THE VITRUVIAN MAN - Reports of a cosmogonic idea (second part -1/2)
Abstract: A summary of the history of the drawing called “Vitruvian Man” made by Leonardo da Vinci. Inserted in the western and contemporary collective unconscious due to its visual symbology and market penetration, it is the result of an intellectual path derived from cosmogonic, philosophical, theological, religious, physiological and artistic concepts that have been changing over time, but which make part of the human essence in its eternal existentialist search for answers about Man’s place in this physical and conceptual Universe. In short, the drawing is more than just a mediatic image. This is the first of two parts.
EXHIBITION “TEMPO INSULAR” by the artist Walter Miranda and member of the ABCA Brazilian Association of Art Critics.
EXPOSIÇÃO “TEMPO INSULAR” do associado ABCA e artista plástico Walter Miranda.
“A Arte existe porque a vida não basta”.
Essa frase, escrita pelo poeta brasileiro Ferreira Gullar (1930-2016), nunca foi tão atual e significativa. Não importa a época, a cultura, a religião, a raça etc., o espirito humano sempre sentiu necessidade de se expressar por meio de recursos artísticos. Esse é um dos fatores que nos diferenciam das demais criações da natureza, a mãe Gaia.
O tempo do isolamento devido à Covid 19 serviu para muitos artistas criarem obras de arte. Não foi diferente comigo. Não bastava estar protegido, resguardado e bem acompanhado. Não bastava a internet para me integrar com distantes amigos, parentes, artistas ou para me manter atualizado sobre os acontecimentos no planeta. A vida não foi suficiente e a Arte brotou em vários sentidos, de várias formas, com várias desculpas, motivos e temas. Foi um tempo pra pintar porque a vida não bastou!
Foi um tempo de epidemia; um tempo de recolhimento; um tempo de dormências; um tempo de esperanças; um tempo de desesperos; um tempo de descobrimentos; um tempo de empatias; um tempo de egoísmos; um tempo de covardias; um tempo de traições; um tempo de heroísmos; um tempo de angústias; um tempo de decepções; um tempo de tristezas; um tempo de surpresas; um tempo de flores; um tempo de chorar; um tempo de rir; um tempo de amar; um tempo de odiar; um tempo de exaltações; um tempo de abominações; um tempo de uniões; um tempo de separações; um tempo de alienações; um tempo de aversões; um tempo de libertação; um tempo de salvação; um tempo de autoconhecimento; um tempo de saúde; um tempo de morrer; um tempo de reviver; um tempo de dor; um tempo de paz; um tempo de plantar; um tempo de colher; um tempo de afastamento; um tempo de integração; um tempo de refletir.
Enfim, foi um período de insulamento e as obras desse Tempo Insular são o resultado dos meus momentos vividos em uma fase da vida que, como postulou a Dra. Margareth Dalcolmo (1954) em seu recente livro, é “Um Tempo Para Não Esquecer”.
Dessa forma, a Arte me serviu como válvula de escape, de reflexão, de encontro e de introspecção, em vários dos momentos que mencionei e que me propiciaram a criação de algumas obras pungentes outras poéticas; algumas críticas outras exultantes; algumas exaltando a vida outras questionando a falta de empatia; algumas mostrando o lado belo do ser humano outras despertando um certo descrédito na humanidade. Esses meus momentos de inflexão me conduziram ao sabor de cada situação sem que eu oferecesse resistência. O resultado são as obras que compõem essa exposição denominada “Tempo Insular”.
Embora a preocupação inicial maior fosse com os idosos, havia também a preocupação do sistema médico mundial em proteger as gestantes e seus filhos. Isso me inspirou a criar alguns trabalhos referentes à gravidez e eles passaram a fazer parte da recorrente série denominada Exaltação a Gaia que venho desenvolvendo essa série desde a década de 1990. Ela faz uma correlação com a vida planetária ao associar a mãe Terra e a maternidade humana. Os quadros dessa série exaltam a importância do planeta Terra, uma célula universal que abriga uma diversidade biológica imensa, mas também expõe a sua fragilidade representada pelo equilíbrio dos bailarinos que reverenciam a mãe Gaia, a deusa grega que representa a Terra e a Natureza. Ao mesmo tempo, os trabalhos fazem uma analogia com três componentes importantes do nosso sistema planetário: Terra, Lua e Sol como elementos geradores de vida na forma como conhecemos e das condições para a sua manutenção.
Dentro desse mesmo ímpeto, surgiu o trabalho denominado Chip Metafísico Universal, composto por capacitores eletrônicos e mini lâmpadas led sobre placas de circuito eletrônico pintadas por mim. Nele o planeta Terra, pintado em óleo sobre tela, está no centro como se fosse um processador eletrônico virtual e irradia linhas energéticas da mesma forma que as linhas de um chip eletrônico real conduzem energia para os demais componentes do circuito eletrônico. Assim, em termos filosóficos, o centro do universo seria aqui, da mesma forma que todo e qualquer ponto universal seria o centro desde que o observador lá esteja.
Do risco de contaminação pela doença até a insólita infecção que me assolou mesmo estando isolado há um ano, surgiu o projeto para a instalação “Covidianis Plana Terrae”. Ela consiste na distribuição de vários elementos pictóricos e objetos tridimensionais estrategicamente distribuídos em um espaço que pode ser considerado claustrofóbico. A instalação é composta da seguinte forma:
a) - Um quadro homenageia todos os funcionários da área da saúde que, para mim, foram os verdadeiros heróis ao batalhar na linha do front contra um inimigo invisível e perigoso, uma constante nessa atividade profissional principalmente durante as pandemias históricas. Esse quadro apresenta na parte superior um painel tridimensional (pintado com a técnica da pintura a óleo) mostrando um médico da Idade Média e médicos e enfermeiros contemporâneos usando roupas e equipamentos de proteção. Ao lado deles há duas faixas com elementos eletrônicos retirados de computadores e que representam o coronavírus. No centro do quadro estão as silhuetas de três bailarinos (pintadas com camadas de tinta a óleo espirradas) representando a humanidade em momentos de reconhecimento e de medo, bem como a representação esquemática e figurativa do corona vírus, além de dois componentes eletrônicos retirados de partes internas de computadores também representando os vírus. Na parte inferior do quadro há um monitor de PC com imagens da gripe espanhola em 1918, da atual pandemia e a imagem de um médico da Idade Média. Ao lado do monitor, estão duas representações da Yersinia pestis (bactéria causadora da peste bubônica) e do vírus da gripe espanhola. Também ao lado do monitor há duas placas de computadores (serradas e esmerilhadas) contendo a época da peste bubônica e da gripe espanhola. Das placas saem dois cabos elétricos em direção às imagens da bactéria e do vírus.
b) - Ainda dentro da instalação, um trabalho denominado Fábrica de Caixões contém um moedor industrial de carne que tritura o planeta e o devolve moído em fileiras de mini caixões representados por chips eletrônicos sendo que centenas de mini botões eletrônicos representam as vítimas fatais da pandeira.
c) - Mais abaixo, representações tridimensionais do coronavírus flutuam sobre pequenos caixões de madeira, sendo que dois deles apresentam a inscrição “eu/você?”.
d) - Quatro quadros denominados Corona Mundi foram criados utilizando diversos refugos e componentes eletrônicos sendo que a silhueta pintada dos continentes representa o vírus se espalhando pelo planeta.
e) - Dois trabalhos tridimensionais representam na frente e no verso duas faces do planeta, como se ele fosse plano, e se contrapõem a uma terceira obra composta por uma esfera pintada com os continentes em sua real posição. A questão da esfericidade do planeta ou sua suposta planicidade gerou esses três trabalhos que foram incorporados à instalação para representar o forte ressurgimento na cultura mundial da antiga teoria da Terra plana. Minha intenção foi questionar esses ultrapassados valores culturais, pois a meu ver, esse tipo de pensamento teórico baseado em conceitos medievais e arcaicos traz em seu bojo vários outros conceitos retrógrados referentes à ciência, religião, saúde etc. e reforçam um negacionismo frente à seriedade daqueles tempos insulares vividos por todos nós. Abaixo da esfera que representa o planeta em sua forma verídica estão várias seringas sem agulhas para aludir à falta de medicamentos para tratar os efeitos da pandemia.
f) - Dois quadros denominados Cloroquina, o Pão Nosso de Cada Dia? 1 e 2 apresentam o planeta Terra rodeado por semiesferas feitas de papel artesanal, que eu produzi, e incrustadas de transistores que representam o coronavírus. Alguns comprimidos de papel artesanal, também feitos por mim, representam comprimidos de cloroquina e centenas de mini botões eletrônicos interruptores táteis representam uma multidão de pessoas que rodeiam o comprimido em busca de uma pretensa proteção.
g) - A instalação está infestada com várias representações bi e tridimensionais do coronavírus espalhadas pelo ambiente tanto nas paredes quanto flutuando no ar e causando a impressão de que podemos ser atingidos pelos vírus.
h) - Centenas de equipos hospitalares estão espalhados pelas paredes e envolvem os observadores que ocupam o espaço causando a sensação de ambiente hospitalar onipresente. Além disso, para adentrar ao espaço da instalação, os espectadores passam por uma cortina feita também com equipos hospitalares e que cria uma atmosfera separada dos demais ambientes da exposição em uma zona isolada e insular.
Ao longo da minha produção artística, determinados temas filosóficos sempre são recorrentes e com a pandemia da covid-19 não poderia ser diferente. Na década de 1990, eu criei uma série de trabalhos denominada Admirável Nova Idade Média. O termo Admirável é derivado de outra série de quadros pintados anteriormente por mim, influenciado pelo livro Admirável Mundo Novo do escritor Aldoux Huxley. A série foi criada depois de analisar as atitudes humanas da época e procurar entender melhor sua trajetória temporal por meio de estudos históricos. Percebi então um forte paralelo na história: a Idade Média. Todo o sentido de violência, insegurança; solidão; desespero social; riscos de epidemias; controle religioso; relações profissionais; deslocamento espacial; dependência do governo; injustiças sociais; angústias pessoais etc., que ocorriam naquela década tinham a meu ver, certa similaridade com o período histórico do passado. Assim, achei interessante provocar no espectador reflexões sobre o presente e o futuro usando as experiências do passado em uma abordagem análoga ao cíclico espaço tempo continuum, embora eu acredite que o tempo não deva ser representado exatamente por um círculo e sim mas por uma espiral (muito mais dinâmica, como é a vida), que tem algumas características aparentemente cíclicas, porque nasce em um ponto e cresce continuamente passando sempre pelos mesmos quadrantes que provocam certas similaridades, porém sem se repetir. Na época em que pintei os trabalhos dessa série, o risco de graves epidemias já era uma preocupação para algumas autoridades sanitárias mundiais, devido às facilidades com que os vírus e bactérias podem ser transmitidos. Isto tem gerado as mesmas preocupações que havia na Idade Média com as pestes, agora concretizadas com a atual pandemia da covid-19. Na verdade, o insulamento reforçou ainda mais a sensação de que ainda estamos revivendo esse paralelo histórico e, por isso, resolvi incorporar na exposição Tempo Insular o trabalho relativo à questão da saúde. Para tanto atualizei alguns elementos do trabalho denominado Admirável Nova Idade Média - Novo Corona 1.9 e incorporei novos elementos eletrônicos e imagéticos que se referem ao momento atual nesse início de século.
Outra situação que gerou trabalhos durante o período de isolamento foi a dicotomia entre os que acreditavam no risco provocado pela pandemia e os que negavam a seriedade da situação. Assim, surgiu a série de quadros denominada Está nos Olhos de Quem Vê - Olhar Pandêmico 1, 2 e 3 e o quadro Torre de Babel-2. Os três primeiros abordam a evolução da pandemia pelo mundo afora por meio da representação pictórica de olhos verdes, castanhos e azuis e da inclusão de elementos eletrônicos característicos da tecnologia atual que geram uma imagem estilizada do vírus. A torre de Babel aborda a polarização entre os negacionistas e os defensores da ciência a respeito da pandemia da covid-19.
A análise sobre esses contrapontos filosóficos me conduziu a uma reflexão sobre a condição humana ao longo das eras e culminou na criação da série de trabalhos denominada Evolução Pari passu em que quatro trabalhos representam a evolução do nosso domínio tecnológico (durante a Pré-história, Antiguidade, Idade Moderna e Idade Contemporânea), comparada com a movimentação dos continentes ao longo dos milhões de anos. O primeiro quadro representa o início do percurso humano sobre o planeta por meio de pegadas deixadas durante a fase coletora; pinturas rupestres que se referem à fase de caçador; a observação da natureza por meio da observação da forma geométrica elíptica e a concepção primal da existência do Sol e da Lua como parte de seu habitat. Os continentes estão unidos em um supercontinente conhecido como Pangeia. O segundo quadro representa a ocupação espacial do planeta; a invenção da escrita; o aprendizado da matemática; a associação de fenômenos da natureza com superstições e posterior entendimento lógico deles; o domínio de técnicas agrícolas, arquitetônicas e materiais; o início do domínio da eletrônica. Os continentes estão um pouco afastados entre si. O terceiro quadro representa o momento atual em que a humanidade se encontra sendo que o domínio tecnológico se correlaciona com o risco de hecatombes ambientais e atômicas. Os continentes são apresentados na posição atual. O quarto quadro representa um futuro distante em que os continentes estarão unidos novamente em um hipotético supercontinente denominado Novopangeia, Neo Pangeia, Pangeia Próxima ou ainda Pangeia Ùltima, sendo que a maioria dos registros da nossa civilização estará apagada, permanecendo poucas pistas da presença humana representadas pelas silhuetas dos pés e de uma mão.
Outro trabalho, denominado Evoluções Paralelas, também apresenta correlação com a evolução humana, porém agora comparada com a absorção de conhecimentos ao longo do tempo. Assim, a primeira fase é representada pela percepção dos elementos astronômicos, tais como, o Sol, a Lua e as estrelas, pela subsistência por meio da caça e coleta indo até o domínio do fogo. A segunda fase é representada pela invenção da roda, da escrita, da matemática e de esquemas teóricos explicativos do mundo e do universo. A terceira fase é representada pela maçã Newtoniana, sua equação matemática gravitacional e pela notória equação matemática de Einstein. A quarta fase se refere ao momento atual em que a humanidade se encontra sob o risco de autodestruição, representado pela imagem de um cogumelo atômico e por alguns elementos tecnológicos, sendo um deles, de forma circular, que faz correlação com a Atlântida, cidade mencionada por Platão, também vítima de uma hecatombe.
O período de insulamento também me fez pensar sobre a condição humana e refletir sobre a questão da nossa influência no planeta. Por isso, criei mais quatro trabalhos específicos sobre a situação ambiental e ecológica que está criando uma armadilha tecnológica para a humanidade. Assim, nasceram os trabalhos denominados Ratoeira Tecnológica 2, Pendular, e Clausura Tecnológica 1 e 2. Neles o planeta é colocado como refém das consequências ambientais criadas pelo ser humano sendo que a intenção desses trabalhos é instigar questões filosóficas sobre o risco de uma global hecatombe ecológica provocada pela humanidade ao fazer uso descontrolado da tecnologia criada após a revolução industrial.
Entretanto, o tempo de clausura não foi apenas um tempo de tristes reflexões, houve também momentos em que a natureza, por exemplo, gerou o ímpeto de representar algumas belas tardes coroadas pelo por do sol e, assim como na série Skyline, iniciada a partir de 2017 inspirada nas cores de Velazques e Turner e posteriormente nas geometrias Mondrianas, usei diversas placas de computadores, celulares, aparelhos eletrônicos etc. contrapostas a um fundo quadricular pintado com várias camadas de tinta espirrada, cujo efeito visual se refere ao por do sol. As placas representam os prédios das cidades e a geometria do céu está baseada no uso que faço de divisões geométricas que compõem os meus quadros e por isso resolvi denominar a série de Por do Sol Walteriano. Além disso, a divisão geométrica do céu faz referência direta aos pixels cromáticos de imagens eletrônicas quando ampliadas ao máximo. Assim sendo, os trabalhos dessa série apresentam uma correlação visual e metonímica entre as placas, a geometrização do céu e a interpretação dos observadores.
Outro trabalho denominado Espaço-tempo Virótico foi composto por várias placas eletrônicas antigas, recortadas por mim para se justaporem, que tiveram um por de sol urbano pintado sobre elas. Embora pintadas em dégradé, as faixas da atmosfera que escurecem ao se aproximar do espaço foram pintadas respeitando a forma geométrica das placas. Sobre essas placas antigas foram colocadas placas eletrônicas atuais recortadas em forma circular, sendo que na borda delas foram aplicados componentes eletrônicos que representam as espículas do novo coronavírus. A forma dessas placas em si é o coronavírus tomando conta do planeta, pois no interior delas, os continentes foram pintados em forma positiva e negativa. Ainda dentro das placas cortadas na forma circular foram aplicados números que nos remetem às horas do dia e insinuam o tempo em que vivemos, porém sem determinismo porque não existem os ponteiros desse relógio imaginário. Em resumo, a correlação entre o espaço e o tempo ocorre devido às sugestões imagéticas da forma virótica e da noção temporal induzida pelos números de um relógio invisível.
Durante a pandemia, assistimos a questão do racismo mundial ganhar visibilidade por meio de publicações nas mídias sociais e pela violência policial. Diante das manifestações populares denominadas Vidas Negras Importam que protestaram contra o racismo, algumas pessoas se sentiram incomodadas com essa frase e perguntaram: Por que dizer isso já que todas as vidas importam? Essa questão gerou o trabalho denominado “Vidas Negras Importam”, pois a meu ver, embora todas as vidas sejam importantes, as vidas de pessoas negras têm sido menosprezadas pelos sistemas sociais e econômicos em que as pessoas de pele escura sempre tiveram que lutar para ter os mesmos direitos das pessoas de pele clara. Só isso já bastaria pra dizer que vidas negras importam. Se não fosse assim, por que lutamos para conquistar liberdade ao viver sob ditaduras? Se não fosse assim, por que lutamos por direitos sociais justos? Se não fosse assim, por que as mulheres lutam por direitos iguais? Se não fosse assim, porque a comunidade LGBT luta por direitos iguais? Se não fosse assim, por que lutamos contra as injustiças que nos são impostas? Dessa forma, senti a necessidade de me expressar por meio de uma obra cujo título faz uso e reforça a importância da frase “Vidas Negras Importam”.
Falta mencionar dois trabalhos que criei durante a pandemia, cujos estudos já estavam prontos há algum tempo, mas eu não havia conseguido encontrar o tempo necessário para finalizá-los. Assim, nada como a paralização das tarefas prosaicas provocadas pelo insulamento para que eles pudessem se concretizar. Nesta série que denominei Dicotomias Humanas concretizei uma proposta pictórica e filosófica em que abordo o potencial humano para fazer coisas belas ou destrutivas dependendo do ímpeto filosófico, social, financeiro, religioso etc. Usei três exemplos recentes que me instigaram para pintar dois quadros que representam a capacidade de superação e de descaso humano. O primeiro trabalho apresenta o notório resgate dos mineiros chilenos. O segundo trabalho aborda as consequências dos dois desastres ecológicos provocados em Mariana e Brumadinho, no espaço de quatro anos, pelo desleixo de uma única empresa. O contraponto entre esses dois trabalhos está no fato de que, quando o ser humano quer, ele se dedica a algo construtivo e heroico, como foi no caso do Chile. Porém, o usual é o descaso, a falta de planejamento e de respeito para com a vida humana e animal, bem como com a flora e o ambiente ecológico, como ocorreu no caso das duas cidades mineiras. Em outras palavras, esses dois trabalhos ganharam sentido de atualidade porque apresentam exemplos diferentes da dicotomia humana quando penso que durante a pandemia convivemos com heroísmos absolutos, por um lado, e com descasos e desrespeito à vida, por outro. Ambos deixaram como herança momentos de júbilo e mazelas indeléveis.
Por fim, o suporte para todos os trabalhos incluídos nessa exposição variou da tradicional tela, passando pela madeira, objetos tridimensionais feitos com papel artesanal fabricado por mim e, até mesmo, placas de circuito impresso para computadores e aparelhos eletrônicos diversos.
Os materiais usados incluíram moedores de carne; placas de computador; chips eletrônicos integrados; mini botões eletrônicos interruptores táteis; mini lâmpadas led; capacitores; resistores; diversos componentes eletrônicos; lentes fotográficas e de scanner; placas de computador; placas de circuito impresso sem componentes integrados; hds abertos; bureta; toquinhos de madeira; lentes de óculos; cúpulas de vidro e acrílico; placas de acrílico; placas de circuito para pen drive; cabos paralelos; suporte para espelho; imagens digitalizadas etc. Algumas das placas foram serradas e esmerilhadas para obter diversas formas, inclusive figurativas, ou foram escolhidas devido à suas formas geométricas, mas todas tiveram suas cores estudadas para contrapor ao fundo pintado por mim complementando-o visualmente.
Ao todo, durante o período de isolamento, foram criadas 67 obras, sendo 63 delas apresentadas nessa exposição como resultado do meu insulamento que acredito ter deixado uma mensagem positiva e a sensação de um tempo bem aproveitado.
Walter Miranda - Dezembro/2022.
Walter Miranda é membro da ABCA Associação Brasileira de Críticos de Arte, Seção São Paulo.
