Temos a convicção de que um dos pontos mais interessantes da arte de cada época é representado pelo estímulo das utopias. Existem, potencialmente, no homem e desde sempre “estados mentais” que podem ser imunes às condições estritamente racionais e que são inexplicáveis do ponto de vista do conhecimento.
Muitos críticos afirmam que a linguagem da arte é um sistema de probabilidades, onde as improbabilidades são introduzidas com igual importância, como contribuição à história das idéias. Podemos dizer que o ser humano é uma consciência suspensa num universo desconhecido.
Do ponto de vista estritamente semântico, poderíamos acrescentar que a obra de arte é portadora de uma mensagem “ambígua”, em virtude da pluralidade de significados que lhe são atribuídos e que convivem num só contexto. A experiência consciente e racional da realidade de Walter Miranda é resultado de um método operativo que deixa de lado propositadamente outras percepções que simplesmente chamaremos de “diferentes”.
Acreditamos que a busca do artista pode nos levar á revelação de um universo desconhecido. Assim o revela a lucidez e o detalhamento do seu desenho visionário, tanto quanto à misteriosa e irônica organização iconográfica dos seus símbolos, a sua meticulosa capacidade de perseverar com paciência o “mundo” secreto de suas elocubrações que o levaram a amadurecer alguns ícones complexos e, certamente de difícil leitura para alguns.
No seu curioso “simbolismo” se mesclam enfaticamente algumas famílias de signos, de objetos, de produtos tecnológicos e de consumo da sociedade atual, que convivem livremente e emblematicamente com figuras que revelam a preocupação cotidiana do homem.
Coligado a uma emoção, um acontecimento, um fato qualquer, ou mais simplesmente a uma idéia filosófica, religiosa, mágica, ou cabalística, encontramos no centro desse universo – sem dúvida crítico – o olhar perscrutador de Walter Miranda, que nos observa sempre, mesmo quando não está presente.
Em conclusão, podemos dizer que as obras “Nada de novo no front” e ”Para não dizer que não falei do amor III”, da série Admirável Novo Milênio (2002), realizadas em óleo e objetos sobre papelão de fabricação própria, doadas ao Acervo Artístico do Legislativo Paulista, constituem um “registro da mente” e parecem trazer o sinal de um tempo que é concomitante com o espaço.
Emanuel Von Lauenstein Massarani