Como artista plástico profissional e professor de artes plásticas, alegra-me muito ver a continuação dos Salões de Arte, um evento cultural que proporciona espaço para a apresentação da produção artística espontânea e independente de modismos.
O grande número de artistas que se inscrevem em Salões de Arte em todo o país, reforça a opinião de que se fazem necessários mais eventos culturais com essa característica. Mais do que nunca, hoje, faz-se imperativo respeitar a criatividade artística em vez de impor conceitos filosóficos e moldar conceitos estéticos para direcionar a produção artística contemporânea.
A verdadeira Arte é aquela que nasce no coração dos artistas e se materializa em função de seus sonhos, anseios e necessidades filosóficas. Ela é livre e independente da condução e coerção estética, técnica, temática, conceitual, filosófica e mercadológica.
Em uma época em que se critica a existência de Salões de Arte com alegação de que eles são antigos e anacrônicos, é preciso lembrar que a democracia também é antiga, mas ainda assim se configura no modo mais legítimo de governabilidade. Da mesma forma, os Salões de Arte ainda são a forma mais legítima e democrática de respeitar e mostrar a produção artística espontânea além de proporcionar espaços expositivos verdadeiramente livres de imposições formais. Atualmente, no afã de valorizar a arte contemporânea, é muito comum a divulgação de comentários elogiosos e o apoio a apenas um estilo de arte, como se houvesse apenas um tipo de produção artística. Atitudes como essas criaram um sistema completamente autoritário que tenta moldar a atuação dos artistas e suas expressões criativas. Entretanto, ele não apresenta autênticos resultados estéticos, conceituais e filosóficos porque se baseia em soluções de fácil execução com características visuais repetitivas e que dependem da retórica e verdadeiros compêndios para se sustentar intelectualmente. Geralmente, o público se sente menosprezado por não entender o que é apresentado, como se o objeto exposto estivesse acima das capacidades intelectuais dos espectadores, já que está sustentado por teses escritas por “sumidades” intelectuais.
Esse novo sistema artístico, muitas vezes coordenado por “autocracias culturais, institucionais e acadêmicas”, colocou parte dos artistas na posição de coadjuvantes de uma nova ordem cultural, que nada mais é do que um “Neoacademicismo”, pois monopoliza determinados espaços culturais importantes e exige dos artistas que dele participam a obediência a determinadas regras estéticas, conceituais e filosóficas.
Em outras palavras, esse “Neoacademicismo” só sobrevive devido à sustentação intelectual de algumas personalidades culturais e do suporte material de grandes instituições culturais como espaço expositivo. Com esses apoios ele ganha visibilidade ao ser divulgado por parte da mídia eletrônica, impressa, falada e televisionada. Dessa forma, a divulgação desses eventos, aparentemente grandiosos devido à veiculação na mídia, gera a ilusão de que a maioria dos artistas contemporâneos segue essa nova corrente Neoacadêmica.
Ledo engano, a verdadeira Arte (com A maiúsculo) continua forte e viva, sendo produzida independentemente de orientações monocráticas e monocromáticas. A prova está nos vários Salões de Arte organizados em várias cidades do país e que resistem aos modismos ditados pela nova ordem. Eles são verdadeiros espaços multidisciplinares, comprometidos com a liberdade de expressão e desapegados de interesses conceituais, financeiros ou institucionais, já que a participação dos artistas é livre e gratuita.
Espero que os Salões de Arte tenham vida longa e aglomerem cada vez mais artistas do mundo todo, como um espaço de resistência às diretrizes Neoacadêmicas! Por fim, é importante parabenizar os artistas que resistem a esse tipo de modismo e continuam a produzir seus trabalhos livres de qualquer corrente artística dominante, apesar das dificuldades decorrentes de políticas culturais equivocadas que apoiam esse novo sistema artístico e cultural. Parafraseando o general Romano Pompeu em sua frase, tornada famosa em um poema de Fernando Pessoa: “Criar é preciso, viver não é preciso”.
Walter Miranda – Outono/2018