É artista plástico desde 1976, com participação em mais de cem exposições no Brasil e no exterior, tendo recebido 21 prêmios em salões de arte. É professor de história da arte e técnicas artísticas desde 1986 e lecionou no Liceu de Artes e Ofícios. Membro de júri de salões de arte desde 1987 e ministra palestras e workshops em universidades, museus e instituições culturais desde 1983. Curador de várias exposições e coordenador da área de artes visuais do "Mapa Cultural Paulista" (2015/16) da Secretaria de Estado da Cultura e coordenador técnico do projeto "Oficina de Esculturas" na cidade de Rio Grande/RS (2013). Foi presidente da APAP Associação Profissional de Artistas Plásticos de São Paulo (2013 a 2018)
Website: https://www.fwmartes.com.br
Serviço:
A exposição Tempo Insular ocorreu entre os dias 3 de novembro e 3 de dezembro de 2022.
O artista participou de três encontros com o público além do Vernissage e Finissage.
Local: Mahavidya Cultural
Endereço: Rua Dona Leopoldina, 239 - Ipiranga - São Paulo - SP
Tags: Gaia, Pandemia, Covid, Terra, Sustentabilidade, Artes Plásticas, Exposição.
THE VITRUVIAN MAN - Reports of a cosmogonic idea (first part -1/2)
Abstract: A summary of the history of the drawing called “Vitruvian Man” made by Leonardo da Vinci. Inserted in the western and contemporary collective unconscious due to its visual symbology and market penetration, it is the result of an intellectual path derived from cosmogonic, philosophical, theological, religious, physiological and artistic concepts that have been changing over time, but which make part of the human essence in its eternal existentialist search for answers about its place in this physical and conceptual universe. In short, the drawing is more than just a mediatic image. This is the first of two parts.
Catalogue Insular Time
Insular Time
“Art exists because life is not enough”.
This sentence, written by the Brazilian poet Ferreira Gullar (1930-2016), has never been so current and significant. No matter the time, culture, religion, race, etc., the human spirit has always felt the need to express itself through artistic resources. This is one of the factors that differentiate us from other creations of Nature, the mother Gaia.
The time of isolation due to covid-19 served to many artists create works of art. It was no different with me. It was not enough to be protected, guarded and well accompanied. The internet was not enough to integrate me with distant friends, relatives, artists or to keep me up to date on events over the planet. Life was not enough and Art sprouted in many senses, in many ways, with many excuses, motives and themes. It was a time to paint because life was not enough!
It was a time of epidemic; a time of retreat; a time of numbness; a time of hopes; a time of despair; a time of discoveries; a time of empathy; a time of selfishness; a time of cowardice; a time of betrayals; a time of heroism; a time of troubles; a time of disappointments; a time of sorrows; a time of surprises; a time of flowers; a time of weeping; a time to laugh; a time to love; a time of hating; a time of exaltations; a time of abominations; a time of unions; a time of separations; a time of alienations; a time of aversions; a time of liberation; a time of salvation; a time of self-knowledge; a time of health; a time to die; a time to revive; a time of pain; a time of peace; a time to dibble; a time of reaping; a time of withdrawal; a time of integration; a time to reflect.
Anyway, it was a period of insulation and the works of this Insular Time are the result of my moments lived in a phase of life that, as postulated by Dr. Margareth Dalcolmo (1954) in her recent book, is “A Time Not To Forget”.
In this way, Art served me as an escape valve, for reflection, encounter and introspection, in several of the moments that I mentioned and that led me to the creation of some poignant and other poetic works; some critical others exultant; some exalting life others questioning the lack of empathy; some showing the beautiful side of the human being, others awakening a certain discredit in humanity. These moments of inflection led me according to each situation without offering any resistance by myself. The result is the works that make up this exhibition called Insular Time.
Although the biggest initial concern was with the elderly, there was also the concern of the global medical system to protect pregnant women and their children. This inspired me to create some works related to pregnancy and they became part of the recurring series called Exaltation to Gaia, that I have been developing since the 1990s. It correlates with planetary life by associating Mother Earth and motherhood human. The paintings in this series exalt the importance of the planet Earth, a universal cell that harbors immense biological diversity, but also expose its fragility represented by the balance of dancers who revere mother Gaia, the Greek goddess who represents Earth and Nature. At the same time, the works make an analogy with three important components of our planetary system: Earth, Moon and Sun as elements that generate life in the way we know it and the conditions for its maintenance.
Within that same impetus, came the work called Universal Metaphysical Chip, composed of electronic capacitors and mini led lamps on electronic circuit boards painted by me. In it, the planet Earth, painted in oil on canvas, is at the center as if it were a virtual electronic processor and radiates energy lines in the same way that the lines of a real electronic chip conduct energy to the other components of the electronic circuit. Thus, in philosophical terms, the center of the universe would be here, in the same way that each and every universal point would be the center as long as the observer is there.
From the risk of contamination by the disease to the unusual infection that plagued me even though I had been isolated for a year, the project for the installation Covidianis Plana Terrae emerged. It consists in the use of various pictorial elements and three-dimensional objects strategically distributed in a space, measuring 2 x 4m, which can be considered claustrophobic. The installation is composed as follows:
a) A painting pays homage to all healthcare workers who, for me, were true heroes when fighting on the front line against an invisible and dangerous enemy, a constant in this professional activity, especially during historic pandemics. This painting features a three-dimensional panel at the top (painted using the oil painting technique) showing a doctor from the Middle Ages and contemporary doctors and nurses wearing protective clothing and equipment. Next to them are two tracks with electronic elements taken from computers that, due to their similarity in shape, represent the coronavirus. In the center of the painting are the silhouettes of three dancers (painted with layers of splashed oil paint) representing humanity in moments of recognition and fear, as well as the schematic and figurative representation of the coronavirus, in addition to two electronic components removed from internal parts of computers also representing viruses. At the bottom of the frame is a PC monitor with images of the Spanish flu in 1918, the current pandemic and an image of a doctor from the Middle Ages. Beside the monitor, there are two representations of Yersinia pestis (the bacteria that causes the bubonic plague) and the Spanish flu virus. Also next to the monitor are two computer boards (sawn and ground by me) bearing the supposed date of the bubonic plague and the Spanish flu. Two electrical cables come out of the plates towards the images of the bacterium and the virus.
b) Inside the installation there is a work called Coffin Factory that contains an industrial meat grinder that grinds the planet and returns it ground in rows of mini coffins represented by electronic chips alongside hundreds of mini electronic buttons representing the fatal victims of the pandemic. Below, three-dimensional representations of the coronavirus float over small wooden coffins, two of which bear the inscription “me/you?”.
c) Four paintings called Corona Mundi were created using various scraps and electronic components, with the painted silhouette of the continents representing the virus spreading across the planet.
d) Two three-dimensional works represent, on the front and back, two faces of the planet, as if it were flat, and are opposed to a third work composed of a sphere painted with the continents in their actual position. The issue of the planet's sphericity or its supposed flatness generated these three works that were incorporated into the installation to represent the strong resurgence in world culture of the ancient theory of the flat Earth. My intention was to question these outdated cultural values, because in my view, this type of theoretical thinking based on medieval and archaic concepts brings with it several other retrograde concepts referring to science, religion, health, etc. and reinforce a denialism in the face of the critical insular time experienced by all of us. Below the sphere that represents the planet in its true form are 26 syringes without needles that allude to the lack of drugs to treat the deleterious effects of the pandemic.
e) Two paintings called Chloroquine, Our Daily Bread? 1 and 2 show the planet Earth surrounded by semi-spheres made of handmade paper, which I produced, and encrusted with transistors that represent the coronavirus. Some handmade paper pills, also made by me, represent chloroquine pills and hundreds of mini tactile electronic buttons represent a crowd of people who surround the pill in search of an alleged protection.
f) The installation is infested with various two- and three-dimensional representations of the coronavirus scattered throughout the environment both on the walls and floating in the air and causing the impression that we can be hit by the viruses.
g) Hundreds of hospital equipment are scattered along the walls and surround the observers who occupy the space, causing the feeling of an omnipresent hospital environment. In addition, to enter the installation space, spectators pass through a curtain also made with hospital equipment and which creates an atmosphere that is separated from the other spaces of the exhibition in an isolated and insular area.
h) I decided to add another meat grinder to the Covidianis Plana Terrae installation for the “Insular Time” exhibition, because I added several permanent magnet mini rotors whose appearance has a slight similarity to the two-dimensional image of the coronavirus. Their role in this work is to establish a correlation between human technology and molecular biology. This work was part of the series “Cartographies of Gaia” and represents the problem that contemporary society is creating with the excess of garbage that is not reused and thrown in all corners of the planet.
Throughout my artistic production, certain philosophical themes are always recurrent and with the covid-19 pandemic it could not be different. In the 1990s, I created a series of works called Brave New Middle Ages. The term “Brave” is derived from another series of paintings previously painted by me, influenced by the book “Brave New World” written by Aldoux Huxley. The series was created after analyzing human attitudes at that time and seeking to better understand its temporal trajectory through historical studies. I then realized a strong parallel in history: the Middle Ages. All sense of violence, insecurity; loneliness; social despair; risks of epidemics; religious control; professional relationships; spatial displacement; government dependency; social injustices; personal anxieties, etc., that occurred in that decade had, in my opinion, have a certain similarity with the historical period of the past. Thus, I found it interesting to provoke in the spectator reflections about the present and the future using the experiences of the past in an analogous approach to the cyclic space-time continuum, although I believe that time should not be represented exactly by a circle, but by a spiral (very more dynamic, as life is), which has some apparently cyclical characteristics, because it is born at a point and grows continuously, always passing through the same quadrants that provoke certain similarities, but without repeating itself. At the time I painted the works of this series, the risk of serious epidemics was already a concern for some world health authorities, due to the ease with which viruses and bacteria can be disseminated. This has generated the same risk that existed in the Middle Ages with the plagues, now materialized with the current covid-19 pandemic. In fact, the insulation reinforced me even more the feeling that we are still reliving this historical parallel and, therefore, I decided to incorporate the work related to the issue of health in the Insular Time exhibition. To do so, I updated some elements of the work called Brave New Middle Ages - New Corona 1.9 and incorporated new electronic and imagery elements that refer to the current moment at the beginning of this century.
Another situation that generated work during the isolation period was the dichotomy between those who believed in the risk caused by the pandemic and those who denied the seriousness of the situation. Thus, the series of paintings called It's in the Eyes of Those Who See - Pandemic View 1, 2 and 3 and the painting Tower of Babel -2 emerged. The first three address the evolution of the pandemic around the world through the pictorial representation of green, brown and blue eyes and the inclusion of electronic elements characteristic of current technology that generate a stylized image of the virus. The Tower of Babel -2 addresses the polarization between denialists and science advocates regarding the covid-19 pandemic.
The analysis of these philosophical counterpoints led me to a reflection on the human condition throughout the ages and culminated in the creation of the series of works called Evolution Pari Passu, in which four works represent the evolution of our technological domain (during Prehistory, Antiquity, Modern Age and Contemporary Age), compared with the movement of continents over millions of years. The first work represents the beginning of the human path on the planet through footprints left during the collecting phase; cave paintings that refer to the hunter phase; the observation of nature through the observation of the elliptical geometric shape and the primal conception of the existence of the Sun and the Moon as part of their habitat. The continents are united into a supercontinent known as Pangea. The second work represents the spatial occupation of the planet; the invention of writing; the learning of mathematics; the association of natural phenomena with superstitions and their subsequent logical understanding; mastering agricultural, architectural and material techniques; the beginning of the field of electronics. The continents are a little far apart. The third work represents the current moment in which humanity finds itself, with technological mastery being correlated with the risk of environmental and atomic hecatombs. The continents are displayed in the current position. The fourth work represents a distant future in which the continents will be united again in a hypothetical supercontinent called Novopangeia, Neo Pangea, Proximal Pangea or Last Pangea, and most of the records of our civilization will be erased, leaving few traces of the human presence represented by the silhouettes of feet and a hand.
Another work, called Parallel Evolutions, also presents a correlation with human evolution, but now compared with the absorption of knowledge over time. Thus, the first phase is represented by the perception of astronomical elements, such as the Sun, the Moon and the stars, by means of subsistence through hunting and gathering, reaching the domain of fire. The second phase is represented by the invention of the wheel, writing, mathematics and theoretical schemes that explain the world and the universe. The third phase is represented by the Newtonian apple, its gravitational mathematical equation and by Einstein's notorious mathematical equation. The fourth phase refers to the current moment in which humanity is at risk of self-destruction, represented by the image of an atomic mushroom and by some technological elements, one of which, in a circular shape, correlates with Atlantis, the aforementioned city by Plato and destroyed by a natural cataclysm.
The period of insulation also made me think about the human condition and reflect on the question of our influence on the planet. Therefore, I created four more specific works on the environmental and ecological situation that is creating a technological trap for humanity. Thus, the works called Technological Mousetrap 2, Pendular, and Technological Clausura 1 and 2 were born. In them, the planet is held hostage to the environmental consequences created by human beings, and the intention of these works is to instigate philosophical questions about the risk of an ecological calamity caused by humanity by making uncontrolled use of technology created after the industrial revolution.
However, the time of closure was not just a time of sad reflections, there were also moments when nature, for example, generated the impetus to represent some beautiful afternoons crowned by the sunset and, just like in the Skyline series, started from 2017 inspired by the colors of Velazques and Turner and later by Mondrian geometries, I used several boards from computers, cell phones, electronic devices, etc. against a checkered background painted with several layers of splashed paint, whose visual effect refers to the sunset. The plates represent the buildings of the cities and the geometry of the sky is based on the use I make of geometric divisions that make up my paintings and that is why I decided to name the series Walterian Sunset. Furthermore, the geometric division of the sky makes direct reference to the chromatic pixels of electronic images when magnified to the maximum. Therefore, the works in this series present a visual and metonymic correlation between the plates, the geometrization of the sky and the interpretation of the observers.
Another work called Virotic Space-Time was composed of several old electronic boards, cut by me to juxtapose each other, which had an urban sunset painted on them. Although painted in gradient, the atmosphere bands that darken by the approaching to the space were painted respecting the geometric shape of the plates. On these old plates, current electronic plates cut in a circular shape were placed and on the edge of them electronic components were applied that represent the spicules of the new coronavirus. Thus, these round plates visually correlate with the coronavirus taking over the planet, as inside them, the continents were painted in a positive and negative way. Even inside the plates cut in a circular shape, numbers were applied that refer us to the hours of the day and imply the time in which we live, but without determinism because there are no hands of this imaginary clock. In summary, the correlation between space and time occurs due to the imagery suggestions of the viral form and the notion of time induced by the numbers of an invisible clock.
During the pandemic, we watched the issue of global racism gain visibility through publications in the press and on social media about police violence. Faced with the popular demonstrations called “Black Lives Matter” that protested against racism, some people felt uncomfortable with this phrase and asked: Why say that since all lives matter? This question led to the work called Black Lives Matter, because in my view, although all lives are important, the lives of black people have been neglected by the social and economic systems in which dark-skinned people have always had to fight to have the same rights of fair-skinned people. That alone would be enough to say that black lives matter. If not, why do we struggle to gain freedom while living under dictatorships? If it weren't like that, why do we fight for fair social rights? If not, why would women fight for equal rights? If not, why does the LGBT community fight for equal rights? If it weren't like that, why do we fight against the injustices that are imposed on us? In this way, I felt the need to express myself through a work whose title uses and reinforces the importance of the phrase “Black Lives Matter”.
It remains to mention two works that I created during the pandemic, whose studies had been ready for some time, but I had not found the necessary time to finish them. Thus, there is nothing like paralyzing the prosaic tasks caused by insulation in order that they could be concluded. In this series that I called Human Dichotomies, I implemented a pictorial and philosophical proposal in which I approach the human potential to do beautiful or destructive things depending on the philosophical, social, financial, religious impetus, etc. I used three recent examples that instigated me to paint two pictures that represent the capacity for overcoming and human indifference. The first work presents the notorious rescue of Chilean miners. The second work deals with the consequences of the two ecological disasters caused in Mariana and Brumadinho, in the space of four years, by the negligence of a single company. The counterpoint between these two works lies in the fact that, when human beings want to, they dedicate themselves to something constructive and heroic, as was the case in Chile. However, what is usual is neglect, lack of planning and respect for human, animal and plant life and for the ecological environment, as occurred in the case of the two cities in Minas Gerais, Brazil. In other words, these two works gained a sense of relevance because they present different examples of the human dichotomy when I think that during the pandemic we live with absolute heroism, on the one hand, and with negligence and disrespect for life, on the other. Both left behind moments of joy and indelible wounds.
Finally, the support for all the works included in this exhibition varied from the traditional canvas, passing through wood, three-dimensional objects made with handmade paper manufactured by me and even printed circuit boards for computers and various electronic devices.
Materials used included meat grinders; computer boards; integrated electronic chips; electronic mini buttons tactile switches; mini led lamps; capacitors; resistors; various electronic components; photographic and scanner lenses; computer boards; printed circuit boards without integrated components; open hds; burette; wooden stumps; eyeglass lenses; glass and acrylic domes; acrylic plates; circuit boards for flash drives; parallel cables; mirror support; scanned images etc. Some of the boards were sawn and ground by me to obtain different shapes, including figurative ones, or were chosen due to their geometric shapes, but all of them had their colors studied to contrast with the background painted by me, visually complementing it.
As for artistic technique, I tried to create works that value design, shape, composition and color, however, transmitting my personal expression due to the combination of these technical concepts with the use of technological elements alien to the universe of traditional painting. Thus, I used oil painting to create textures and peculiar visual effects through color overlays in layers of splashed or wrinkled paint and expressionist or abstract brushstrokes that were applied both to the background and to the silhouettes of figures in high relief that, drawn in realistic style on cardboard, were cut and pasted in the works. The incorporation of two-dimensional and three-dimensional elements generated pictorial and visual geometric planes, as each of them is at a different distance from the viewer. This gave me the challenge of creating relationships and correspondences between the elements of each painting to obtain a plastic expression in which the structure of the composition worked in favor of the concept I wanted to express. The conjunction of human silhouettes with pictorial elements, in addition to elements produced by technology and nature, invite the spectator to walk with his eyes, and even with his touch, the surface of each work, instigating philosophical and pragmatic evaluations on the issue of the environment and man on the planet.
Thus, by using the traditional technique of oil painting with the incorporation of new material elements, I tried to focus on the use of new artistic and conceptual procedures referring to the technique and objectives of Contemporary Art.
I believe that these factors generate symbolic affinities that mutually value each other in works that try to rescue the “pleasure of reading a work of art”. I hope that, with each new observation, my work can reveal new details so that the spectator can make several readings of my Art.
In all, during the period of isolation, 67 works were created, 63 of which were presented in this exhibition as a result of my isolation, which I believe left a positive message and the feeling of a well spent time.
Walter Miranda - December/2022
From the series “It's in the eyes of the beholder” - Pandemic look - 1, 2 and 3
Technique: Oil on wood + mini electronic tactile buttons and mini led lamps.
Diameter: 67 cm
Year: 2021
The series of three works called “It’s in the eyes of the beholder” approaches the evolution of the Covid-19 pandemic around the world through the representation of green, brown and blue eyes and the inclusion of characteristic electronic elements of current technology.
Evolution Pari Passu
A personal analysis about many philosophical questions led me to a reflection on the human condition throughout the ages and culminated in the creation of the series of works called Evolution Pari Passu, in which four works represent the evolution of our technological domain (during Prehistory, Antiquity, Modern Age and Contemporary Age), compared with the movement of continents over millions of years.
The first work represents the beginning of the human path on the planet through footprints left during the collecting phase; cave paintings that refer to the hunter phase; the observation of nature through the observation of the elliptical geometric shape and the primal conception of the existence of the Sun and the Moon as part of their habitat. The continents are united into a supercontinent known as Pangea.
The second work represents the spatial occupation of the planet; the invention of writing; the learning of mathematics; the association of natural phenomena with superstitions and their subsequent logical understanding; mastering agricultural, architectural and material techniques; the beginning of the field of electronics. The continents are a little far apart.
The third work represents the current moment in which humanity finds itself, with technological mastery being correlated with the risk of environmental and atomic hecatombs. The continents are displayed in the current position.
The fourth work represents a distant future in which the continents will be united again in a hypothetical supercontinent called Novopangeia, Neo Pangea, Proximal Pangea or Last Pangea, and most of the records of our civilization will be erased, leaving few traces of the human presence represented by the silhouettes of feet and a hand.
The Earth is Spherical
The series “The Earth is Spherical” is made up of three works that were part of the installation Covidianis Plana Terrae, with two three-dimensional works representing, on the front and back, two faces of the planet, as if it were flat, and opposed to a third work composited by a sphere painted with the continents in their real position.
The issue of the planet's sphericity or its supposed flatness generated these three works that were incorporated into the installation to represent the strong resurgence in world culture of the ancient theory of the flat Earth. My intention was to question these outdated cultural values, because in my view, this type of theoretical thinking based on medieval and archaic concepts brings with it several other retrograde concepts referring to science, religion, health, etc. and reinforced a strong scientific denialism during the period of the covid-19 pandemic.
CHRISTINE DE PIZAN – THE FIRST FEMINIST WRITER
CRISTINE DE PIZAN – A PRIMEIRA ESCRITORA FEMINISTA
Cristine de Pizan é a primeira escritora e poeta e que viveu comercialmente de seu trabalho, influenciou gerações de filósofos e plantou a semente da luta contra o machismo nas esferas intelectuais europeias.
