AUTORRETRATO
As lembranças que me seguem e,
confundem-se com o presente,
não me deixam sozinho.
Não tenho a solidão angustiante
dos homens sem passado,
que não podem voltar o rosto para trás.
Segue comigo uma antiga intimidade
com o mundo e as pessoas de conteúdo humano,
não compactuo com a hipocrisia e a insensibilidade.
A minha estrada é longa
e a minha vida por demais sofrida.
mas tem valido a pena devido à sua plenitude e,
dentre mortos e feridos, eu sempre sobrevivo.
Para viver não é necessário possuir, mas é importante sentir,
e as pedras do caminho mostram que a dor é boa professora.
Os pores do sol ao final de cada dia mostram que é preciso sonhar
e os sonhos trazem consigo a mesma brisa que a arte traz.
Para pintar não é necessário privilégios,
mas um pouco de sofrimento e humildade.
E a pintura tem me ajudado
a disfarçar a tristeza irremediável de perceber.
Original: Elias Luiz (1926-1985) - Adaptação: Walter Miranda