Inferno de Dante
O inferno, parte constitutiva da obra “A Divina Comédia”, escrita por Dante Alighieri (1265-1321), está dividido em partes representativas das punições causadas pelos embaraços e pecados humanos cujo maior crime é a traição. Embora em sua obra a intenção fosse normativa, ao demonstrar os castigos que os pecadores sofreriam após sua morte, meus trabalhos intitulados Inferno de Dante I e II, foram inspirados na grande traição filosófica vivida pela humanidade hoje em dia:
Dominamos uma tecnologia capaz de alimentar, vestir, amparar e assistir decentemente todos os seres humanos, mas em nome de pretensos conceitos filosóficos, políticos e econômicos, as elites mundiais continuam traindo a essência humana. Por isso, a hipocrisia impera e, em nome da liberdade, representada nos trabalhos pela estátua, todos os “ismos” políticos reprimem, escravizam, guerreiam, separam, criam êxodos populacionais e discursam como se fossem os donos da verdade absoluta ao perverter o intelecto humano a favor de causas próprias.
Enquanto isso, nós, reles mortais, sofremos as consequências desses mandos e desmandos vivendo em um verdadeiro inferno contemporâneo criado por nós mesmos e sem a possibilidade de almejarmos o purgatorio ou sonharmos com o paradiso dantesco. Nesse sentido, as imagens pintadas nos dois trabalhos falam por si só quando comparadas com os títulos deles, mas o inferno representado nelas é real e não estamos sabendo como transformar o mundo em um local melhor para se viver em paz.
Walter Miranda - Inverno/1985