Link: https://abca.art.br/wp-content/uploads/2023/11/Arte-Critica-ed-59-Walter-Miranda.pdf
Walter Miranda – ABCA/São Paulo
Em minhas pesquisas sobre a atuação das mulheres ao longo da história do desenvolvimento do pensamento humano, encontrei diversas mulheres fantásticas e excepcionais. Já escrevi sobre algumas delas desde a Antiguidade até a Idade Média[1]. Entretanto, uma se destacou por ser uma escritora que viveu do fruto de seu trabalho e que deixava claro que as mulheres são tão capazes e inteligentes quanto os homens. Italiana, da cidade de Veneza, Cristine nasceu em 1364. Seu pai, Tommaso di Bevenuto da Pizzano, lecionava na Universidade de Bolonha quando foi convidado, em 1369, para ser astrólogo e médico do rei francês Carlos V. Assim, ela mudou com a família para Paris e passou o resto de sua vida na França. Sua formação intelectual foi obtida por meio dos ensinamentos de seu pai, pelo compartilhamento da educação humanista dada às princesas e pelo acesso a toda a biblioteca real composta por mais de 900 exemplares.
Com quinze anos de idade, casou-se com Etienne de Castel, um nobre e conselheiro do rei francês, que também incentivava Cristine a aprofundar seus estudos. Foi um casamento feliz. Com a morte de Carlos V em 1380, Tommaso perdeu prestigio na corte e viu seus salários reduzidos drasticamente, adoecendo logo em seguida e vindo a falecer em 1387. Em 1390, Etienne também faleceu acometido por uma epidemia enquanto acompanhava a comitiva real na cidade de Beauvais. Cristine ficou afastada da corte real, sozinha e responsável por duas filhas, um filho, sua mãe e uma sobrinha. Não bastasse essa mudança social, ela precisou enfrentar batalhas jurídicas para manter alguns bens herdados e reaver outros que lhe foram tomados por credores de seu marido. Contudo, naquela época, as viúvas pertencentes à aristocracia tinham certa liberdade que Cristine usou para decidir não casar novamente, aprofundar seus estudos e, a fim de sustentar sua família por conta própria, resolveu aplicar seus conhecimentos para escrever poemas e vendê-los para as damas da corte com as quais ainda mantinha contato. Aos poucos tornou-se conhecida como poeta virtuosa devido à qualidade literária de seus poemas[2].
Com o passar dos anos, ela ganhou tanto respeito e notoriedade que, além de escrever, passou a editar e publicar seus livros, bem como os de outros autores. Ela coordenava a tarefa dos copistas dos textos, orientava os ilustradores, controlava o número de cópias de cada manuscrito e a qualidade final deles. Como estratégia de divulgação, ela preparava pequenos resumos de prováveis obras ou fazia compilações de seus textos para presentear membros da nobreza e conseguir novas encomendas, fatores que por fim a tornaram famosa e rica ainda em vida. Como marca pessoal, assinava suas publicações com um anagrama das primeiras letras de Cristo em grego (Xpine) e Pizan, uma maneira de afrancesar seu nome e ao mesmo tempo homenagear seu pai.
Figura 1 – Assinatura de Cristine em carta para a rainha da França - British Library MS Harley 4431 - Imagem em domínio público.
Em 1394, por sugestão das noras do rei francês, Cristine escreveu a obra intitulada Le Le Livre des Cent Ballades (O Livro das Cem Baladas) que obteve ótima aceitação. Nele, ela aborda poeticamente suas experiências cotidianas e a depressão que sofreu após as mortes do pai e do marido. Em um de seus textos autobiográficos, Le Livre de l’Advision Cristine (O Livro de Conselhos de Cristine), ela relata que a deusa Philosophiae lhe consolou sobre suas vicissitudes explicando que se ela não tivesse ficado viúva, certamente continuaria apenas cuidando dos afazeres domésticos.
Figura 2 - Cristine escrevendo o Livro das cem Baladas - British Library MS Harley 4431 - Imagem em domínio público.
Na obra Le Livre de Mutation de Fortune (O Livro da Transformação da Fortuna), ela afirmou que após as mortes do pai e do marido, sua fortuna foi ter sido educada desde pequena, fato que a transformou socialmente no “equivalente a um homem”, pois ela passou a ser respeitada exercendo atividades que antes eram exclusivamente masculinas[3]. Com o passar do tempo, ela ganhou respeito social e passou a escrever textos de cunho filosófico, moral, educacional, político, militar e trivial. Sua maior preocupação era com a condição social da mulher em uma sociedade misógina. Ela afirmava que as mães tinham grande importância na educação moral e religiosa de seus filhos e, por isso, exerciam grande influência no meio social. Em 1399, ela publicou em versos a obra L’Epistre au dieu d’Amours (A Carta ao deus do Amor) em que Cupido critica o preconceito social e as maledicências contra as mulheres, um tema que Cristine abordará com recorrência e pertinácia em seus textos.
Por volta de 1400, Jean de Montreuil (1354-1418), teólogo, filósofo, chefe de estado e tradutor francês, divulgou um texto elogiando o Le Roman de la Rose (O Romance da Rosa) cuja primeira parte foi escrita por volta de 1225 por Guillaume de Lorris (c. 1200-1240) e a segunda completada entre 1265 e 1278 por Jean Clopinel de Meung (1240-c. 1305). A parte de Lorris narra de forma cortês o sonho de um poeta que observa uma flor em seu jardim, alegoricamente a vê como uma mulher e a transforma em um objeto de desejo; já a parte de Meung transforma a mulher em um mero objeto sexual com argumentos típicos do comportamento masculino e seu desprezo pelo universo feminino. O manuscrito, escrito em versos, obteve grande sucesso entre os intelectuais da época e foi caracterizado como filosófico por alguns deles devido à sua forma literária elegante e referências a autores clássicos tais como Platão, Aristóteles, Teofrasto, Cícero, Horácio, Boécio, Alain de Lille, Ovídio, Alhazen etc.[4]
Figura 3 - Roman de la Rose Bibliothèque nationale de France, ms 25526 - Imagem em domínio público.
Sentindo-se ofendida e incomodada, em fevereiro de 1401, Cristine enviou uma carta a Isabel da Baviera, rainha da França, reclamando do teor do romance. Posteriormente, ela escreveu uma carta a Jean, também aberta à comunidade literária de Paris, criticando o aspecto misógino e obceno do Romance da Rosa. Como sua carta era aberta a todos, outros intelectuais da cidade resolveram opinar a respeito da controvérsia criada por Cristine e ela passou a trocar cartas também com os irmãos Gontier Col (c. 1350-1418) e Pierre Col (?-1418), ambos intelectuais, teólogos, diplomatas e nobres franceses. Nas cartas, Cristine reconheceu a qualidade poética do romance, de difícil leitura porque faz uso de referências literárias e filosóficas complexas, mas afirmou que uma obra séria precisa redundar no bem, pois a seriedade de um trabalho literário depende do impacto produzido na mente de seus leitores. Portanto, para ela, o Romance da Rosa se caracteriza por ser uma obra ociosa. A competência de Cristine em argumentar com equidade contra os irmãos Col e Jean de Montreuil, gerou uma rusga intelectual a ponto de Gontier tentar forçá-la a confessar seu erro para que ele lhe perdoasse e lhe desse uma penitência leve[5]. Cristine não se intimidou e preparou um dossiê contendo cópias da troca de correspondência com seus oponentes. Ela iniciou o dossiê com uma carta intitulada Escript la Veille de la Chandeleur1401 (Escrito na Véspera da Candelária 1401) explicando seus motivos para se envolver naquela polêmica e dedicando o dossiê à rainha francesa. A data do dossiê é 1º de fevereiro de 1401, véspera da comemoração de Nossa Senhora da Candelária e foi feito em duas vias, uma enviada à rainha e uma cópia enviada ao reitor de Paris, Guillaume de Tignonville, que já havia condenado publicamente o Romance.
Figura 4 - Cristine entregando dossiê à rainha da França. British Library MS Harley 4431 - Imagem em domínio público.
Empenhada em sua epopeia filosófica e literária, Cristine continuou a expressar suas opiniões de forma erudita e sapiente, enfatizando com vivacidade a desigual condição da mulher na sociedade. Sua participação nesse debate filosófico lhe proporcionou grande respeito entre os intelectuais contemporâneos a ponto de ter o apoio indireto do respeitadíssimo Jean Charlier de Gerson (1363-1429), teólogo reformador apelidado de Doctor Christianissimus, educador, escritor, poeta e chanceler da Universidade de Paris[6]; de Guillaume de Tignonville (?-1414), conselheiro do rei Carlos VI, reitor de Paris e primeiro presidente do parlamento de Paris[7]; e de Jean II le Maingre (1366-1421), mais conhecido como Marechal Boucicaut[8], um militar francês que em 1399 fundou a ordem da cavalaria denominada L'Ordre de la Dame Blanche à l'écu Vert (A Ordem da Dama Branca com o Escudo Verde) em defesa das mulheres que sofriam injustiças sociais e trabalhavam para homens poderosos que, por sua força e poder usurpavam suas honras, bens e terras herdadas. A Ordem também protegia mulheres cujos maridos estavam ausentes ou mortos devido a guerras ou outras razões.
A troca de cartas entre Jean de Montreuil e os irmãos Gontier e Pierre Col, de um lado, e Cristine e Jean de Gerson, de outro, ficou caracterizado como o primeiro debate filosófico público e, a partir de então, por toda a Europa nas universidades e nos meios aristocráticos, surgiu o debate filosófico conhecido como La Querelle des Femmes (A Querela das Mulheres) em que alguns homens e mulheres contestavam a misoginia e o lugar da mulher na sociedade. Cristine afirmava que as mulheres não ocupavam o mesmo espaço profissional e intelectual masculino porque não tinham o mesmo acesso ao estudo e ao conhecimento que os homens tinham. Para ela, a superioridade ou inferioridade entre homens e mulheres não residia no sexo, mas nos defeitos e virtudes de cada um de acordo com sua formação pessoal e social. Provavelmente, o debate se encerrou devido às questões políticas e bélicas enfrentadas pela França na época.
Em 1404, sob encomenda do Duque Filipe da Borgonha, ela publicou a obra biográfica Le Livre des Faits et Bons Moeurs du Sage Roi Charles V (O Livro dos Fatos e Boas Maneiras do Sábio Rei Carlos V) contando a história da vida do rei. Nele ela usou a sabedoria de Carlos V para criticar a degradação do reino durante a guerra civil francesa (1407-1435) entre os Armagnacs e os Borgonheses e usou o exemplo do rei para as futuras gerações da corte e de nobres[9].
Poucos anos após a querela, Cristine tomou conhecimento das duas partes do texto traduzido e publicado, por volta de 1390, por Jean le Févre de Lesson (c. 1320-1380) intitulado Les Lamentations de Matheolus et le Livre de Leesce (As Lamentações de Matheolus e o Livro da Alegria)[10]. A primeira parte se refere ao texto Liber Lamentationum Matheoluli (Livro das Lamentações de Matheolus) escrito em latim por volta de 1295 pelo clérigo e poeta francês Mathieu de Boulogne (c. 1260 - c. 1320). Mathieu, mais conhecido como Matheolus, escreveu em versos muito bem elaborados, que sofreu e foi penalizado por ter sido casado simultaneamente com duas mulheres e, em função da experiência adquirida afirmou “qualquer homem que se case será acometido por um arrependimento irremediável”. Em seus versos ele abominou o casamento e usou maus exemplos históricos de mulheres para recriminá-las. Também usou frases e pensamentos de autores antigos e clássicos para exprimir opiniões totalmente pejorativas sobre as mulheres e afirmar que elas são monstros defeituosos e maldosos. Além disso, escreveu que de acordo com os ensinamentos de Deus, o purgatório por meio do casamento seria bom para os homens e que elas seriam apenas úteis para os prazeres carnais devido à habilidade que têm para o prazer sexual. Consciente do radicalismo de Matheolus, Jean le Févre tentou amenizá-lo ao escrever, também em versos, a segunda parte do livro, denominada Le Livre de Leesce, onde pediu desculpas às mulheres “que se sentissem ofendidas” com a publicação das Lamentações e usou bons exemplos de mulheres para escrever seus versos e acusar Matheolus de caluniador. Entretanto, ao contrapor os versos de Matheolus com versos brandos e comparar as Lamentações com o Romance da Rosa Jean deixa no ar um sentido dúbio e satírico em seus versos, já que os versos do Romance sugerem claramente que a mulher foi feita para os prazeres sexuais.
Figura 5 - Gravura do manuscrito das Lamentações de Matheolus - Imagem em domínio público.
Ao ler as Lamentações, Cristine sentiu-se ultrajada a ponto de, em um primeiro momento, sentir nojo do seu próprio sexo como se ela fosse uma aberração da natureza criada por Deus, um monstro como proposto por Matheolus e um ser defeituoso como mencionado por vários filósofos e poetas ao longo da história. Ela se perguntou como Deus criou um ser tão abjeto e porquê Ele a havia feito nascer mulher. Passada essa primeira fase, Cristine ficou revoltada e resolveu responder aos insultos criando sua obra mais famosa Le Livre de la Cité des Dames (O Livro da Cidade das Damas). Acostumada a escrever envolvendo seus leitores em suas narrativas, ela explicou que certo dia, estando em seu ateliê, foi atingida por um raio de luz que projetava a imagem de três damas coroadas. Ao demonstrar grande susto com a situação, uma das damas disse para ela se acalmar, pois elas estavam lá para consolá-la e tirá-la daquele desconforto provocado pelos preconceitos de outrem que haviam tomado conta de seus pensamentos a ponto de fazê-la questionar a si mesma e o valor de todas as mulheres. Por isso, elas anunciaram que Cristine deveria edificar uma cidade que protegeria todas as mulheres. Da mesma forma que Troia fora erigida com a ajuda de Minerva, Apolo e Netuno, essa cidade seria construída com a ajuda das três damas e jamais seria destruída.[11] Dessa forma, em 1405, Cristine publicou a obra Le Livre de la Cité des Dames (O Livro da Cidade das Damas) que se tornou extremamente conhecida nas décadas seguintes a ponto de influenciar muitos defensores de uma sociedade mais justa e equânime entre homens e mulheres. O livro baseia-se em exemplos femininos literários, filosóficos e religiosos para demonstrar que a mulher sempre participou de forma fundamental e positiva para o desenvolvimento civilizatório da humanidade. Escrito na forma de três capítulos, inspirados na mensagem das três damas, a Razão, a Retidão e a Justiça, ela imaginou uma cidade onde as mulheres seriam protegidas da violência e misoginia masculina. A dama da Razão ajuda Cristine a construir as muralhas da cidade ao usar sua sabedoria para fortalecer os princípios de igualdade em que ela sempre acreditou. A dama da Retidão ajuda Cristine a construir as casas e edifícios da cidade e para depois enchê-las de senhoras de grande renome na história. Por fim, a dama da Justiça ajuda Cristine a dar os retoques finais à cidade trazendo uma rainha para governá-la, a Virgem Maria. Cada exemplo feminino e histórico usado por ela representa um elemento estrutural que associado aos demais formam uma fortaleza inatacável, pois representam os grandes feitos e sacrifícios de mulheres que beneficiaram a humanidade ao longo do tempo e que podem ser usados pelas mulheres para mostrar que são tão importantes quanto os homens e para contrapor os preconceitos misóginos usados por eles por meio de mentiras, calúnias e palavras sutis. Cristine também usa exemplos para mostrar que as mulheres têm o direito de uma educação formal para que possam decidir o destino secular ou religioso de suas vidas. Para escrever o livro, Cristine usou todo seu conhecimento sobre os textos clássicos e históricos, bem como parte da obra de Giovanni Bocaccio (1313-1375) De Claris Mullieribus (Mulheres Famosas), uma coleção de 106 biografias sobre mulheres históricas e mitológicas.
Figura 6- Cristine recebendo as três Damas e construindo a muralha da cidade. Imagem em direito público.
O período de vida de Cristine foi um período perturbado para a França que estava embrenhada na guerra dos cem anos e na guerra civil. Assim, após a publicação da Cidade das Damas, ela se viu com poucas encomendas da corte e dos nobres envolvidos em batalhas e intrigas políticas. Por isso, passou a dedicar seus esforços para produzir obras que agradassem as damas da nobreza. Nesse sentido publicou, também em 1405, a obra Le Livre des Trois Vertus (O Livro das Três Virtudes) destinado às mulheres de todas as camadas sociais, fosse da corte, da nobreza ou da pobreza. Para evitar parecer arrogante, seguiu a estratégia de usar as três Damas do livro anterior como referência. Trata-se de um tratado, ou manual de comportamento social e pessoal para as mulheres segundo os aconselhamentos das três Damas. Nele, ela aconselha a todas amar a Deus e depois ao marido. Ensina como criar e educar os filhos, como participar das decisões do marido, como administrar a casa na ausência dele, como se vestir e se comportar em público e, por fim, afirma que tanto homens como mulheres devem seguir as sete virtudes apresentadas pelas três damas sendo temperantes, humildes, obedientes, pacientes, diligentes, castos e benevolentes[12]. Apesar do livro nos parecer, hoje em dia, um manual de subserviência, é preciso observar que se tratava de um manual que pretendia libertar as mulheres da submissão e gerar um sentido de autoestima ao dar a elas ferramentas para se valorizarem por meio da educação e da ocupação de um espaço que não lhes era permitido em um período em que o imperativo era a misoginia.
Em 1418, como consequência do massacre de Paris devido à guerra civil, Cristine se internou em um convento e lá permaneceu até sua morte por volta de 1430. Ao todo produziu mais de 40 obras e sua última publicação foi Le Ditié[13] de Jehanne d’Arc (Histórias sobre Joana d’Arc)[14], um poema escrito em 1429 sobre as histórias que eram ditas sobre a liderança de Joana d’Arc (1412-1431) na reconquista de territórios franceses em posse dos ingleses durante a guerra dos cem anos.
A maioria das obras de Cristine ainda são preservadas em manuscritos autógrafos e foram escritas em poesia porque esta era a forma literária que mais agradava a nobreza da época, amante de uma literatura cortês em que as vicissitudes da vida são contadas em verso e prosa. Seu último poema sobre Joana d’Arc celebra a chegada de uma nova era e exalta a coragem e o valor das mulheres.
Sua obra e vida tem sido motivo de centenas de estudos acadêmicos e incontáveis pesquisas ao longo dos últimos seis séculos, fato que comprova sua importância para o desenvolvimento do pensamento e espírito humano. Entretanto, é óbvio que apesar dos avanços alcançados pelas mulheres, a luta por igualdade ainda não chegou ao fim, mas eu percebo nitidamente que, nos dias de hoje, a coragem e inteligência de Cristine brotam nos seios de cada Cristina, Maria, Helena, Daniela, Flávia, Regina, Fátima, Clara, Fernanda, Isabel e tantos outros antropônimos. Eu, por exemplo, convivo com uma delas uma delas e sou enriquecido cotidianamente por ter sua companhia.
[1] Jornal Arte & Crítica nº 53, março 2020: http://abca.art.br/httpdocs/mulheres-nas-artes-plasticas-atraves-dos-tempos-antiguidade-walter-miranda/; Khronos, Revista de História da Ciência nº 10, dezembro 2020 - CHC/USP: http://www.revistas.usp.br/khronos/article/view/176966/167029.
[2] PIZAN, Cristine de. La Ciudad de las Damas. Traducción de Marie-José Lemarchand. pp. 11-32. Ediciones Siruela. Madrid. 2001; PIZAN, Christine de. The book of the City of Ladies. Translated by Rosalind Beown-Grant. pp. xvi-xl. Penguin Books. London. 1999; SANDE, Maria Mercedes Gonzales. Cristina da Pizzano y el Poder de su Escritura.Revista de la Sociedad Española de Italianistas, nº 9, 2013, pp. 211-228. Ediciones Universidad de Salamanca; SCHMIDT, Ana Rieger. Cristine de Pizan. Blogs de Ciência da Unicamp: Mulheres na Filosofia, V. 6 N. 3, 2020, pp. 1-15. Disponível em: https://www.blogs.unicamp.br/mulheresnafilosofia/cristina-de-pizan/.
[3] SCHMIDT, Ana Rieger. Tradução para o português: O Livro da Transformação de Fortuna, de Christine de Pizan. Revista PHILIA / Filosofia, Literatura e Arte, Porto Alegre, Vol. 2, nº 2, pp. 570-600, nov/2020. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/philia/article/view/103935/59099.
[4] ALLEN, Prudence Sister, The Concept of Woman, The Early Humanist Reformation. Vol. II, p.188, William B. Eerdmans Publishing Company, Cambridge, U.K. 2002; GREENE, Virgine. Le débat sur le Roman de la Rose. Cahiers de recherches médievales et humanistes, 14 spécial, pp. 297-311. Classiques Garnier Éditeur, 2007; SANTOS, Anna Beatriz Esser dos. A querela do Roman de la Rose e a identidade feminina: o ‘ser mulher’ em Christine de Pizan. Anais do XVII Encontro de Historia da Associação Nacional dos Professores Universitários de História Anpuh-Rio, 2016; WUENSCH, Ana Míriam. O quê Christine de Pizan nos faz pensar. Graphos Vol. 15, nº 1 – Revista da Pós-Graduação em Letras da UFPB, pp. 1-12. Disponível em: https://periodicos.ufpb.br/index.php/graphos/article/view/16315/9344; WARD, CHARLES Frederick. The Epistles on the Romance of the Rose and Other Documents in the Debate. A dissertation for the Degree of Doctor of Philosophy. The University of Chicago, 1911.
[5] BEUN-GOUANVIC, Claire Le. Le débat sur le Roman de la Rose ou lalectrice face aux lettrés. Lectrices d’Ancien Régime, pp. 203-23. Presses Universitaires de Rennes, 2003 ; WARD. Op. Cit. p 8.
