanhã na Casa da Cultura
Gazeta do Ipiranga - A Arte de Walter Miranda: Retratar a Realidade