RÉQUIEM A GAIA - O ESTIGMA DO CHEFE SEATTLE
Desde os anos 80, a temática ecológica é uma constante em minha produção artística, bem como a incorporação de placas de computadores e outros tipos de acessórios tecnológicos e eletrônicos.
A série RÉQUIEM A GAIA trata da atual situação de degradação ambiental no planeta provocada pelas ações do ser humano ávido por um enriquecimento imediato.
Seis quadros circulares representam regiões do planeta, por meio de mapas geográficos, e a poluição ambiental pertinente a cada uma. Cada região é pintada de forma realista, como um detalhe de cada trabalho, e colocada dentro de uma cúpula de vidro, a fim de criar um elo que fecha o quadro em si mesmo. Mundi I, representado por um mapa-múndi, é o sétimo trabalho e aborda o caráter materialista da nossa sociedade contemporânea.
Esta série de trabalhos foi realizada em técnica mista: óleo + peças de computador e diversos objetos sobre madeira, além de textos manuscritos e filme plástico de PVC (policloreto de vinila) para criar texturas e efeitos visuais peculiares que, comparados aos demais elementos colados aos quadros, provocam a curiosidade do espectador. Também há a incorporação aos quadros de vários elementos do nosso cotidiano tecnológico, tais como, placas de computador (serradas e esmerilhadas), processadores, chips, alto-falantes, cartões de crédito, relógios, chaves, cadeados, cúpulas de relógios, balas de revólver, bijuterias, moedas, palitos de fósforos queimados, cascas de lápis apontados, farelos de borracha etc; além de elementos da natureza, tais como, sementes, conchas, caracóis, terra, areia, pedras, casco de tatu etc. Tudo com a intenção de provocar reflexões filosóficas sobre a questão do meio ambiente e do homem no planeta.
Nesse sentido, as seis regiões do planeta foram preenchidas com restos de objetos que se relacionam com as características de cada região, a fim de representar a poluição causada pelo consumo excessivo de materiais processados pela indústria humana, ou seja:
§ na América do Sul usei palitos de fósforo para representar as queimadas;
§ na Europa, usei pequenos pedaços de placas de computador para montar um mosaico visual representativo das diversas mini regiões que compõem o continente;
§ na África usei a areia devido à influência, marcante do Saara, bem como da seca em diversas regiões daquele continente;
§ na América do Norte usei diversos chips e processadores de computador para representar a característica da sociedade tecnológica;
§ na Ásia usei cascas de lápis apontados para representar a cultura manual que ainda hoje se mantém imperativa na região;
§ na Oceania usei detritos de placas de computador para representar a dominante produção industrial nesta região e que tem suprido o mercado mundial de bens eletrônicos nas últimas décadas.
§ o mapa-múndi I apresenta todas as regiões do planeta preenchidas com cartões de crédito, símbolo maior do consumismo desenfreado da sociedade contemporânea.
Ao fundo de alguns quadros manuscrevi um texto, que segue padrões lineares compositivos específicos de cada trabalho. Este texto, Carta do Chefe Seattle, é conhecido mundialmente e tem uma história muito curiosa:
O chefe indígena norte-americano Seattle fez um discurso, em 1855, durante um tratado de paz em que as terras indígenas foram vendidas em troca de uma reserva. Esse discurso foi presenciado por um admirador seu, Henry A. Smith, que o publicou em um jornal local em 1887, baseado em suas lembranças sobre o discurso. Em 1971, o discurso sofreu alterações feitas por um roteirista, Ted Perry, para um documentário com tema ecológico. A partir daí, o texto desse documentário passou a ser conhecido mundialmente como a carta resposta do Chefe Seattle ao presidente Norte-americano.
Embora, a autoria seja ambivalente, essa comunhão de textos, a meu ver, apresenta uma mensagem para a humanidade que se torna cada vez mais atual. Por isso, resolvi reaproveitá-la e incluí-la nesta nova série de trabalhos, denominada “RÉQUIEM A GAIA”.
Em síntese: Em minha produção artística, procuro sempre unir a razão ao sentimento (base de meu processo criativo), para criar uma obra que faz uso de técnicas tradicionais incorporadas a elementos da sociedade atual e que estabelece diversas relações metonímicas que provocam questionamentos no espectador. Meu objetivo é que ele tire suas próprias conclusões sobre o tema abordado através de uma linguagem subjetiva. O resultado é a cumplicidade ou a negação, não importa, pois ambas formam um tipo de envolvimento que remetem à essência do que tento transmitir.
Outono/2008 - Walter Miranda