[6] MASSON, Anne-louise. Jean Gerson, Sa vie, son temps, ses oeuvres. pp. 168-76. Librairie Generale Catholique et Classique, Lyon, France. 1894.
[7] WARD, Charles Frederick. Op. Cit. p. 6.
[8] WARD, OP. CIT. p. 6.
[9] SANDE. Op. Cit. pp. 216-218; WUENSCH. Op. Cit. P. 9.
[10] FÉVRE, Jean le. Les Lamentations de Matheolus et le Livre de Leesce. Vol 1, 1892 e Vol. 2, 1905, ambos editados por A. G. Van Hamel e publicados por Emile Bouillon, Editeur. Paris; KOSINSKI, Renate Blumenfeld. Jean Le Févre’s Livre de Leesce: Praise or Blame of Women?. Speculum, vol. 69, nº 3 (jul. 1994), pp. 705-725; ALLEN. Op. Cit. pp. 200-204.
[11] PIZAN. Op. Cit. Traducción de Lemarchand, pp. 66-70; PIZAN. Translated by Grant. pp. 7-12.
[12] LEITE, Lucimara. Christine de Pizan: Uma resistência na aprendizagem da moral de resignação. Tese de doutorado pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo. 217 páginas. 2008. Disponível em: https://teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8146/tde-14042009-152149/pt-br.php.
[13] MIRANDA, Walter. Em tradução livre, ditié pode ser entendido como o “que se diz de alguém”, ou mesmo interpretado como exemplo ou modelo a ser seguido.
[14] RIBEIRO Nathalya Bezerra. Traduzindo Le ditié de Jeanne d’Arc de Cristine de Pizan: Uma Ponte para o Resgate de Obras de Autoria Feminina na Baixa Idade Média. Dissertação para o curso de mestrado da Universidade da Paraíba. João Pessoa, 2016. Disponível em: https://repositorio.ufpb.br/jspui/handle/tede/9306?locale=pt_BR;
SOME HISTORICAL RECORDS ABOUT WOMEN IN THE HISTORY OF THE VISUAL ARTS
ALGUNS REGISTROS HISTÓRICOS SOBRE AS MULHERES NA HISTÓRIA DAS ARTES PLÁSTICAS
É incontestável para qualquer raciocínio desprendido de preconceito concluir que sempre houve mulheres cultural e socialmente importantes, profissionalmente competentes, além de intrépidas e heroicas, assim como seus pares, os homens. Mas ainda falta muito para atingir a equanimidade.
https://abca.art.br/wp-content/uploads/2024/01/Arte-Critica-ed-57-Walter-Miranda.pdf
Walter Miranda – ABCA/São Paulo
*Walter Miranda é membro da ABCA, artista plástico, professor de história da arte e técnicas artísticas (www.fwmartes.com.br).
Seja nas artes, na política, na guerra, nas atividades culturais, religiosas, sociais, familiares etc., as mulheres estiveram presentes o tempo todo, mas são parcos os registros trazendo à luz seus nomes, suas características pessoais e detalhes de suas vidas profissionais.
Ao longo dos meus estudos e pesquisas, sempre ficou evidente a escassa frequência da mulher nos registros literários antigos sobre artes plásticas. Algumas vezes os textos biográficos sobre elas possuem características que podem ser consideradas educativas, mas também é possível encontrar textos que exaltam a qualidade de seus feitos.
A existência desses textos comprovam o respeito e admiração conquistados pela posição de destaque das mulheres mencionadas. Dessa forma, é possível usar um senso crítico contextualizado dentro das características históricas, culturais, regionais e temporais, para analisar os registros que chegaram até os nossos dias e deduzir alguns aspectos que possibilitam construir o “retrato falado” dessas heroínas. Meu interesse em pesquisar sobre a participação da mulher nas artes plásticas ao longo da história nasceu devido a uma das vicissitudes que a vida nos impõe e que nos leva a caminhos jamais planejados. Tem sido um longo e prazeroso caminho que já dura mais de trinta anos, mas que a cada nova artista descoberta me alenta a continuar a jornada com a certeza de que essa pesquisa será interminável, porém sempre apaixonante.
Considerando o evento comemorativo do dia internacional da mulher, no dia 8 de março, aproveito para mencionar alguns dos registros históricos que encontrei e que abordam a participação feminina no exercício das artes plásticas. Reafirmo que devido à questão sexista milenar, a existência e sobrevivência desses textos, por si só, comprova a importância da mulher ao longo da história ao sobrepujar constantemente tantos preconceitos, injustiças e tentativas de torná-las invisíveis socialmente .
História Natural de Plínio – Edição de 1857 Imagem em domínio público
O primeiro relato que temos sobre mulheres artistas é de Plínio, o velho (Caius Plinius Secundus, 23 ou 24-79)1. Na enciclopédia de 37 volumes intitulada Historia Natural, ele relata brevemente as atividades e a competência profissional de cinco ou seis pintoras. A questão numérica e os nomes das pintoras na Grécia Antiga mencionadas por Plínio foram publicados no Jornal Arte & Crítica da ABCA, nº 53 em março de 20202.
Clemente de Alexandria (c. 150 - c. 215), escreveu o texto A Mulher, Assim Como o Homem, é Capaz de Perfeição3, em que cita a existência de duas pintoras gregas4. Embora em algumas situações Clemente tenha o propósito educativo e doutrinário, ele coloca a mulher em condições de igualdade com o homem ao enaltecer algumas personagens vitoriosas consideradas como exemplos.
Bocaccio de Claris Mulieribus – Edição de 1539 Imagem em domínio público
Em 1361, Giovanni Boccaccio (1313-1375), publicou o livro De Claris Mulieribus - Mulheres Famosas abordando biografias de mulheres de diferentes condições sociais e profissionais desde a antiguidade. Para mencionar as pintoras da Grécia antiga, ele usou Plinio como referência e afirmou que a pintora grega Timarete, ou Thamyris, desprezou os deveres femininos para exercer a profissão do pai5. Entretanto, não encontrei a fonte de onde ele tirou essa informação. Real ou não, é importante notar que Bocaccio estava valorizando a mulher em uma época em que ela tinha muitas limitações para exercer atividades sociais.
Cristina da Pizzano (1363-1430) foi uma filósofa, poeta e educadora italiana que publicou vários livros sob sua orientação profissional. Como editora de livros na França sob o patrocínio da realeza, ela contratava artistas homens e mulheres e fez questão de enfatizar a qualidade excepcional do trabalho da francesa Anastaise (Anastasia) (c. 1380) pintora de iluminuras, especialista em decorar bordas, flores e paisagens6. Além disso, em 1405, Cristina escreveu e publicou o livro Le Livre de la Cité des Dames - A Cidade das Damas que exerceu forte influência cultural e social nas décadas vindouras por ser um libelo à causa das mulheres. Nele ela apresenta mulheres independentes vivendo em uma cidade utópica, livres do jugo masculino e protegidas por três damas: a Razão, a Retidão e a Justiça.
Em 1528, Baldassare Castiglione (1478-1529), diplomata, escritor e soldado italiano publicou o livro Il Libro Del Cortegiano - O Livro do Cortesão onde apresenta vários exemplos de como agir cortesmente em público e socialmente7. Para ele, homens e mulheres deveriam saber cantar, tocar instrumentos musicais, pintar e escrever poesia. O livro se tornou muito popular e influente sobre famílias nobres ou abastadas durante décadas e isso facilitou às mulheres o acesso ao estudo da pintura.
Varia Historia de Sanctas... Edição de 1583 Imagem em domínio público
Em 1583 Juan Pérez de Moya (c. 1512-1596), matemático e escritor espanhol publicou o livro Varia Historia de Sanctas e Illustres Mugeres en Todo Género de Virtudes, uma compilação de vários autores em que menciona mulheres que se destacaram ao longo da história em vários campos das atividades humanas. Entre santas, médicas, inventoras, filósofas, escritoras, músicas etc., ele menciona as pintoras mencionadas por Plínio e outras mais contemporâneas de sua época8.
Percebendo que a obra de Giorgio Vasari (1511-1574) Vite de' Più Eccellenti Pittori Scultori e Architetti – Vidas dos Maiores Pintores, Escultores e Arquitetos (mais conhecido como Vida dos Artistas), não abordava a produção artística Veneziana, em 1648, o pintor e biógrafo italiano Carlo Ridolfi (1594-1658) publicou em dois volumes a obra Le Maraviglie dell'Arte overo, Le Vite degli Illustri Pittori Venetti e dello Stato - As Maravilhas da Arte ou a Vida dos Ilustres Pintores Venezianos e do Estado contendo a biografia de vários artistas de Veneza, entre eles algumas pintoras9.
Feltina Pittrice - Edição de 1678 Imagem em domínio público
Em 1678, o pintor, antiquário e colecionador bolonhês Carlo Cesare Malvasia (1616-1683) publicou o livro Felsina Pittrice, Vite de Pittori Bolognesi – Pintura Etrusca, Vida dos Pintores Bolonheses. Seguindo a tradição Vasariana, a publicação composta em dois volumes10 aborda a vida de pintores e pintoras ativos entre os séculos XIII e XVII na Região da Bolonha. Curiosidade: Felsina é o antigo nome Etrusco da região da Bolonha.
Em 1736 e 1740, o padre português João de São Pedro (1692-17?), sob o pseudônimo de Damião de Froes Perim, publicou as duas edições do livro Theatro Heroino, Abcedário Histórico e Catálogo das Mulheres Illustres em Armas e Letras, Acçoens Heroicas e Artes Liberales. Nele Damião menciona a pintora portuguesa Rosa Maria Clara de Lima e a pintora Rita Joanna de Souza, esta brasileira nascida em Olinda, Pernambuco11. Rita é considerada a primeira pintora brasileira de que se tem conhecimento e foi mencionada pela primeira vez por Diogo Manoel Ayres de Azevedo (?) em seu livro publicado em 1734 Portugal Illustrado Pelo Sexo Feminino, Noticia Historica de Muitas Heroinas Portuguesas que Florecerão em Virtudes, Letras e Armas.
Em 1742, o pintor, historiador e escritor italiano Bernardo de’ Dominici (1683 - c. 1759) publicou em três volumes a coleção biográfica que cita várias pintoras, Vite de’ Pittori, Scultori, ed Architetti Napoletani – Vida de Pintores, Escultores e Arquitetos Napolitanos12.
Estimulado pela tradição Vasariana, o historiador italiano Rafaello Soprani (1612-1672) escreveu a coleção biográfica em dois volumes, Vite de’ Pittori, Scultori ed Architetti Genovesi – Vida dos Pintores, Escultores e Arquitetos Genoveses13, que foi publicada somente dois anos após seu falecimento e republicada em 1768. Rafaello cita várias artistas mulheres.
Em 1859, a poeta, historiadora e escritora Elizabeth Fries Lummi Ellet (1818-1877), autora de alguns livros e textos abordando a importância da mulher, publicou o livro Women Artists in All Ages and Countries – Mulheres Artistas em Todas as Épocas e Países14. O livro é resultado de uma pesquisa profunda executada por Ellet especificamente sobre a produção artística feminina.
Finalizando a lista menciono a obra do editor e escritor Walter Shaw Sparrow (1862-1940) Women Painters of the World – Mulheres Pintoras do Mundo, que aborda a pesquisa de vários autores15 sobre o trabalho de pintoras desde o século XV até o início do século XX.
Existem outros textos que tratam da importância da mulher ao longo da história, mas como minha pesquisa se atém às artistas, não há porque enumerá-los. Também encontrei outros textos relativos e mais recentes, mas não os mencionei porque são repetições dos registros apresentados aqui, sem contar algum que possa ter fugido ao meu conhecimento. O artigo escrito por Carla Avelino16 é uma boa fonte para quem se interessar em buscar referências bibliográficas de atividades femininas em outras áreas do conhecimento.
Ao estudar a história das mulheres artistas, percebo nitidamente a influência positiva e construtiva que elas causaram nas relações humanas e tenho certeza de que mesmo aquelas que foram excluídas dos registros oficiais tiveram grande importância para o desenvolvimento do conhecimento atual, seja ele empírico, teórico, filosófico, religioso, cultural ou artístico. Se no passado, elas romperam fortalezas, é importante reconhecer que ainda hoje existem barreiras a serem conquistadas, pois na luta incessante em prol de suas realizações pessoais elas enfrentam jornadas múltiplas para cuidar de si mesmas, do lar e da família. Nesse sentido, mesmo com as conquistas sociais obtidas por elas nas últimas décadas, ainda são poucos os companheiros que dividem de maneira equânime as tarefas da vida em comum. Espero ser um desses.
* Walter Miranda é membro da ABCA, artista plástico, professor de história da arte e técnicas artísticas (www.fwmartes.com.br).
Obs.:Todas as imagens estão em domínio público e foram digitalizadas por Walter Miranda.
REFERÊNCIAS:
1 PLINY, the Elder. The Natural History. Trad. John Bostock. Publ. Taylor and Francis, Red Lion Court. 1855, book 35, chap. 40; PLINY the Elder. Pliny’s Natural History. Trad. Harris Hackham. Publ. Harvard University Press 1949-54, book 35, chap. 40; MENDONÇA, Antonio da Silveira. Seleção e tradução da Naturalis Historia de Plínio o Velho. CHAA – Centro de História da Arte e Arqueologia da Unicamp. Revista de História da Arte e Arqueologia, nº 2 – 1995/96; FABRIS, Annateresa. Plínio o velho: Uma História Material da Pintura. Locus revista de história v.10, nº2 pp 73-91, 2004.
2 MIRANDA, Walter. Mulheres nas Artes Plásticas Através dos Tempos. Jornal Arte & Crítica da ABCA, nº 53, março de 2020, e disponível em http://abca.art.br/httpdocs/mulheres-nas-artes-plasticas-atraves-dos-tempos-antiguidade-walter-miranda/.
3 CLEMENT, of Alexandria. Women as Well as Men Capable of Perfection. Ante-Nicene Christian Library: Translations of the Writings of the Fathers. Edinburgh. Book IV, pp. 193-6. 1859.
4 MIRANDA. 2020, op.cit.
5 BOCCACCIO, Giovanni. On Famous Women. Rutgers, The State University. Traduzido por Guido A. Guarino. p. 122. 1963.
6 PIZAN, Christine de. The Book of the City of Ladies. Penguin Books. pp. 5-240. 1999.
7 CASTIGLIONE, Baldassare, Il Libro Del Cortegiano. pp. 13-246. 1528.
8 MOYA, Juan Perez. Varia Historia de Sanctas e Illustres Mugeres en Todo Género de Virtudes. pp. 321, 321ª, 322 e 322ª. 1583.
9 RIDOLFI, Carlo. Le Maraviglie dell'Arte overo, Le Vite degli Illustri Pittori Venetti e dello Stato. 1698.
10MALVASIA, Carlo Cesare. Felsina Pittrice, Vite de Pittori Bolognesi. 1678.
11 PERIM, Damião de Froes. Theatro Heroino, Abcedário Histórico e Catálogo das Mulheres Illustres em Armas e Letras, Acçoens Heroicas e Artes Liberales. Tomo II. Lisboa Occidental. pp. 356-7. 1740.
12 DOMINICI, Bernardo de. Vite de’ Pittori, Scultori, ed Architetti Napoletani. Tomos I ao III. 1742
13SOPRANI, Rafaello. Vite de’ Pittori, Scultori ed Architetti Genovesi. Tomos I e II. 1768.
14ELLET, Elizabeth Fries Lummi. Women Artists in All Ages and Countries. Harper & Brothers Publishers. New York. 1859.
15SPARROW, Walter Shaw. Women Painters of the World. Hodder & Stoughton. London. 1905.
16 AVELINO, Carla. Resumo de: Portugal Ilustrado Pelo Sexo Feminino de Diogo Manuel Aires de Azevedo (Lisboa, 1734), tradição do género. Polissema, nº 10, Revista do Instituto Superior de Contabilidade e Administração do Porto, Portugal. pp. 83-97. 2010. Disponível em https://parc.ipp.pt/index.php/Polissema/issue/view/121 ;
Timelessness
During the covid-19 pandemic, secluded in my studio due to the Lockdown, I produced 69 works that were part of the exhibition “Insular Time” held in November 2022 at the Mahavidya Cultural space. These works include the series of three paintings called Timelessness 1, 2 and 3.
The title of the series refers to the awareness that time has become paralyzed during isolation. Suddenly, the planet became ubiquitous in people's minds in a timeless, in an integral way. This sensation inspired me to create these three works that show all continents simultaneously in a single image. So I took advantage of the framework of some wall clocks that I had won for being broken.
The spread of the pandemic across all continents has made most people aware of the finitude of the planet. In all regions, atmospheric and noise pollution has been drastically reduced. Silence reigned over the big cities. The impossibility of locomotion caused in many people the feeling of a frozen time in which nothing different happened and, to escape the monotony, many tried to occupy this static time with physical activities at home or through the internet. With that, the planet had a little rest from the stress caused by the consequences of disorganized territorial occupation actions and human beings were able to review philosophical concepts about their existence and the quality of life provided by the currently dominated technology. Whether this will have positive results, only time will tell.
Catalogue Cartographies of Gaia
Text of the Catalogue of the exhibition Cartographies of Gaia held at the Nilton Zanotti gallery at the Palácio das Artes in Praia Grande and at the Cultural Center of Correios in São Paulo.
CARTOGRAPHIES OF GAIA by Walter Miranda
Since the 1980s, the ecological theme has been a constant in my artistic production, as well as the incorporation of computer boards and other accessories of our technological daily life. The series of works called “CARTOGRAFIAS DE GAIA” presents works that reproduce several cartographic projections to deal with the current situation of environmental degradation on the planet. Planetary degradation, caused by the actions of human beings eager for immediate enrichment, immeasurable material comfort and the assumption that, with technology, we can dominate nature.
The two and three-dimensional works were carried out using the traditional technique of oil painting and the incorporation of objects discarded by contemporary society. The joint use of these two apparently antagonistic factors (tradition and contemporaneity) generates the compositional challenge of obtaining a visual harmonization during the creative process of each work that, when completed, provokes in the observer philosophical reflections on the pollution of the environment and the consequent decline of the quality of life for man on the planet.
The support for the works are wood, plastic objects, aluminum sphere and the traditional canvas. Objects discarded by contemporary society were incorporated into the supports, such as: computer boards (sawn and ground or in pieces and shards), electronic components (processors, chips, speakers, diodes, capacitors and resistors), computer keyboards, credit cards, revolver bullets, meat grinders, scales, keys, padlocks, clocks and clock domes, PVC (polyvinyl chloride) plastic film, acupuncture needles and straws, jewelry, coins, burnt matchsticks , sharpened pencil peels, eraser sharps, shards of glass, etc. I also incorporated elements from nature, such as: seeds, shells, snails, earth, sand, stones, armadillo shell, etc.
All the components I used were placed according to an aesthetic order in order to create unique textures and visual effects that provoke the viewer's curiosity. In some frames, I painted realistically (as a detail) the map of the region presented in the entire frame in order to create a link that closes the frame in itself, that is: the frame is a detail of itself and a detail of it is the whole frame.
Cartografias de Gaia has a total of 44 works in which I used the artistic interpretation of cartographic projections as follows:
TWO-DIMENSIONAL WORKS
• 1 panel measuring 2.5m X 2.5m was made with printed circuit boards, computer keyboards and pc mouses;
o This work presents the planet Earth as an egg being fertilized by human technology. It represents the extreme importance that man gives to the use of technology today. The planet was painted on canvas and is on a flat world filled with electronic boards. Thus, the Earth is represented as an egg, whose protective layer is composed of computer keyboards and the sperm that try to penetrate the egg are represented by pc mouses. Ironically, the only mouse sperm that can penetrate the egg shell is branded “Clone”.
• 5 works in oval, semicircular or multiform cartographic formats show all regions of the planet.
o These works were filled with credit cards (symbol of rampant consumerism); keys (symbol of opening or closing of human paths), computer boards (symbol of current technology), several CDs (which represent the brilliant and apparent richness provided by current technology), acupuncture straws and clips, electronic mini buttons, diodes, electronic resistors and capacitors etc.
o One of the boards was made with 30,000 electronic diodes + 2,500 straws and 1,600 acupuncture needle clamps + 500 capacitors and 400 electronic resistors. It also presents the five islands of plastic waste that float in a concentrated way in some parts of the oceans.
• 3 oval works with the world map represent the evolution of continents during geological ages.
o They represent the progression of technological pollution generated by humans over time, as the works establish an evolutionary parallel since the dawn of civilizations (when man spread across the planet using natural materials to conquer the environment) to the present day, in which man is polluting the planet in an unimaginable way. The tables were filled with guava seeds, sharpened pencil shavings and residues from electronic boards, plastics, metals, etc;
• 2 works show the shapes of the first world maps, created in 1507, where the representation of the Americas appears for the first time.
o One of them was filled with electronic circuit boards, guava seeds, and acupuncture needle loops; and another was filled with sharpened pencil shavings, which represent European deforestation in the 16th century.
• 6 circular works represent regions of the planet filled with the remains of objects that relate to the characteristics of each region, in order to represent the pollution caused by the excessive consumption of materials processed by the current industry.
o In South America, I used matchsticks to represent forest fires;
o In Europe, I used small pieces of computer boards to assemble a visual mosaic representing the various mini-regions that make up the continent;
o In Africa, I used sand due to the marked influence of the Sahara, as well as the drought in several regions of that continent;
o In North America, I used various computer chips and processors to represent the characteristic of the local technological society;
o In Asia, I used sharpened pencil peels to represent the manual culture that still remains imperative in the region today;
o In Oceania, I used computer board debris to represent the dominant industrial production in the region and which has been supplying the world market for electronic goods.
