Lilian Cristina Monteiro França
Walter Luiz Lopes Miranda, artista visual, professor, curador, designer e ilustrador paulistano, imerso no universo da arte, já ultrapassou a marca de cem exposições individuais e coletivas no Brasil e no exterior. Sob a assinatura de “Walter Miranda”, ele entrelaça Ciência e Arte em peças bidimensionais e tridimensionais, instalações e performances, alinhando a crise ambiental com o uso caótico da tecnologia, particularmente da tecnologia microeletrônica.
Usando peças de computador, placas de circuito impresso, teclados, mouses, diodos e botões, ele subverte suas funções para criar formas críticas que estimulam reflexões baseadas no redirecionamento do que parece óbvio (Figuras 1 a 15).
Em texto preparado para o catálogo da exposição Cartografias de Gaia (2020), da qual foi curador, o crítico de arte Enock Sacramento enfatiza que “A mensagem que ele busca transmitir com seu trabalho é que a natureza pode existir sem o homem, mas o homem não pode sobreviver sem a natureza. E que o mundo se tornou perigoso porque, segundo Albert Schweitzer, os homens aprenderam a dominar a natureza antes de poderem dominar a si mesmos.”
No que se refere à exposição Cartografias de Gaia, vale destacar também o caráter norteador das placas de circuito impresso e a forma como Walter Miranda as rearticula como base de sua técnica construtivista.
Durante sua palestra A Seção Áurea: da Matemática às Artes, ele recupera o significado do conceito de proporção e correlaciona matemática e arte, destacando a aplicabilidade da “proporção divina” em obras como a Pirâmide de Quéops, o Partenon de Fídias, o Homem Vitruviano, a Mona Lisa de Leonardo da Vinci, o Modulor de Le Corbusier, por exemplo.
O próprio artista utiliza o recurso para compor algumas de suas obras, como Réquiem para Gaia: Descompasso (Figura 16) e a série A Nova Idade Média (Figura 17). De fato, a matemática está integrada ao tecido poético de sua obra, como em Por do Sol - Mondriano e Walteriano (Figura 19), sobre a qual ele explica: “As obras desta série apresentam também uma correlação visual e metonímica entre as placas do computador, a geometrização do céu e a interpretação que os observadores costumam fazer ao visualizar minhas obras” e Confúcio e as cinco virtudes do homem (Figura 20), para citar apenas duas.
A dicotomia entre céticos e defensores da gravidade da pandemia da Covid-19 deu origem à série It's in the eyes of the beholder – Pandemic Look, composta por três obras que simbolizam a globalização da doença por meio “da representação pictórica de olhos verdes, castanhos e azuis e da inclusão de elementos eletrônicos característicos da tecnologia atual que geram uma imagem estilizada do vírus”, informa Miranda (Figura 18).
Os objetivos da Revolução Industrial são abordados na obra Ratoeira Tecnológica II (Figura 21), parte de um conjunto maior, com o objetivo de pensar as armadilhas do uso irresponsável de tecnologias que impactam o meio ambiente: “O componente eletrônico inserido dentro da ratoeira e que tem um formato semelhante ao modelo do coronavírus foi colocado próximo à Terra para explicitar a ameaça de riscos potenciais que enfrentamos como espécie. A ratoeira foi colocada sobre uma placa eletrônica dourada em alusão à ilusão criada pelos dispositivos tecnológicos contemporâneos. Os chips eletrônicos que circundam a placa formam uma cerca que separa a humanidade de um suposto sonho dourado” (Walter Miranda).
Preocupado em permanecer atento às questões filosóficas que permeiam a vida e a arte, ele condensa na série Evolução Paralela (Figura 22) a história da humanidade desde a pré-história até os dias atuais, repleta de sinais que marcaram cada uma dessas épocas. O caráter lúdico da composição aparece na série de cinco obras intitulada Para não dizer que não falei das flores, criada durante a pandemia, quando serviu de contraponto à gravidade do momento.
Walter Miranda planeja suas obras como mapas, em múltiplas camadas, convidando o leitor a desvendar sua escrita visual e expandir as dimensões do possível.