In the background of some works, I painted hands and feet (which represent the human occupation of the planet). In others, I handwritten a text, which follows linear compositional patterns specific to each work. This text is known worldwide as theLetter from Chief Seattle and has a very curious history:
American Indian chief Seattle gave a speech in 1855 during a peace treaty in which Indian lands were sold in exchange for a reservation. This speech was witnessed by an admirer of his, Henry A. Smith, who published it in a local newspaper in 1887, based on his recollections of the speech.
In 1971, the speech was altered by screenwriter Ted Perry for a documentary on ecology. From then on, the text became known worldwide as Chief Seattle's reply letter to US President Franklin Pearce.
Although authorship is ambivalent, this communion of texts, in my view, presents a message, which is becoming increasingly current, for humanity. Therefore, I decided to include it in part of this series of works. Those interested in the full text can access it on my website: http://www.fwmartes.com.br/imprensa/114/carta-do-chefe-seattle
• 2 circular works show the terrestrial poles;
o In Antarctica I used electronic components debris to represent the marks of human and scientific occupation in the continent still little explored;
o In the Arctic I also used sharpened pencil shells, however smeared with ink and oil, to represent the marks of human pollution on the sparsely inhabited continent.
• 1 circular work represents all continents viewed simultaneously and filled with pieces of computer boards completely smeared with industrial oil (another symbol of technological pollution).
• 1 circular frame, painted in dark colors, represents the image of the planet without water;
o In the painting “Sem Água (without water)”, I used a mixture of the tailings that I used in the other paintings to represent the continents and that, incorporated into the oil painting, become a dramatic representation of an image captured by means of radar and published by the European Space Agency showing what Earth would be like without water. This image is superimposed on a circle filled with shards of glass showing the limits of the water, which generates the rounded shape of the planet, instilled in our collective unconscious.
• 3 works of whimsical cartographies feature a world map filled with mini electronic push buttons, guava seeds and acupuncture needle loops;
o Two of them are lozenge-shaped, with the oceans being made in high relief using sawdust from printed circuit boards and electronics debris, and the Arctic and Antarctic areas being filled with loops of acupuncture needles. One has continents filled with 5,000 mini electronic push buttons and acupuncture needle clips.
o The third frame has a shape analogous to a heart, reproducing one of the various cartographic projections that exist.
• 2 works show the world map upside down.
o It is a tribute to the Uruguayan painter Joaquim Torres Garcia who, in the first half of the last century, postulated a new way of seeing the world without the conventional point of view used by Western culture.
• 1 oval work shows the world map painted in reverse, as if the viewer of the work was inside the frame watching the viewers of the work;
• 1 oval work, showing the map of the world “lying down”;
• 1 bilateral circular work (front and back) represents the real nature and beauty of the planet;
• 1 rectangular work made of wooden scraps, small computer boards and cut-out acupuncture straws, represent the visual beauty of atmospheric pollution;
• 3 rectangular works present the Earth cut out vertically, diagonally and horizontally, alluding to the environmental imbalance and the mismatch between the use of technology and integration with the planet in a sustainable way.
• 2 oval works present Africa and South America in evidence and the other continents in a faceted way;
o Africa and America are centered and realistically painted and the other continents are geometrically faceted. Thus, the central part is seen naturally and the sides as if they were the faces of a diamond to represent the planet seen through a prism and as a small jewel immersed in the infinity of the universe.
THREE-DIMENSIONAL WORKS
• 1 modular object mounted in the form of a tower, made with computer keyboards;
o The base of the object is octagonal, the first module is hexagonal, the second module is pentagonal, the third module is quadratic, the fourth module is triangular, and the top is composed of a sphere.
• 3 “Books of Gaia”, whose pages are computer boards + objects, tell the process of human technological development and its relationship with the planet, Gaia.
• 2 objects, “The Last Judgment Machine” and “The Vital Balance”, were made from the reuse of a meat grinder and a scale.
o The first features the Earth being ground in a meat grinder, and the second features the Earth on a scale as a man weighs the Sun and Moon. Both represent the objectification of nature and universal philosophical values, transforming them into mere material values.
• 2 three-dimensional objects that present the Earth in the shape of an egg coupled on computer boards address the ecological issues that can affect the climate balance on the planet.
• 1 hexagon-shaped object represents e-waste dumped around the planet.
INSTALATION REQUIEM TO GAIA - FOUCAULT’S ICU
• 1 installation composed of 1 circular and bilateral work with an image of the planet painted on the front and back; scanned images; 38,000 electronic push buttons; contact acetate for keyboards; electronic time markers; plastic globe; monitor top and abdominal subcutaneous syringe.
o The installation represents mother Gaia (planet Earth) in a serious health situation and in urgent need of the services of an ICU-Intensive Care Unit.
o Two opposing walls are used to represent the reality of the world we live in and the distance that human beings live from this reality.
o On the first wall are presented several images showing the pollution of the air, seas, forests and cities, as well as the garbage left by human beings in all corners of the planet. In the sequence, other images are presented showing dead or sick animals, for suffering the consequences of the environmental pollution generated by the human species.
o On the other wall are presented the same images framed by a television screen, aiming to convey the idea that the human being is aware of these situations, but acts as if everything were just a movie far from the reality of our daily lives. Around the screen are placed several credit cards that represent the world's financial power that direct what and how to present the news in the media of communication.
o Connecting the two walls and supporting the monitor, there is a “road” of computer keyboard acetates that represents the technological evolution of the human being. It is filled with thousands of electronic push buttons that surround an image of planet Earth surrounded by electronic time markers.
o Between the two walls, in the center of the road, there is a Foucault pendulum that supports a circular double-sided painting hanging two and a half meters high. This painting has on the front and back the continents painted in a realistic way and represents the perception that the human being has that: when everything is mapped, everything is mastered!
o A little below the painting, and hanging from the pendulum, there is a small terrestrial globe that represents the finitude of the planet. Further down, there is a subcutaneous syringe pointing menacingly at the image of planet Earth surrounded by electronic time markers.
o In consonance with the paintings on display, the essential idea of the installation is to demonstrate the finitude of planet Earth and remember that the weight of our actions puts the planet itself and our lives at risk.
PERFORMANCE
• 1 performance in which the serious ecological situation in which the planet finds itself due to human actions is addressed. The play lasts twenty minutes and counts with the participation of the group “Suspiro na Arte”. It presents the fictitious sale of planet Earth by a super-powerful businessman who does not care about the social and economic injustices existing between countries.
o In consonance with the paintings on exhibition, the essential idea of the installation and the performance is to demonstrate the finitude of planet Earth and remember that the weight of our actions puts the planet and our lives at risk.
Finally, it should be said that this series of works, in which I use the world map to express my current concerns, emphasizes my “modus operandi”, since in all my artistic production, I always try to unite reason with emotion (base of my creative process) in order to create a work that makes use of traditional techniques incorporated into elements of today's society to establish different metonymic relationships that provoke questions in the viewer.
In this sense, the subjective language I use to express my feelings, anxieties, ideas and philosophical concepts allows the observers to draw their own conclusions about the topic addressed in each series of work. The result is complicity or denial, it doesn't matter. Both form a kind of involvement that refers to the essence of what I try to convey.
Walter Miranda - August/2019
Cartographies of Gaia: poetic heterotopies in the art of Walter Miranda
WOMEN IN THE VISUAL ARTS THROUGH THE TIMES - ANTIQUITY
https://abca.art.br/2024/02/22/mulheres-nas-artes-plasticas-atraves-dos-tempos-antiguidade/
Se você olhar à sua frente, elas estarão lá. Olhou para o lado direito? Esquerdo? Atrás? Elas sempre estiveram, estão e estarão presentes. Sim, estou falando das nossas eternas companheiras, as mulheres. Elas são chamadas de sexo frágil, mas plagiando o músico Erasmo Carlos: “eu, que faço parte da rotina de uma delas, sei que a força está com elas”.
Tá certo, quando é preciso abrir a tampa de um vidro de palmito elas nos chamam, mas a força delas é mais poderosa por ser sutil, quase imperceptível, é a força do convencimento; da persistência; da resiliência, que dobra, mas não quebra. Ou seja, elas estão e sempre estiveram presentes em nossas vidas. Muitas vezes operam em silêncio e com delicadeza, mesmo não sendo valorizadas como merecem.
Há muito tempo se tenta controlá-las e obrigá-las a seguir parâmetros sociais determinados pelos homens. Basta ler a Bíblia para vermos os aconselhamentos dados a elas. Mesmo na Grécia antiga, país que inventou a democracia, elas eram proibidas de votar.
Apesar das diversas tentativas de apagá-las da história, elas sempre estiveram presentes. Se quase não as encontramos nos livros oficiais, quem pesquisa documentos antigos encontra registros de grandes mulheres que alteraram o curso da história humana. Muitas foram apagadas dos registros oficiais ou tiveram sua história pessoal alterada. Caso clássico na cultura ocidental é o de Maria Madalena, cujo evangelho foi tornado apócrifo1 e ela é confundida com uma pecadora no Novo Testamento. Entre tantas outras, também é possível citar a rainha egípcia Hatshepsut2, cuja existência sofreu a tentativa de ser apagada da história por seu sucessor, mas a enorme quantidade de obras e templos deixados por ela possibilitou o resgate de seu legado.
No mundo das artes também, elas sempre existiram, mas nas escolas tradicionais ou mesmo de arte, raramente se fala de artistas mulheres quando se menciona artistas importantes ao longo da história da humanidade, pelo menos até o século XIX. É certo que ao longo do tempo houve alguns historiadores que prestaram atenção em sua importância e registraram em livros seus nomes e atividades, contudo são livros ignorados pelas culturas moderna e contemporânea. Mas, a partir da segunda metade do século XIX elas começaram a se unir e lutar por seus direitos sociais. Conquistaram reconhecimento no meio artístico mas, ainda hoje, sofrem grande preconceito social e cultural.
Em 1990, percebi a presença delas na história das artes. Estava em Washington e tive a oportunidade de visitar o National Museum of Women in the Arts (Museu Nacional de Mulheres nas Artes). Só então percebi que alguma coisa estava errada no que eu havia aprendido pelos livros clássicos de história da arte. Daí em diante, passei a pesquisar sobre a atividade delas. Fiquei impressionado com a quantidade de artistas mulheres que lutaram para mostrar seus trabalhos de alta qualidade e ao mesmo tempo o empenho delas para serem respeitadas em um meio cultural extremamente machista. Fiquei apaixonado pelo tema e fui comprando os parcos livros que encontrei pela frente (escritos no século XIX e XX) ou lendo e fazendo anotações daqueles que não pude comprar e achando textos guardados em bibliotecas.
Depois de tantos anos, me senti encorajado a dar alguns cursos rápidos sobre esse importante tema: A participação das mulheres no campo das artes plásticas.
Como o tema é vasto, atrevo-me a escrever resumidamente, em alguns capítulos a serem publicados a cada edição do Jornal da ABCA, sobre a participação histórica da mulher no campo das artes plásticas desde sempre. Sim, desde sempre, pois desde o início daquilo que chamamos de cultura elas tiveram forte e constante presença no meio artístico e social.
Uma recente teoria indica que mesmo na Pré-história as mulheres já se manifestavam artisticamente. De acordo com essa teoria boa parte das pinturas rupestres, cujas assinaturas eram feitas com a silhueta das mãos, foi feita por mãos femininas. Ao que parece, a relação entre o tamanho dos dedos das mãos masculinas e femininas é diferente e as marcas deixadas por elas nas cavernas servem como comprovação de sua autoria3.
Há também que considerar a importância feminina ainda na Pré-história pela quantidade de esculturas atribuídas a deusas encontradas por arqueólogos em sítios milenares na forma de esculturas em argila, marfim ou pedra.
Caso especial é a “Grande Mãe”, cuja origem remonta à Pré-História e à cultura Frígia na Antiguidade sendo que mais tarde seria chamada de deusa Cibele4 pela cultura greco-romana. Ela permeou a mitologia ocidental passando pela Idade Média, Renascimento e, ainda hoje, continua se fazendo presente em monumentos públicos de alguns países. Cibele é sempre retratada como uma deusa ou rainha sentada em um trono e acompanhada por uma ou duas leoas.
A Grande Mãe Museu das Civilizações Anatolianas Ankara, Turquia Imagem em domínio público
Fonte de Cibele na Praça de Cibele em Madrid, Espanha
Escultor: Francisco Gutiérrez Arribas
Imagem em domínio público
Minha pesquisa sobre a mulher nas artes plásticas se restringe à cultura ocidental. Entretanto, é possível abranger superficialmente o Egito Antigo. Embora eu não tenha encontrado relatos ou imagens sobre a existência de pintoras ou escultoras nessa cultura, me atrevo a pensar que elas também existiram, pois a mulher tinha mais liberdade do que nas demais civilizações da época. Muitos relevos, pinturas e manuscritos mostram maridos e esposas exercendo atividades em conjunto. Os documentos comprovam que ela podia gerenciar os negócios da família, se divorciar e exercer diversas atividades profissionais, religiosas e artísticas, entre elas a dança e a música (cantando ou tocando instrumentos musicais)5.
Sabemos que na Grécia Antiga pinturas em paredes e painéis eram comuns, mas infelizmente as obras não chegaram até os nossos dias. Existem poucas fontes acadêmicas da época que testemunham esse fato mencionando inclusive alguns nomes das artistas e breves relatos sobre suas vidas e trabalho. Assim, as parcas informações que temos hoje foram obtidas de textos antigos sobreviventes ou de textos que mencionam autores antigos. Algumas imagens em vasos gregos antigos mostram mulheres pintando os vasos juntamente com os homens.
Na Grécia antiga, era comum aos artistas apresentarem suas obras em competições artísticas e assim como nos dias de hoje, geralmente, os trabalhos eram comprados pela classe rica e pelos governantes.
A mais ampla fonte de informações sobre mulheres artistas na Antiguidade é encontrada na enciclopédia de 37 volumes intitulada Naturalis Historia, escrita por Plínio, o velho (Caius Plinius Secundus, 23 ou 24-79).
Em sua obra, Plínio cita brevemente cinco ou seis mulheres pintoras e essas menções nos servem de referência para saber da existência delas e sua competência profissional: Timarete, Aristarete, Iaia, Olímpia, Irene e talvez, Calipso6.
Timarete ou Thamyris (c. 400-500 a.C.) foi uma pintora, filha do pintor ateniense Mícon, o jovem. Pode-se concluir que ela era bastante respeitada profissionalmente porque pintou um painel da deusa Diana para a cidade de Éfesos (cidade que reverenciava Diana). Plínio afirmou que o painel era o mais antigo existente até então e era muito famoso.
Boccaccio em seu livro De mulieribus Claris (Mulheres Famosas) afirma que Timarete desprezou os deveres femininos para exercer a profissão do pai7. Entretanto, não encontrei a fonte de onde ele tirou essa informação. Se for verdade, ela serve de embasamento para concluir que Timarete tinha uma personalidade forte e feminista, já que na sociedade em que ela vivia a mulher tinha muitas limitações para exercer atividades profissionais.
Aristarete (?) era filha e aluna do pintor grego Nearkos. Nada se sabe sobre a época em que ambos eram ativos. Devido a uma de suas pinturas que representa Esculápio ou Asclépio, deus da medicina, e algumas obras de Nearkos citadas por Plínio, pode-se concluir que ambos pintavam temas mitológicos.
Iaia (c. 110 a.C.), posteriormente conhecida como Marcia, foi uma pintora nascida na cidade de Cízico (atual Turquia) dominada pelos gregos e depois pelos romanos. Plínio menciona que ela pintava usando pincéis e também esculpia em marfim. Pintou vários retratos de mulheres e painéis em Roma. Um de seus trabalhos mais comentados em vida foi um grande painel representando uma velha senhora. Plínio afirmou que ela fez um autorretrato olhando-se em um espelho. Essa observação serviu de inspiração durante a Idade Média para alguns artistas criarem obras representando Marcia pintado seu autorretrato. Ele também mencionou que nenhum pintor era mais rápido do que ela e que seu talento era tamanho que seus trabalhos eram vendidos a preços mais altos do que os dos concorrentes retratistas. Ela permaneceu solteira por toda a vida, fato que nos permite imaginar que não se submeteu ao machismo que imperava em sua época e que poderia interromper sua carreira.
Marcia pintando autorretrato. Imagem do Século XV
Autor desconhecido Imagem em domínio público
Olímpia (?) é outra artista mencionada por Plinio. Ele explica que nada se sabe sobre sua carreira e pinturas exceto que ela teve um aluno chamado Autobulus. Essa informação é suficiente para inferir que, naquela época, uma mulher dando aulas sobre uma profissão exercida majoritariamente por homens, deve ter sido uma artista muito respeitada em vida.
Irene (?) era filha do artista Clatino. Não sabemos a origem e a data de nascimento de ambos. Embora ela seja a segunda pintora citada por Plínio, decidi mencioná-la ao final da lista em razão de uma polêmica sobre sua produção artística.
Devido a diferentes interpretações gramaticais sobre o texto de Plínio, alguns estudiosos dizem que Irene é conhecida pela pintura de uma ou de cinco obras. No primeiro caso, apenas uma obra de sua autoria teria sobrevivido: a pintura de uma jovem, cuja obra ainda se encontrava na cidade de Elêusis na época de Plínio. No segundo caso, além dessa obra, ela seria autora das obras: a ninfa Calipso; um homem velho; o prestidigitador Teodoro e a dançarina Alcisthenes.
Entretanto, existem estudiosos que afirmam que Calipso é o nome de outra artista autora de três obras: um homem velho; o prestidigitador Teodoro e a dançarina Alcisthenes.
Dessa forma, os estudiosos que atribuem funções acusativas ao texto de Plínio afirmam que Irene é autora de cinco obras. Já os estudiosos que atribuem a função nominativa ao texto afirmam que Irene é autora de uma obra e que existiu outra pintora, de nome Calipso, autora de três obras8.
Embora indiretamente, a meu ver, Plínio menciona mais uma artista: Cora de Sicião (c. 650 a.C.). Aprendiz e filha do ceramista Butades, ela ficou conhecida como autora de um desenho que se tornou referência para pintores, durante séculos, como a criação do desenho ou mesmo da pintura de retratos. Plínio conta que ela se enamorou de um aluno de seu pai e que na véspera de uma longa viagem dele ao exterior, ela desenhou com carvão, na parede do ateliê do pai, o perfil do rosto do namorado projetado por uma luz. Ao notar o desenho feito pela filha, Butades modelou em argila o rosto do rapaz, criando assim o primeiro retrato em relevo em argila9. O relevo ficou preservado na cidade de Corinto até ser destruído durante a invasão da cidade pelos Romanos em 146 a.C.
Helena do Egito (c. 350 a.C.) é uma das duas pintoras da Antiguidade que não foi mencionada por Plínio. O primeiro relato que temos sobre ela é de Ptolomeu Heféstio (Ptolemaei Hephaestioni) (também conhecido como Ptolemaeus Chennus), um gramático alexandrino ativo durante os reinados de Trajano e Adriano e criador da obra Novarum Historiarum (Novas Histórias). Não temos os textos originais de Ptolomeu, mas sua obra foi comentada por Fócio I (c.820-891), patriarca de Constantinopla (também conhecido como São Fócio) na coletânea de resenhas bibliográficas, denominada Myriobiblion (Biblioteca). De acordo com Fócio, Ptolomeu10 afirmou que Helena era filha do pintor Tímon do Egito e que ela pintou uma cena da vitória de Alexandre o Grande (353 a.C.-326 a.C.) sobre o rei Persa Dario III, durante a batalha de Isso. Alguns acreditam que posteriormente, foi feita uma cópia de sua pintura em um mosaico encontrado no piso de uma casa aristocrática de Pompéia, chamada de casa do Fauno. Entretanto, existe a possibilidade de que o mosaico tenha sido baseado na obra do pintor grego Filoxeno de Erétria11 (sec. IV a.C.), pois Plínio afirma que Filoxeno pintou uma obra com esse tema sob encomenda de Cassandro (ca. 350 a.C.-297 a.C.) um dos generais de Alexandre e posteriormente rei da Macedônia.
Mosaico de Alexandre durante a batalha de Isso
Museu Arqueológico Nacional de Nápoles
Imagem em domínio público
Outra pintora da Grécia clássica não mencionada por Plínio é Anaxandra (c. 220 a.C.), filha e aluna do pintor grego Nealkes, um pintor de temas mitológicos e cotidianos. Sabemos de sua existência porque ela foi mencionada no século II pelo teólogo cristão Clemente de Alexandria (c.150-c.215), em um texto denominado “A mulher, assim como o homem, é capaz de perfeição”. Clemente cita como sua fonte o trabalho12 de um estudioso do século I, Dídimus Calcenteros (c.63a.C-c.10).
Até o momento, não encontrei relatos sobre mulheres pintoras ou escultoras durante o império romano, mas dois afrescos encontrados em Pompéia atestam que, definitivamente, as mulheres exerciam a atividade de pintoras. Uma das imagens mostra uma artista pintando um quadro usando como referência uma estátua e a outra imagem mostra uma pintora usando um cavalete.
Mulher pintando ao lado de uma estátua de Príapo
Foto: Wolfgang Riege via Wikimedia Commons
Museu Arqueológico Nacional de Nápoles
Imagem em domínio público
As cidades de Pompéia e Herculano também possuem vários afrescos que nos possibilitam entender que a arte romana sofreu bastante influência da arte grega. Por isso, as conclusões sobre essa época são baseadas muitas vezes em interpretações dessas fontes. Além disso, é extremamente raro encontrar informações sobre a atuação profissional das mulheres no campo das artes na Antiguidade e certamente muitas artistas importantes jamais serão reconhecidas por não serem mencionadas nos textos que chegaram até os nossos dias.
* Walter Miranda é membro da ABCA, artista plástico e professor de história da arte e técnicas artísticas (www.fwmartes.com.br).
REFERÊNCIAS:
[1] DE TOMMASO, Wilma Steagall. Maria Madalena nos textos apócrifos e nas seitas gnósticas. Revista Último Andar – Pesquisa em Ciência e Religião, (14) pp.79-94 – 2006 disponível em: http://www4.pucsp.br/ultimoandar/download/artigos_maria_madalena.pdf;
BARBAS, H. Madalena, História e Mito. Lisboa, Portugal. Ésquilo edições e multimídia. 2008 – disponível em: http://www.helenabarbas.net/books/2008_Madalena_Historia_e_Mito_H_Barbas.pdf. 2 SOUZA, Aline F. Hatshepsut , A mulher-Faraó: Representações da rainha Hatshepsut como instrumento de legitimação. Dissertação apresentada na Universidade Federal Fluminense. Niterói. 2010 – Disponível em: https://www.historia.uff.br/stricto/td/1368.pdf;
HATSHEPSUT. Disponível em: http://arqueologiaegipcia.com.br/2011/07/28/um-vislumbre-da-farao-mulher-hatshepsut/;.
3 HUGHES, Virginia. Were the First Artists Women? National Geographic. Ocotober 9, 2013. Disponível em: https://news.nationalgeographic.com/news/2013/10/131008-women-handprints-oldest-neolithic-cave-art/; SNOW, Dean. Sexual Dimorphism in European Upper Paleolithic Cave Art. American Antiquity. 78(4): pp.746-761. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/273042625_Sexual_Dimorphism_in_European_Upper_Paleolithic_Cave_Art. 4 LEGGE, F. The Most Ancient Goddess Cybele. Journal of the Royal Asiatic Society of Great Britain and Ireland, pp.695-714 Published by Cambridge University Press, 1917; BRITANNICA, E. The Great Mother of Gods. Acessivel em: https://www.britannica.com/topic/Great-Mother-of-the-Gods; WORDPRESS. Cybele, The Mother Goddess. Acessível em: https://womeninantiquity.wordpress.com/2018/11/27/cybele-the-mother-goddess/. 5 MARK, Joshua J. Women in Ancient Egypt. Ancient History Enciclopedya. Last modified Nov 04, 2016. Disponível em: https://www.ancient.eu/article/623/. 6 PLINY the Elder. The Natural History. Trad. John Bostock. Publ. Taylor and Francis, Red Lion Court. 1855, book 35, chap. 40; PLINY the Elder. Pliny’s Natural History. Trad. Harris Hackham. Publ. Harvard University Press 1949-54, book 35, chap. 40; MENDONÇA, Antonio da Silveira. Seleção e tradução da Naturalis Historia de Plínio o Velho. CHAA – Centro de História da Arte e Arqueologia da Unicamp. Revista de História da Arte e Arqueologia, nº 2 – 1995/96; FABRIS, Annateresa. Plínio o velho: Uma história material da pintura. Locus revista de história v.10, nº2 pp 73-91, 2004. 7 BOCCACCIO, Giovanni. De Mulieribus Claris (On Famous Women). Trad. Guido A. Guarino. Italica Press Inc. New York. 2011. 8 LINDERSKI, Jerry. The Paintress Calypso and Other Painters in Pliny. Zeitschrift für Papyrologie und Epigraphik, Bd. 145, pp. 83-96. 2003; CORBEILL, Antony. A New Painting of Calypso in Pliny the Elder. Eugesta Revue, nº 7 pp. 184-98, 2017. 9 PLINY. Op. Cit. Book 35, chap. 43 e Pliny’s. Op. Cit. Book 35, chap. 43.
10 FÓCIO. Photii Bibliotheca.1606. Traduzido por Andreas Schott. p. 185, seção 348; GALE, Thomas. Historiae Poeticae Scriptores Antiqui (Ptolemaei Hephaestionis). 1675. p. 320; HEPHAESTIONIS, Ptolemaei. Novarum Historiarum. 1734. Traduzido ao latim por Joseph E. Roulez. p. 159. 11 PLINY. Op. Cit. Book 35, chap. 36 e Pliny’s. Op. Cit. Book 35, chap. 36. 12 CLEMENT of Alexandria. Women as well as Men capable of Perfection. Ante-Nicene Christian Library: Translations of the Writings of the Fathers. Edinburgh. Book IV, pp. 193-6. 1859.
Human Rights in the Art of Walter Miranda and Ontological Criticism
Os Direitos Humanos na Arte de Walter Miranda e a Crítica Ontológica
Mirian de Carvalho
(Associação Brasileira de Críticos de Arte / Associação Internacional de Críticos de Arte / Universidade Federal do Rio de Janeiro)
https://abca.art.br/wp-content/uploads/2022/09/E-book-Jornada-ABCA-2020-versaofinal.pdf - Página 177
Ante o flagelo da Covid 19, agravado no Brasil em virtude de problemática que atinge sobretudo a classe trabalhadora, os desempregados e as minorias étnicas, torna-se relevante refletir sobre a arte como trabalho do ser social, visto que a arte pode ser pensada como produção mediadora de processos emancipatórios, ao enfoque da crítica ontológica. Numa leitura de György Lukács, tal crítica abrange aspectos intrínsecos e extrínsecos à produção artística. E, das categorias instrumentalizadas por esse filósofo, menciono neste texto: o símbolo, por trazer o geral ao particular; a catarse por abranger a empatia; o complexo, como amplitude da totalidade; a mimese, como referencial dialético.
Despertou-me para tal enfoque a arte de Walter Miranda, a partir de duas mostras realizadas em São Paulo, em 2018 e 2020, referendando os Direitos Humanos. Em ambas as mostras, a tessitura do espaço produz tensões por meio do estranhamento, a “provocar na sociedade novos fatos ontológicos” [i], porque a criação artística se articula com o complexo sócio-histórico:
Para compreender a especificidade do ser social é preciso compreender e ter presente essa duplicidade: a simultânea dependência e independência de seus produtos específicos em relação aos atos individuais que, no plano imediato, fazem com que eles surjam e prossigam.[ii]
Tais dependência e independência subsomem a relação entre o indivíduo e o real. Entretanto, as categorias poéticas não se fundam na natureza, nem na sociedade. Por isso a crítica ontológica se pergunta pela peculiaridade do poético numa relação sócio-histórica com o fruidor, aos desdobramentos da poiesis. A poiesis se relaciona ao fazer, que se inicia no trabalho da matéria, e se completa na fruição, por meio da catarse. Tal dinâmica, envolvendo um complexo de determinações do real, explicita diferenças, antíteses e dados circunscritos ao trabalho artístico. Ao fruidor é dado captar contradições a serem superadas.
Na arte de Walter Miranda, as qualidades do espaço tangenciam o campo sensorial e o campo ideativo, despertando a pergunta drummondiana: “E, agora, José?”. Ao perscrutar o espaço nas mostras intituladas Cartografias de Gaia[iii] e Ode à vida[iv], ambas disponíveis em catálogo virtual, enfatizei três ordens de estranhamento: heterotopias, seriações e desconstruções da geometria.
Em Cartografias de Gaia, o artista aborda a importância da sustentabilidade ecológica em oposição aos danos causados pelo uso descontrolado das tecnologias. Walter Miranda reuniu quadros, objetos, instalação e performance que enfocam o mapa-múndi. Em Cartografias de Gaia, as heterotopias determinam-se como aglomerações de produtos de origem animal, vegetal e inorgânica: chaves; CDs; fósforos; aparas de lápis; autofalantes; conchas; sementes; cartões de crédito; invólucros de agulhas de acupuntura; relógios; peças de vidro, inclusive vidro moído, etc, misturados à pintura. Aparentemente, as heterotopias tornam o espaço impensável e inominável. Mas é esse o telos desse estranhamento: chegar ao inusitado para realizar a simbologia da vida.
Nos quadros, o artista também definiu estranhamento relativo ao contorno. Em meio a invenções cartográficas, destaque-se a América do Sul posicionada ao Norte, em Avesso do avesso, num mapa mostrado em espelho. As várias peças tridimensionais são igualmente compostas e ou revestidas por heterotopias. Entre elas, há uma Torre de Babel feita de teclados de computador. Destaco também três peças feitas com placas de computador: Livro de Gaia I, Livro de Gaia II e Livro do Porto, sendo o texto sugerido por objetos de tamanho pequeno. Em meio a tais peças, o artista incluiu uma instalação e uma performance com a mesma temática questionadora dos ditames do capitalismo financeiro.
Livro do Porto (2018) -27 cm x 31 cm x 7 cm
Nesse conjunto de trabalhos, contrastam cores claras e lúgubres, na metáfora da oposição “vida x morte”. E, sob vários aspectos, muitas imagens exaltam a vida nascente. Como exemplo, surge luminoso azul, pronto à fecundação da vida num grande mapa-múndi cercado de mouses e teclados, em Fecundationis Artificiosae (2018), enquanto, em América do Sul (2007), as heterotopias pedem decifrações simbólicas, despertando a consciência atuante.
América do Sul (2007) – 83 cm x 88 cm
Em Ode à vida, em releitura da sua produção artística concebida a partir de 1977, o artista organizou núcleos temáticos igualmente relacionados aos Direitos Humanos, transparecendo nos títulos: Vidas negras importam; Ser e não ter, ter e não ser: eis a Etiópia; Simetria ecológica, social e política. Nessa mostra, em muitos trabalhos localizam-se também as referidas heterotopias. Passo então à análise de duas outras instâncias técnico-expressivas muito significativas na arte de Walter Miranda: as seriações e as desconstruções da geometria.
As seriações definem-se pela repetição de imagens semelhantes ou iguais, num mesmo trabalho, ou num conjunto de trabalhos, mas podem surgir também como conjunto de imagens diversificadas dentro de um núcleo temático. À análise das seriações, escolhi 1984: O estigma de George Orwell I e VIII, pertencentes a um conjunto de quadros a óleo sobre papelão, em que o estranhamento resulta das repetições de motivos semelhantes.
Era 1949. No romance chamado 1984, de George Orwell, o Big Brother passou a controlar corpos e mentes. Em 1983, numa transitividade do literário ao pictórico, Walter Miranda realizou 1984: O Estigma de George Orwell. E, neste ano de 2020, tais quadros atualizam a mimese do real e de seus espaços reais.
1984: O estigma de George Orwell I (1983) – 88 cm x 62,5 cm
1984: O estigma de George Orwell VIII (1983) - 88 cm x 62,5 cm
Nesse conjunto de quadros, pessoas de ambos os sexos, e rostos angulosos quase indiferenciados, remetem o visitante aos algoritmos e senhas que nos carimbam virtualmente. Andando pelas ruas, todos passam por inscrições indecifráveis: carestia, fome, recessão, FMI, etc. A marcha mecânica lhes é imposta, tal se faz com o gado no matadouro. Em 1984, o fruidor pressente a reificação do humano. Ali estão o treinamento e a disciplina herdados do taylorismo e do fordismo, passando pelo toyotismo e, hoje, pela uberização, que se aperfeiçoa pelas novas tecnologias.
Walter Miranda não pintou o trabalhador na fábrica, nem no supermercado, nem no banco. Mas, ao modo do não dito na poesia, o não pintado instaura imagens e sentidos simbólicos. Ali está a classe trabalhadora, antes e hoje. Ainda na linha das seriações, aqui destaco dois quadros-objeto: pertencentes ao núcleo denominado Vidas negras importam, Cloroquina, o pão nosso de cada dia I e Cloroquina, o pão nosso de cada dia II, realizados em 2020, tematizam a violência do biopoder a serviço da destruição da vida.
Em Ode à Vida surge outra forma de estranhamento: as desconstruções da geometria. Em Bosh + 500 – Juízo final, óleo, objetos, tela sobre madeira, numa interpretação da imagística de Hieronymus Bosh, no tríptico de Walter Miranda, o Juízo Final transcorre entre efeitos da destruição ambiental e das hierarquias sociopolíticas, que submetem os povos ao poder da moeda, numa versão atual dos suplícios imaginados por Bosh: fogueiras mortais; incêndios climáticos; explosões atômicas, fome, miséria, povos em fuga. Entre ameaças, a Terra e os humanos convivem com imagens enigmáticas: astros, maçã, aves, avião, figuração da Justiça, pássaros, homem sem cabeça, entre outras figurações do realismo encantatório.
Bosh + 500 – Juízo Final (2016) – 73cm x 58 cm
Frequentes no trabalho de Walter Miranda, as desconstruções da geometria mostram desdobramentos da poiesis, trazendo o ser de razão ao mundo sensível, numa passagem da ciência à arte. E assim, a espacialidade geométrica adquire densidade, profundidade, flexões, planos reversíveis, movimento, ao que se somam as mutações da cor e da luz. O colorido transforma a neutralidade do espaço geométrico, tornando-o palco dos acontecimentos do mundo e vereda de contradições a serem superadas. E a Terra se recria entre símbolos do caos em busca da decifração, que se inicia na desconstrução da razão monológica e prossegue desguardando fronteiras para inconter limites. E uma criança deitada de bruços chama o visitante. Pela catarse, o fruidor deseja que a criança respire. E consegue reanimá-la. A práxis é possível.
Não foi por acaso que, em Ode à vida, Walter Miranda incluiu as Transposições Sinfônicas, seriações realizadas ao som das sinfonias de Beethoven, revivendo no Romantismo o ímpeto libertário do ser social.
Referendando no pensamento de Lukács a aproximação entre Estética e da Ética, a crítica ontológica se ocupa da transição da técnica à arte. Nesse trânsito, em minha análise da arte de Walter Miranda, reenfatizo a relevância do estranhamento espacial. As heterotopias englobam oposições e mesclas, tornando possível realizar o irrealizável. As seriações sugerem releituras dos caminhos da repetição e da reprodução, buscando alternativas de ordem dialética a partir da mimese. E, sob o ângulo das desconstruções da geometria, viabiliza-se a passagem da teoria ao sentimento, favorecendo a catarse, que acolhe o outro na sua completude e antropomorfiza o espaço.
Nessa convergência de instâncias técnico-expressivas há tensões imagísticas, entrecruzando franjas dos espaços poético, físico e social. Assim, na arte de Walter Miranda, referência aos Direitos Humanos transparece numa articulação do universal e do particular, exaltando a vida nos transcursos do lírico ao trágico e vice-versa. Em ambas as mostras, a oposição fundamental “vida x morte” se envolve no simbolismo do luminoso e do soturno, intensificando outras tensões que se acentuam pelas texturas. Note-se, ainda, que muitas imagens tangenciam o conceitual, ao perpassarem oposições que enfocam antropomorfização x fetichização.
Para sintetizar minha visitação a esse conjunto de trabalhos, vislumbro a vida ante a práxis do trabalho da mão sonhadora. A essa dádiva, acrescento: a mão que atua no processo artístico é diversa da mão que aperfeiçoa sapatos de sola vermelha, na linha dos valores de uso e de troca. A mão sonhadora resiste. E inventa o corpo sonhador.
Na arte de Walter Miranda, o corpo sonhador se reconhece nas figurações do homem vitruviano inserido em vários trabalhos. Expandindo braços e pernas, ele simboliza a espécie humana: macho e fêmea atuantes no tecido poético. Eles ultrapassam limites geométricos. Suas silhuetas dançam, para vencer a morte antecipada.
Referências bibliográficas
LUKÁCS, György. Para uma ontologia do ser social I. Trad. Carlos Nelson Coutinho, Mario Duayer, Nélio Schneider. 2. Ed. São Paulo: Boitempo, 2018.
MIRANDA, Walter. Cartografias de Gaia. São Paulo: FWM, 2018.
............................. Ode à vida. São Paulo: FWM, 2020.
[i] LUKÁCS, György. Para uma ontologia do ser social I. Trad. Carlos Nelson Coutinho, Mario Duayer, Nélio Schneider. 2. Ed. São Paulo: Boitempo, 2018, p. 27.
[ii] Ibidem, p.345.
[iii] Cf. MIRANDA, Walter. Cartografias de Gaia. São Paulo: FWM, 2018.
[iv]Cf. Idem. Ode à vida. São Paulo: FWM, 2020.
Brave New Middle Age
As I have written previously, I have expressed through my work the issues of daily life that afflict me conceptually and ideologically. So it was with the 1984 series "1984 - George Orwell's Stigma", "Brave New World" and "Seattle Project", among other, where I used pieces of computers and commonplace objects incorporated to the traditional technique of oil painting. In that way, the reason of existence of this exhibition could not be different.
Since the 1980s, when analyzing human attitudes in our time and trying to understand their trajectory through comparisons with the past, through personal studies of human history, I came across a strong parallel in history: the Middle Age.
The whole sense of violence; insecurity; loneliness; social despair; risks of epidemics; religious control; professional relations; spatial displacement; dependence on the government; social injustices; personal anxieties etc., which currently occur in our societies, have, in my view, a certain similarity with that historical period.
Hence this new series of works, the Brave New Middle Ages, was born where my intention is to provoke in the viewer reflections on the present and the future using the experiences of the past in an analogous approach to the cyclical space time continuum, although I imagine that time should not be represented exactly by a circle, but by a spiral (much more dynamic, as life is), which has some apparently cyclical characteristics, because it is born at one point and grows continuously passing through the same quadrants that cause certain similarities, but without repeat itself. The term "Brave" is derived from the series of paintings I painted based on the book Brave New World written by Aldoux Huxley.
Returning to the historical parallel mentioned above, we know that in the Middle Ages the movement of people from one region to another was very slow, as the fastest means of locomotion was carried out by means of horses. Today the speed of traveling in large cities reaches the same parameters as in the Middle Ages due to traffic jam. Within today's cities, it takes the same time as in the Middle Ages to travel 20 kilometers, for example.
Just as in the Middle Ages there was an informal structure for trade and provision of services and nowadays the informal economy has been strengthening in large cities. There were people who hired the services of artisans, leaving the raw material in their homes and periodically passing to pick up the finished product. Today, many companies outsource their activities by supplying raw materials to people hired to perform the service in their own homes and return it in the form of manufactured items. Other companies hire independent professionals to carry out delivery and transportation services, the well-known uberization. In addition, with the advancement of information technology, many professionals and executives are doing their work at home and sending the outcome to the companies that hired them, the so-called home office.
In the Middle Age, cities were surrounded by high walls and gates, which were closed at night, in order to protect themselves from external attacks. Next to these walls and gates, archers were stationed, watching the approach of possible enemies. As a parallel, we have today, closed condominiums or even commercial and residential areas, where security companies are hired for the same purpose as before. Thus, armed men guard the entrance and surroundings of residential complexes and communicate through walk talkies. The roads were also extremely dangerous, as are certain streets in today's large cities, and the labyrinthine formation of the streets in slums and poor regions does not differ much from the housing conditions in the Middle Ages. Basic sanitation was also precarious, as in many countries today.
By the time I painted the works in this series, the risk of serious epidemics was already a concern for some health authorities worldwide, due to the ease with which viruses and bacteria can be transmitted. This has raised the same concerns, as there were in the Middle Ages with plagues, now realized with the current Covid-19 pandemic.
The current spread of religions and spiritual manipulation today has not been much different from the Manichaeism practiced by religious leaders in the Middle Ages. Likewise, the proximity of the end of the last millennium provoked several catastrophist predictions similar to those of the end of the first millennium and associated to the end of the world. As if these issues were not enough, during the Middle Ages, there was also a violent and fierce religious persecution that is repeated today with great frequency and omnipresence.
Just as in the Middle Ages there was an informal structure for trade and provision of services and nowadays the informal economy has been strengthening in large cities. There were people who hired the services of artisans, leaving the raw material in their homes and periodically passing to pick up the finished product. Today, many companies outsource their activities by supplying raw materials to people hired to perform the service in their own homes and return it in the form of manufactured items. Other companies hire independent professionals to carry out delivery and transportation services, the well-known uberization. In addition, with the advancement of information technology, many professionals and executives are doing their work at home and sending the outcome to the companies that hired them, the so-called home office.
As in the Middle Ages, today's cities are real centers of new ideas, technologies and power, where rulers are generally overbearing and remain isolated from the population. However, the Middle Ages were not exactly an era of obscurantism as many think, and perhaps our era is also not as dark as some pessimists claim. In this sense, some believe that we are on the threshold of a new era. If this belief is real, let us hope that the New Renaissance does not take long to arrive, since everything has evolved and changed extremely quickly in our times (probably more significant events occurred in the 20th century than in all of human history).
With all this, the New Middle Ages that we live today, despite its dichotomies, seems to me as admirable as that experienced by our ancestors, and this encouraged me to continue expressing my disappointments and hopes through the logical and playful reuse of waste of our technological daily life against elements representative of the Middle Ages.
By respecting the persistent recurrence in the use of some symbolic elements, such as the image of the planet Earth, seeds and leaves, as well as images of dancers (used in other series of works), in this series I try to express the situation of man's existential imbalance in relation to the planet, today. In this way, I try to create an analogy, through the counterpoint between the elements referring to the Middle Ages and the elements representative of contemporary times.
The constructivist composition of the paintings through the Golden Ratio, used in its dimensions, generates pictorial plans achieved through textures and overlays of paint in splashed, wrinkled, abstract and gestural layers. However, these rigid geometric planes are attenuated with the use of the elegant and organic lines of the logarithmic spiral (for me associated with the rhythm of life and time) and with the use of chromatic harmonies resulting from extensive research on color.
The outcome, I believe, is formed by unconventional contemporary pictorial works, where the symbolic universe exerts great visual force on the spectator.
Walter Miranda – 1998/2022
OUR EVERY DAY WINDOW
Technique: Oil on wood
Dimensions: 100 X 60cm
Year: 1987-2020
The Our Every Day Window series presents three pairs of philosophical questions: Technology versus Nature; the Human Condition versus Understanding Infinity and Ideology versus Violence.
There are three works painted on wood that are articulated because the window leaves can be opened or closed.
Work 1 - Counterposition of the use of technology, represented by the space shuttle, to the detriment of nature protection, represented by a forest being penetrated by a road.
Work 2 - Counterposition of the basic condition of the human being, represented by hunger, and the infinity of the universe of which we are only a tiny part of the designs of Gaia, the Mother Earth.
Work 3 - Counterposition of the human search for freedom, represented by the hand of the statue of liberty, and the use of violence to achieve our goals, represented by the atomic mushroom
Walter Miranda - 1987/2020
Técnica: Óleo sobre madeira
Dimensões: 100 X 60cm
Ano: 1987-2020
A Série Janela Nossa de Cada Dia apresenta três pares de questões filosóficas: Tecnologia versus Natureza; a Condição Humana versus a Compreensão da Infinitude e Ideologia versus Violência.
São três trabalhos pintados sobre madeira e que são articuláveis porque as folhas das janelas podem ser abertas ou fechadas.
Quadro 1 – Contraposição do uso da tecnologia, representada pelo ônibus espacial, em detrimento da proteção à natureza, representada por uma floresta sendo penetrada por uma estrada.
Quadro 2 – Contraposição da condição básica do ser humano, representada pela fome, e a infinitude do universo do qual somos apenas uma ínfima parte dos desígnios de Gaia, a mãe Terra.
Quadro 3 – Contraposição da busca humana pela liberdade, representada pela mão da estátua da liberdade, e o uso da violência para atingir nossos objetivos, representado pelo cogumelo atômico.
Walter Miranda - 1987/2020
TO BE AND NOT TO HAVE, TO HAVE AND NOT TO BE, THAT IS ETHIOPIA!
In 1985, Ethiopia went through a very serious social crisis with thousands of inhabitants dying of hunger. Touched by this tragedy, I painted three paintings expressing my indignation and, inspired by Shakespeare, I used as the title for the series the phrase To be and not to have, to have and not to be, that is Ethiopia!
It seems to me that today, Ethiopia has overcome the crisis of 85 and is undergoing social and human development. Although there are still social problems, the country regained the dignity that all people deserve to have.
However, in other regions of the planet, there are still peoples and populations that live the drama of not having the essentials for survival while others waste, without the slightest concern for their fellowmen, just because they are thousands of kilometers away.
PAINTING 1 - The human essence (represented by the child) should be worth more than the territorial conventions that divide our species. This is exactly what I tried to convey in this painting, where the star represents the transcendental and the Earth the material, having as a philosophical basis the hypocritical conceptualism of flagged backyards. In this type of world system, the human being is on a scale supported by a world enveloped by technology used immeasurably.
PAINTING 2 - TThe world's political, economic and religious systems, represented by the painted flags, have the greatest share of responsibility for the inequality of the human condition, since they have sufficient power of influence to change this situation. Therefore, human life is found within a grid whose base is supported by some flags resting on electronic boards representing technological tools within which are found examples of injustice and violence against refugees, victims of the oppression and repugnance of the wealthiest.
PAINTING 3 - The child represents, in this case, all the exploited peoples who sustain, with their blood and sacrifice, the developed and rich countries. The greedy and vain attempt to try to suck a litt
WOMEN PAINTERS THROUGHOUT THE TIMES - PREHISTORY TO THE MIDDLE AGES
In this article I try to demonstrate the importance of women's role in society through time, addressing their professional and, consequently, social performance through the visual arts, specifically in the exercise of painting. It is surprising to note that, in general, art history books do not include women's performance until at least the first half of the 19th century. However, it is necessary to consider that, if from the second half of the 19th century their participation becomes evident, this is due to the struggle undertaken by them in search of social justice, professional recognition, civil rights and gender equality.
In this article I try to demonstrate the importance of women's role in society through time, addressing their professional and, consequently, social performance through the visual arts, specifically in the exercise of painting. It is surprising to note that, in general, art history books do not include women's performance until at least the first half of the 19th century. However, it is necessary to consider that, if from the second half of the 19th century their participation becomes evident, this is due to the struggle undertaken by them in search of social justice, professional recognition, civil rights and gender equality.
Cartographies of Gaia
Since the 1980s, the ecological theme has been a constant in my artistic production, as well as the incorporation of computer boards and other accessories of our technological daily life. The series of works called “CARTOGRAPHIES OF GAIA” presents works that reproduce several cartographic projections to treat the current situation of environmental degradation on the planet. Planetary degradation, caused by the actions of human beings eager for immediate enrichment, immeasurable material comfort and the assumption that, with technology, we can dominate nature.
The two and three-dimensional works were carried out using the traditional technique of oil painting and the incorporation of objects discarded by contemporary society. The joint use of these two apparently antagonistic factors (tradition and contemporaneity) generates the compositional challenge of obtaining a visual harmonization during the creative process of each work that, when completed, provokes in the observer philosophical reflections on the pollution of the environment and the consequent decline of the quality of life for man on the planet.
The support for the works are wood, plastic objects, aluminum sphere and the traditional canvas. Objects discarded by contemporary society were incorporated into the supports, such as: computer boards (sawn and ground or in pieces and shards), electronic components (processors, chips, speakers, diodes, capacitors and resistors), computer keyboards, credit cards, revolver bullets, meat grinders, scales, keys, padlocks, clocks and clock domes, PVC (polyvinyl chloride) plastic film, acupuncture needles and straws, jewelry, coins, burnt matchsticks , sharpened pencil peels, eraser sharps, shards of glass, etc. I also incorporated elements from nature, such as: seeds, shells, snails, earth, sand, stones, armadillo shell, etc.
Todos os componentes que eu usei foram colocados de acordo com um planejamento de ordem estética a fim de criar texturas e efeitos visuais peculiares que provocam a curiosidade do espectador. Em alguns quadros, pintei de forma realista (como detalhe) o mapa da região apresentada no quadro inteiro a fim de criar um elo que fecha o quadro em si mesmo, ou seja: o quadro é um detalhe dele mesmo e um detalhe dele é o quadro todo.
Cartografias de Gaia tem um total de 44 obras em que utilizei a interpretação artística de projeções cartográficas da seguinte forma:
All the components I used were placed according to an aesthetic planning in order to create unique textures and visual effects that provoke the viewer's curiosity. In some works, I painted realistically (as a detail) the map of the region presented in the entire frame in order to create a link that closes the frame in itself, that is: the frame is a detail of itself and a detail of it is the whole frame.
Cartographies of Gaia has a total of 44 works in which I used the artistic interpretation of cartographic projections as follows:
TWO-DIMENSIONAL WORKS
• 1 panel measuring 2.5m X 2.5m was made with printed circuit boards, computer keyboards and mice;
o It represents the extreme importance that man gives to the use of technology today. Therefore, the earth is represented as an egg, whose protective layer is composed of computer keyboards and the sperm that try to penetrate the egg are represented by mice;
• 5 works in oval, semicircular or multiform cartographic formats show all regions of the planet.
o These jobs were filled with credit cards (symbol of unbridled consumerism); keys (symbol of opening or closing of human paths), computer boards (symbol of current technology), several CDs (which represent the brilliant and apparent richness provided by current technology), acupuncture straws and clips, electronic mini buttons switches, diodes, electronic resistors and capacitors etc.
o One of the boards was made with 30,000 electronic diodes + 2,500 straws and 1,600 acupuncture needle clips + 500 capacitors and 400 electronic resistors. It also presents the five islands of plastic waste that float in a concentrated way in some parts of the oceans.
• 3 oval works with the world map represent the evolution of continents during geological ages.
o They represent the progression of technological pollution generated by humans over time, as the works establish an evolutionary parallel from the dawn of civilizations, when man spread across the planet using natural materials to conquer the environment, to the present day , in which man is polluting the planet in an unimaginable way. The tables were filled with guava seeds, sharpened pencil shavings and residues from electronic boards, plastics, metals, etc.;
• 2 paintings show the shapes of the first world maps, created in 1507, where the representation of the Americas appears for the first time.
o Um deles foi preenchido com placas de circuito eletrônico, sementes de goiaba e presilhas de agulhas de acupuntura e outro foi preenchido com lascas de lápis apontados, que representam o desmatamento europeu no século XVI. One of them was filled with electronic circuit boards, guava seeds, and acupuncture needle clips; and another was filled with sharpened pencil shavings, representing European deforestation in the 16th century.
• 6 circular paintings represent regions of the planet filled with the remains of objects that relate to the characteristics of each region, in order to represent the pollution caused by the excessive consumption of materials processed by the current industry.
o In South America, I used matchsticks to represent forest fires;
o In Europe, I used small pieces of computer boards to assemble a visual mosaic representing the various mini-regions that make up the continent;
o In Africa, I used sand due to the strong influence of the Sahara, as well as the drought in several regions of that continent;
o In North America, I used various computer chips and processors to represent the characteristic of the local technological society;
o In Asia, I used sharpened pencil shavings to represent the manual culture that still remains imperative in the region;
o In Oceania, I used computer board debris to represent the dominant industrial production in the region and which has been supplying the world market for electronic goods;
In the background of some works, I painted hands and feet (which represent the human occupation of the planet). In others, I handwritten a text, which follows linear compositional patterns specific to each work. This text, Letter from Chief Seattle, is known worldwide and has a very curious history:
American Indian chief Seattle gave a speech in 1855 during a peace treaty in which Indian lands were sold in exchange for a reservation. This speech was witnessed by an admirer of his, Henry A. Smith, who published it in a local newspaper in 1887, based on his recollections of the speech. In 1971, the speech was altered by screenwriter Ted Perry for a documentary on ecology. From then on, the text became known worldwide as Chief Seattle's reply letter to US President Franklin Pearce.
Although authorship is ambivalent, this communion of texts, in my view, presents a message, which is becoming increasingly current, for humanity. Therefore, I decided to include it in part of this series of works. Those interested in the full text can access it on my website: http://www.fwmartes.com.br/imprensa/114/carta-do-chefe-seattle
• 2 circular paintings show the terrestrial poles;
o In Antarctica I used electronic components debris to represent the marks of human and scientific occupation in the continent still little explored;
o In the Arctic I also used sharpened pencil shavings, however smeared with ink and oil, to represent the marks of human pollution on the sparsely inhabited continent.
• 1 circular work represents all continents seen simultaneously and filled with pieces of computer boards completely dirty with industrial oil (another symbol of technological pollution).
• 1 circular work, painted in gloomy colors, represents the image of the planet without water;
o In the painting “Without water”, I used a mixture of the tailings that I used in the other paintings to represent the continents and that, incorporated into the oil painting, become a dramatic representation Earth would be without water, based on an image captured by radar and released by the European Space Agency. This image is superimposed on a circle filled with shards of glass showing the limits of the water, which generates the rounded shape of the planet, instilled in our collective unconscious.
• 3 paintings with extravagant cartographies presente the world map filled with mini electronic push buttons, guava seeds and acupuncture needle clips;
o Two of them have a diamond shape, and the oceans were made in high relief using sawdust from printed circuit boards and electronics debris and the Arctic and Antarctic areas were filled with acupuncture needle clips. One of the works has the continents filled with 5,000 mini electronic push buttons and acupuncture needle clips.
o The third frame has a shape analogous to a heart, reproducing one of the various cartographic projections that exist.
• 2 works show the world map upside down.
o This is a tribute to the Uruguayan painter Joaquim Torres Garcia who, in the first half of the last century, postulated a new way of seeing the world without the conventional point of view used by Western culture.
• 1 oval painting shows the world map painted in reverse, as if the viewer of the work was inside the frame watching the viewers of the work;
• 1 oval painting, showing the map of the world “lying down”;
• 1 bilateral and circular painting (front and back) represents the real nature and beauty of the planet;
• 1 rectangular work made of wooden scraps, small computer boards and cut-out acupuncture straws, represent the visual beauty of smog;
• 3 rectangular works show the Earth cut out vertically, diagonally and horizontally, alluding to the environmental imbalance and the mismatch between the use of technology and integration with the planet in a sustainable way.
• 2 oval paintings present Africa and South America in evidence and the other continents in a faceted way;
o Africa and America are centered and realistically painted and the other continents are geometrically faceted. Thus, the central part is seen naturally and the sides are seen as if they were the faces of a diamond to represent the planet seen through a prism and as a small jewel immersed in the infinity of the universe.
THREE-DIMENSIONAL WORKSTHREE-DIMENSIONAL WORKS
• 1 modular object assembled in the form of a tower, made with computer keyboards;
o The base of the object is octagonal, the first module is hexagonal, the second module is pentagonal, the third module is quadratic, the fourth module is triangular, and the top is composed of a sphere .
• 3 “Books of Gaia”, whose pages are computer boards + objects, tell the process of human technological development and its relationship with the planet, Gaia.
• 2 objects, “The Doomsday Machine” and “The Vital Balance”, were made from the reuse of a meat grinder and a scale.
o The first features the Earth being ground in a meat grinder, and the second features the Earth on a scale while a man weighs the Sun and Moon. Both represent the objectification of nature and of universal philosophical values, transforming them into mere material values.
• 2 three-dimensional objects that present the Earth in the shape of an egg coupled to computer boards address the ecological issues that can affect the climate balance on the planet.
• 1 hexagon-shaped object represents e-waste dumped around the planet.
INSTALAÇÃO
• 1 installation composed by 1 circular and bilateral frame with the image of the planet painted on the front and back; scanned images; 38,000 electronic push buttons; contact acetate for keyboards; electronic time markers; plastic globe; abdominal subcutaneous syringe and a monitor case.
PERFORMANCE
• 1 performance in which the serious ecological situation of the planet due to human actions is addressed. The play lasts twenty minutes and counts with the participation of the group “Suspiro na Arte”. It presents the fictitious sale of the planet Earth by a super-powerful businessman who does not care about the social and economic injustices existing between countries.
In consonance with the paintings on the exhibition, the essential idea of the installation and the performance is to demonstrate the finitude of planet Earth and to remember that the weight of our actions puts the planet and our lives at risk.
Finally, it should be said that this series of works, in which I use the world map to express my current concerns emphasizes my "modus operandi", since in all my artistic production, I always try to unite the reason to emotion (base of my creative process) in order to create a work that makes use of traditional techniques incorporated into the elements of the current society to establish several metonymic relations that cause questions in the viewer. In this sense, the subjective language I use to express my feelings, yearnings, ideas and philosophical concepts enables the observer to draw their own conclusions on the subject covered in each series of work. The result is complicity or denial, it does not matter. Both form a type of involvement that refer to the essence of what I try to convey. Walter Miranda - August/2019
Confucius and the Five Virtues of the Wise Man
Unesp, the University of the State of São Paulo, through a partnership with the Confucius Institute, invited 15 artists to participate in the "The eye on China" project. Each artist received from Unesp the book "The Analects", to read and create a work based on the teachings of Confucius.
Reading the book I realized that Confucius based his teaching on three themes (study, friendship and nobleman) and that five factors are constant in his cognitive system of teachings, namely:
5 elements: metal, water, wood, fire and earth.
5 colors: white, black, green, red and yellow.
5 human qualities: gentle, kind, courteous, frugal and humble.
5 organs: lung, kidneys, liver, heart and spleen.
5 emotions: sadness, fear, irritability, joy and anxiety, reflection and concern.
Curiously, the elements are correlated with the colors: metal = white; water = black; wood = bluish green; Fire = red and earth = yellow.
Having this numerical principle in mind, I have idealized a geometric composition using rectangles and triangles which act as aesthetic elements and are always repeated in the same quantity. These rectangles and triangles serve as a basis for incorporating computer boards, Chinese ideograms representing the five emotions mentioned by Confucius, and visual references to the elements of nature; main colors; human qualities, etc.
In addition to Chinese, concepts I also had incorporated into the work Western concepts that I usually use in my paintings. So in each rectangle, I used silhouettes of dancers that direct the viewer's gaze to some visual elements present in each part of the work and in the center of I included a silhouette that resembles the Vitruvian man. In it I added a sixth ideogram that can be translated as "wise and intelligent man".
At the base of the painting I placed the silhouette of a computer, two hands holding a pen and a pencil, and I incorporated a pen, in an allusion that all the human qualities discussed by Confucius depend exclusively on education, no matter the time.
In the upper part of the painting I placed painted images of the planet earth, moon and the sun, a triad that follow my works long ago and tries to demonstrate that, above all, we are part of a system extremely harmonious and balanced and superior to our pretensions of mastery of nature.
Technique: oil + objects on wood.
Dimensions : 73 cm X 69,5cm
Year: 2016
Author : Walter Miranda
The Infinite Universes of Giordano Bruno
This work is a tribute to Giordano Bruno (1548-1600), an Italian theologian, philosopher, writer, mathematician, poet and Dominican friar.
He defended several theses considered apocryphal because it challenged dogmas of the Catholic Church. He also defended the idea that the universe, whose center would always depend on the observer, was infinite; that the stars were other suns surrounded by planets that could have life just like Earth.
Below are some extracts from the text About Infinity, the Universe and the Worlds written by Giordano Bruno:
Sixth - A rectilinear movement is not suitable for the earth or other principal bodies, nor can it be natural to them, but it is of the parts of these bodies which move to them from the various and different places of space, if they are not far removed. Page 16
Ninth - It is established that bodies and their parts do not have a determined position above or below, except as the discussion develops here or there. Page 16
Page 18 = As we consider more deeply the being and the substance of that in which we are immutable, we will be aware that death does not exist not only for us but also for any substance, while nothing diminishes substantially, but everything, sliding through infinite space, changes appearance.
Page 19 - God is not glorified in one, but in innumerable suns; not in a land, in a world, but in a million, I mean in infinities.
Page 22 - Senses are only meant to explain reason, to take cognizance, to indicate and to give partial witness, not to testify about everything, neither to judge nor to condemn. Because never, even perfect, are they free from any disturbance. Therefore the truth, in a small part, springs from that weak principle which are the senses, but does not reside in them.
Page 27 - I consider the universe "all infinite" because it has no limit, no term, no surface; I say not to be the universe "totally infinite" because every part of it can be finite, and each of the innumerable worlds it contains is finite.
Page 34 - Therefore, since there is no flesh that is not vulnerable, so it is not a body what does not resist ..... In this way we say that there is an infinite, that is, an ethereal immense region, in which there are innumerable and infinite bodies, like the earth, the sun, and the moon, which are called by us of worlds composed of fullness and void: for this spirit, this air, this ether, is not only around these bodies, but still penetrates them and are innate in all things.
Page 50 = There are, therefore, innumerable suns, there are infinite earths, which move around those suns, as we perceive these seven to revolve around this sun that is our neighbor.
Page 50 = The reason is that we can see the suns which are the greatest, but rather great bodies, but we cannot perceive the earths, which, being much smaller bodies, are invisible; in the same way that you do not oppose reason to the existence of other earths, even if they move around this sun, and do not manifest to us, either because of the greater distance or because of the smaller volume; that because they do not have much water surface, or because they do not have such a surface facing us and opposite to the sun, by means of which, like a clear mirror that receives the solar rays, they become visible. Page51 = But in any case, since the universe is infinite, it is necessary, after all, that there be more suns; for it is impossible for the warmth and light of a particular element to diffuse in the immensity, as Epicurus imagined, if it is true that the others count. Page 52 - Around those can move earths much larger or smaller than our earth. Page 53 - I affirm that the sun does not shine for the sun, the earth does not shine to the earth, no body shines in relation to itself, but each luminous body shines in the space around him. However, although the earth is a luminous body because of the rays of the sun that are incident on the crystalline surface, its light is not sensible to us, nor to those who are on this surface, but is perceived by those who are on the opposite side of the her. Page 56 = From this we can conclude that innumerable stars are like other moons, so many terrestrial globes, and so many worlds similar to this, around which this earth seems to move, in the same way that they seem to move and rotate around this earth. Why, then, do we want to state that there is a difference between these bodies and those if we can see such fitness?
Page 62 = So that there is not one world, one earth, one sun; but the worlds are as many as the light bulbs we see around us, which are no longer in a sky, in a place and in a receptacle, than this our world where we live is in a receptacle, in a place in a sky. Page 62 = …For it is impossible for a rational and a little attentive intelligence to imagine that they are deprived of similar or even better inhabitants or innumerable worlds, which manifest to us equal or better than ours; which are suns .... Page 63 – From this diversity and opposition depend the organization, the symmetry, the complexion, the peace, the concord, the composition, the life.
* Sobre o Infinito, O Universo e os Mundos – Giordano Bruno/Galileu Galilei/Tommaso Campanella – Editora Abril Cultural
TECHNIQUE: Oil + objects on wood
DIMENSiONS: 55 X 76 cm
YEAR: 2016
Walter Miranda - 2016
BOSCH + 500 - THE LAST JUDGMENT
This is a triptych commemorating the 500th anniversary of the death of the famous Dutch painter Hieronymous Bosch. It represents a reinterpretation of Bosch's painting called The Last Judgment, including the physical assembly of the articulating panel that opens as if it were a window.
The thematic comparison between the two works is based in the social issues of the late Middle Ages, represented by Bosch in his triptych, and various conflicting situations of the 21st century, such as war conflicts, ecological devastation, disrespect for life, pandemics etc.
Technique: Oil on canvas + objects on wood
Dimensions: 58 X 73 X 5cm
Year: 2016
Walter Miranda - 2016
From Plato's Cave to the Dichotomy of a Deadlock - IV
This is the fourth version of works based on “Plato's Cave,” an excerpt from the text “The Republic” written by the Greek philosopher Plato (c428-c348 BC). The text describes the situation of some men trapped in a cave with their backs to the cave opening and unable to look back or sideways. Thus, their only conception of the world is represented by the sounds they hear and the shadows they see of people passing in front of the cave and projecting them onto the wall in the background.
The painting has the shape of a diamond and the central area shows the exact moment when one of the men get free and grasp the reality of the world. The other geometric parts of the painting show some images of the ancient and contemporary societies.
The Four Elemenst of Nature and the Four Seasons of the Year
Two paintings addressing symbolic elements of ancient Greek classical philosophy. They were designed using my image and of my wife, Flavia, in the same position of Leonardo da Vinci Vitruvian Man.
Simultaneously with the philosophical message, I have worked the elements in a playful manner exploring compositional concepts, shape and color. Thus, the elements become symbolic and some (leaves, seeds, flowers shells etc.) represent the naturalism and the computer parts represent the domain of technology in today's society.
The paintings were divided according to the golden ratio that naturally generates logarithmic spirals as geometric divisions are created.
Work 1 - The four elements.
Four golden rectangles surrounding the Vitruvian image and in its interior are geometric shapes that have been generated using the logarithmic spiral provided by the golden ratio, a mathematical relationship used since antiquity.
The earth element was correlated with the generation of life through allusions to seeds and the female sexual organ. The shape of the elements of fire, water and air have their lines alluding to the sinuosity of flames, waves and clouds.
Beside the golden rectangles are small rectangles filled with objects that represent the four elements.
Work 2 - The four seasons.
In this picture, spring is related to flowers, summer to the heat of the sun, autumn to the colors of the leaves that fall at that time and winter to ice crystals. The shapes inserted in the golden rectangles were also obtained by means of logarithmic spirals.
The four elements of Nature - I
As in other series of paintings, this work represents the relationship between Man and nature through the philosophical, scientific and technological understanding that he has of the four elements of nature (earth, fire, water and air).
In the area that represents the earth I approached mother nature and the human correlation between this element and its use through technology.
The fire area shows the evolution between the domain of this element and the domain of the atom.
In the area related to water, I included some shells on printed circuit boards representing part of our marine food also provided by technology. The moon was placed inside a drop of water to relate it to the strong influence it has on the oceans.
In the representative area of the air I placed dancers valuing the celestial bodies, sun and moon and worshiping the mother Gaia, the planet Earth.
Above the four areas is the Earth's dome.
All elements of the frame are framed by printed circuit boards and RAM memory sticks, to reinforce the concept of unstructured technological development that caused the current ecological deadlock, as the exact sciences are more valued because it have provided material comfort, to the detriment of the human sciences, which seek sustainable development in harmony with the planet.
TECHNIQUE: OIL + WOODEN OBJECTS
DIMENSIONS: 20 X 80 CM
YEAR: 2014
Walter Miranda - 2014
Exaltação a Gaia XVIII - Primeiros Passos
Painting that is part of a recurring series over the years called Exaltation to Gaia.
Gaia is the Greek goddess who represents planet Earth and Mother Nature.
Generally, the paintings in this series exalt the beauty of life without major philosophical implications, so in all of her works in the series the planet Earth is the center of attention.
In this specific case, I address the journey of man from the dawn of civilization to the space conquest represented by the space shuttle and the journey of the space probes Pioneer 10 and 11, launched into space in 1972 and 1973 and the first man-made objects to leave the solar system.
Some of the images are reinterpretations of the information contained in a metal plate attached to the two probes that contain information about the location of the solar system, their starting point and the beings that created and sent them to space. The other images I believe are self-explanatory.
Walter Miranda - 2010
Technique: Oil + objetcts on wood (mdf)
Dimensions: 70 x 43 cm
Year: 2010
All Quiet on the New Millennium - II
The use of violence as an instrument of domination and excuse to achieve shady or dubious goals; the use of political, ideological and philosophical discourses in order to confuse people's reasoning and remain in power; manipulation of information in order to hide the truth, etc. Anyway, any kind of attitude that serves to justify the exploitation of the human being by the human being has always bothered me and the way I use to express my indignation against it is art. Recently, the destruction of the two WTC towers in New York caused the death of many innocents, shocking the western world that saw Dantesque scenes live. In my heart there was a dichotomy of feeling shocked by the cruel violence visually exposed in that act and at the same time revolted by the disguised violence of some rulers, a superpower and allied countries, which disrespect the most basic principles of civilized coexistence between peoples of different cultures. Unfortunately, these hypocrites have used the blood of the sacrificed as an excuse to continue to hold on to power and continue to exploit diverse peoples who live in strategic locations (economically and militarily), committing more atrocities and injustices against people as innocent as those who died in September of the last year.
The triptych All Quiet on the New Millennium - II is my protest against these attitudes that only increase the level of violence and injustice in the world, generating more dissatisfaction among the exploited populations and serving as a reason for more madness and desperate attitudes by radical minorities. The result of this type of manipulation is always the death of innocents on both sides.
These attitudes and their results are not new, but the leaders of several countries (on both sides of the conflicts) continue unscrupulously using the blood of the innocent to maintain their political positions, maintain their material comforts, increase their financial profits and justify their acts of violence against peoples and cultures that they do not understand. Not even the promise of a new world in this new millennium has been able to sensitize the world's leaders in relation to human respect and cultural differences. For this very reason, we remain at the mercy of the old risk of traditional, bacteriological wars or even of a nuclear catastrophe.
One part of the triptych features the stylized American flag from which missiles depart threatening Islamic culture, represented by the crescent moon with the star, and another part features two free-falling planes that threaten Western culture, represented by the torch of the statue of liberty. These two images are based on the arguments of the two cultures (Western and Islamic). These are two opposing views of the same problem, where the two parts call themselves liberators and call enemies of terrorists. It is interesting to note that the speeches of the leaders of both parts are so equal that, if we think about it, they have unmasked each other. They only continue to pretend to be good guys because they feel protected by the system they defend and because many of us continue to pretend that we don't see this macabre theater where innocent people continue to pay for sinners.
This work was painted on self-made cardboard with the images being hand painted or edited using computer graphics and the computer boards were sawn and ground. The triptych's composition is constructivist and follows the mathematical principles of the golden relationship, a mathematical relationship observed in various creations of nature and already found in the mathematical studies of ancient peoples. Through it, I determined the golden rectangles and located several points and focal areas where the symbolic elements that represent various situations directly related to the theme of the work were placed and that force the viewer to examine the metonymic relationships of the paintings, causing questions. In this sense, computer parts represent the mastery of technology in today's society, which has often served as an instrument of domination by the wealthiest peoples.
My goal with my social criticism through art is to provoke the viewer, using an artistic and subjective language. For me, the most important thing is the reflection that the viewer takes with him after observing my work. I do not dream of transforming the world with my questions, nor do I intend to show that art can eliminate violence in the world, but I like to provoke people to draw their own conclusions about the topic addressed.
Who has eyes, let him see!
Technique: oil + digitized images + objects on self-made cardboard
Dimensions: 153 x 96 cm
Year: 2002-2003
Walter Miranda – 2002/2003
Busch Doctrine - The Scarecrow of death
In 2003, the United States invaded Iraq on the charge that it produced weapons of mass destruction and that it supported al-Qaeda, a terrorist group accused of attacking the two towers in New York and the Pentagon in Washington DC. At the time, CIA director George Tenet had previously informed President Bush that Iraq did not produce the weapons mentioned and had no connection to al-Qaeda, whose chief Bin Laden, was in Afghanistan.
Still, Bush, aided by the United Kingdom, Australia and other nations, decided to invade Iraq.
After the invasion none of the charges were proven and the invasion created a destabilization of Iraq that culminated in the birth of the ISIS terrorist group.
The work called the Bush Doctrine - The Scarecrow of Death represents my opinion on American military actions in various parts of the world in the name of a policy that I consider to be wrong and malicious.
The vertical part of the painting represents the image of “Uncle Sam” (symbol of the USA). In the head there are several images showing Bush calling for the invasion and playing to dominate the world, as well as military armaments, world demonstrations against the invasion etc.
The trunk and arms are formed by allusions to the American flag. The white and red strips act as a trail left by six B-2 Spirit stealth planes and two F-21 fighters that simultaneously threaten the world continents that are inside of two HDs with the inscription "We" in several opposing languages to the inscription “US”, which also means “We” in English and at the same time United States.
The fifty stars of the USA flag are represented by spurs, in an allusion to Bush's Texan origin. The tails are represented by an eagle and the penis by a Tomahawk missile. The feet are represented by two Nighthawk F-117 stealth planes.
On the floor, a world map surrounded by bullets has several American flags planted on the continents representing the country's military presence in the world and the areas of the United States and the United Kingdom are filled with electronic circuit boards.
TECHNIQUE: OIL + OBJECTS ON WOOD
DIMENSIONS 205 X 185 CM (520 in X 470 in)
YEAR: 2003
* Used objects: Sawed and polished computers boards, spurs, disassembled HDs, brooches, acrylic, ornamental objects, etc.
Walter Miranda - 2003
Bush Doctrine - The Scarecrow of Death by Flávia Miranda
Among many others interesting pieces of artistic works, The plastic artist Walter Miranda presents a panel with works of art that provoke deep reflections about the Bush’s current political world. In the panel, there are works criticizing the current North American politics (called doctrine Bush) and the terrorist actions. At the same time, the artist exposes works honoring New York City, victim of the attacks of September 11, 2001. The works join the traditional technique of the oil painting (in contemporary style) with the new technological medias (because part of the works was accomplished through graphic computation). A work stands out of the group: BUSH DOCTRINE - SCARECROW OF DEATH. It consists of a scarecrow with the same high and breadth wise of an adult man with the world map at his feet. The work is painted with synthetic enamel and oil painting, with the insertion of sawed computer plate, disassembled HDs, brooches, bullets, spurs, images worked with graphic computation, etc. It represents a critic to the political actions of the president Bush in the world. It is such a picture as an installation, because it extends from the wall to the ground, inducing the spectator to look it from several points of view and to interact with the art object. The different images and parts that compose the work are linked to each other but at the same time they are independent. They provoke a thoughtful glance of the details and a dynamic glance due the reasoning correlation between the parts and the whole. Certainly it is an impressive work that leads to intelligent reflection on the current world political map. It is an outstanding exhibition of strong visual impact and conceptual aims but with subtleness in the implied sense.
São Paulo, April, 2004. Flávia Venturoli Miranda
O Livro de Gaia
THE GAIA’S BOOK
This work is composed by three computer boards, whose electronic components were rearranged in order to facilitate the inclusion of figurative elements in the composition. The group of the boards forms a book with three pages. Each page representing a stage of the human development at the Earth (Gaia).
The first page (book cover) approaches the mankind development from the Prehistory to the Antiquity.
In that period, Man learned how to observe the sky and to relate certain phenomena with the growth of the plants and, consequently, he learned how to cultivate them, a fundamental pass for mankind’s cultural and technological development. The inclusion of representative images of that development begins for the left inferior corner of the board where is the silhouette of a prehistoric man's hand, author of the drawings and paintings found in a cave. Close to that hand are the images of two mud plates with very old inscriptions, representing the invention of the writing. The board also has two compartments. The first one is divided in three parts, where there are some phases of a solar eclipse; the Earth and a wheat, the food supplied by the mother Earth (Gaia) and some elements that represent the nature, such as, shells, flowers, seeds, etc. The second compartment has a skeleton representing a prehistoric fossil, the same happening with a bone put outside of the compartment. Below a hour-glass represents elapsing of the time. Another image shows the oldest human footprints found until today. A plate with cuneiforms inscriptions is above the skeleton of "Lucy", supposedly the oldest ancestral of the human being. The Crux (some stars viewed in south hemisphere) is represented through metallic stars close to a chipped stone.
The second page approaches the period between the Antique and the Industrial Revolution. Several elements, such as, snails and spirals represent the mankind mathematical development reached by the observation of the nature. The solar eclipse wrapped up in clouds and a crow in foreground, represent the effective superstition in that period and the eye with the Earth in its center represents the religious mysticism. The illustration of a man (vitruvian man) drawn by Leonardo of Vinci (divided in two parts) represents the humanism in Renaissance; and the world map represents the great navigations and the sense of domain on the nature that Man believes to have when creating territorial divisions. Several mechanic pieces represent the development provided by the Industrial Revolution and the illusory human domain on the nature.
The third page approaches the period between the Industrial Revolution and the current moment.
Several images and elements in the board represent situations or the proper circumstances of our days. The images of the Earth, without water and with the hole in the ozone layer, represent the fragility of the humankind concerning the scarceness of the natural resources due to an exploration, which is not consistent with the quality of life that all we want. In that sense, the image of the Earth inside of a clock reinforces the concept of little time to avoid an apocalyptic situation. The atomic mushroom and the clock destroyed by the bomb in Hiroshima represent the dangers that the badly use of the technology can cause. A soldier's image and a bullet represent the current violence. The birds on a lot of garbage, a burned forest and the virus image attacking a cell represent the loss of quality of life currently. The images of spermatozoids trying to penetrate an ovule and the solar eclipse reflected on a hand demonstrates the understanding that the human knowledge brought on the phenomena of the nature. In the right inferior part of the board, the image of a hand on a computer board (my hand) makes a connection with the prehistoric man's hand (in the first page), as if it was a signature of the humanity, but also as if it represented a forbidden sign for the irresponsibleness practiced by the humanity nowadays.
Walter Miranda – June/2001
Brave New Millennium
In the beginning, it was the dictatorship! I have learned how to express my revolt through the political participation and to relieve my sadness through the artistic manifestation. My works clearly approached the (d)effects of the dictatorship. Those were years that marked, until today, my professional activity. Many critics and admirers of my work still hope to see in my pictures the same themes of that time.
The times changed. The democracy arrived for us, Brazilian, although late and incomplete, and our future is in our hands. Approving or not, the rulers which we chose are there because the majority voted on them and, that must be respected. After all, we struggled for it! One day we will learn with our mistakes and we will choose better our representatives. I think that the seed was planted in fertile soil and, little by little, the tree is growing.
In that way, my longings and concerns transcended for a new dimension related with the human condition in the planet and, even after the series "Brave New World", "The Seattle Project" and "Brave New Middle Age", I feel that the philosophical subject is not finished. Actually I continue being bothered by the directions that the humanity has been taking when doing thoughtless and inconsequent use of a powerful technology. It saddens me the fact that the planet produces daily enough for all human beings to have "our daily bread" and, despite of that, not all of them receive it. I notice that we continued to play as the owner of the nature.
We didn't act as part of the nature, but as owners of it. I feel that the revenge approaches!
In the series "Brave New Millennium" I introduce the human being, in situations of indifference, arrogance and prepotency behind the subjects that refer to the survival of the species in the planet. In that sense, the series approaches a technological idolatry that has been leaving human being dazzled, but impotent, behind the disastrous results provoked by his "Caprices" or "Caprichos" as would say Goya!
Exaltation to Gaia by Flávia Miranda
In 20 years of his artistic career, Walter Miranda, has always worked with philosophical and conceptual questions even social as global. In this new series called: SEATTLE PROJECT: GAIA EXALTATION, the artist uses as theme the planet Earth, by the free pictorial representation of the answer letter of the native Chief Seattle (1790/1866) to Franklin Pearce, the USA president, offer to buy the native land in exchange of a reservation at 1855. The text is a work of great beauty, poetry and philosophy, which predicts the situation of ecological degradation of the Earth, being a pertinent literature today.
Gaia, in Greek, Earth in English, was the first primordial divinity of the Greek theogony, after the chaos. From her everything begins, since her natural forces which are mythological represented by her children, until the creatures that live and depend on her, animals and plants. In this sense, the theme, Gaia Exaltation, becomes clear when we realize the presence of the planet image, in all works exhibited, at distintive conceptual circunstances.
Walter makes construtivists compositions by the Golden Section, which is a mathematical relation observed in many creations of the nature and present on the ancient mathematical studies. At the same time he eliminates the geometrical rigidity of the compositions creating an organic relation ship of the spaces through the logarithmic spiral. The conjunction of the compositive lines propitiates figurative forms which are integrated to the theme by the artist in a realistic or estylized way.
Using the traditional technique of oil painting, he takes textures and peculiar visual effects from the overlaps of sprinkled, wrinkled paint layers and abstract strokes whose are applied in the background and in the extrude figures, that were drawn in cardboard, cut and glued on the works during the compositional process
Through the incorporation of computers circuit boards (some sawed and others ground by emery to get geometrical and figurative forms like locomotives, trees, human, etc.), chips, batteries and many elements of our technological nowadays, besides nature elements, like seeds, leaves, ground, ashes, etc., Walter, illustrates in a simbolic manner the current dichotomy of nature versus the inconsequent use of the technology provoquing reflections about the environment question, the performance of the Man in the planet and the responsability on this ecologic llegacy, as we observe in the work where he incorporates a glass with pure water (taken from the Tietê river's beggining) and other with polluted water (taken from the same river but in Sao Paulo downtown).
Besides that, repeating some images like the Earth, ballerinas, children, and others, the artist creates a repertory that gives emphasis to a universe of meanings that has no intention to transmit decoded messages to the spectator, since the utilization of these elements as details, or foreground, obligates the spectator to examine the metonymic relations of each element provoquing him questions, in order to reach his own conclusions about the theme. The outcome is the complicit or the denial, because both are the two sides of the same coin.
The artist, therefore, looks for linking the reason to the sense, the basis of his creative process. The outcome is a work with totally new style, although based on traditional techniques, seeks its overcome and transformation and, because of that, has deep roots on history, culture and artistic language (as observed a Brazilian poetry, Ferreira Gullar), where the style is identificable by the compositive conception, and the technique (variable) is only a mere instrument. As wrote Kandinsk: "The artist must have something to say, for mastery over form is not his goal but rather the adapting of form to its inner meaning."
Flávia Venturoli – nov/98
Note: the letter is available at: https://www.fwmartes.com.br/imprensa/114/carta-do-chefe-seattle/eng
Brave Mew World
"The artist should have something to say because his duty is not to dominate the form, but to adapt it to a content." Wassily Kandinsky In this series of works that I am developing since 1986 and has as "leit motif" the homonymous book of the English writer Aldoux Huxley, I try to approach the subtle side of the individual's control, in compensation to the evident side, that I presented in the series "1984". I try to show in it that, due to the current technological modernity, we became apathetic, alienated and robotized, unable to question with depth the fundamental concepts brought by an unstructured development. Incapacity which was born from the indirect and subtle control of our longings and desires by the contemporary material comforts (true somas).
#img_1741#
In other words, the intention of this series is to represent the incoherence of the human development through three basic points, as follow:
With that in mind, I try to make questions on the supposed impunity of the human behavior, such as: Will we be, one day, interrogated on the inconsequencies practiced through a thoughtless technology? Will own descendants be our inquirers? Will a desolated and devastated planet be our supreme court? The pictures are planned on the golden section, a mathematical relationship observed in several creations of the nature and already found in the mathematical studies of the ancient people. Using it and doing some mathematical calculations, I try to solve, in a constructivist way, the challenge of the composition. After several studies, I determine the golden rectangles and I locate several focal points and areas where the symbolic elements will be stuck. The logarithmic spirals and the lines of force appear as natural consequence of the use of the golden section and rectangles. In some pictures, I created a type of "closed circle" where the picture is a detail of it and this detail is the own picture.
Now it is the moment of working the symbolic elements that will be stuck in the points or focal areas of each picture. Among the symbolic elements they are physical-mathematics formulas and artistic elements painted separated in cardboard, which represent the real human progress; seeds and leaves of trees (prepared to not deteriorate) which represent the naturalism; computer pieces which represent the domain of the technology in the current society; scrap elements; images produced through graphic computation, etc.
Some elements that are repeated in several works, could be classified as a repertoire which emphasizes a personal universe of meanings, since the use of those elements as details, or as foreground, forces the spectator to examine the metonymical relationships of the pictures, provoking him some questions. The objective is that he gets his own conclusions on the theme approached through a subjective language! The outcome is complicity or denial, it does not matter, because the both form a kind of involvement that lead him to the essence of what I am trying to transmit.
April/1992 Walter Miranda
Read about exhibits of this series:
Diário de Bauru - Walter Miranda e Evaldo Barros expõem na Casa da Cultura
Diário de Bauru - Telas e Poemas de Walter Miranda e Evaldo Barros, Amanhã na Casa da Cultura
Gazeta do Ipiranga - A Arte de Walter Miranda: Retratar a Realidade
FROM PLATO'S CAVE TO THE DICHOTOMY OF A DEADLOCK
Three works that represent human evolution on the planet. They were created based on the excerpt from the text The Republic written by the Greek philosopher Plato (c428-c348aC). In it, Plato describes the situation of some men trapped in a cave with their backs to the opening and unable to look back or to the sides. In this way, their only conception of the world is represented by the sounds they hear and the shadows projected on the wall of the cave by people who pass outside of the cave.
Work 1 - Representation of the human path from Prehistory to Antiquity. In the upper part, important moments are represented, such as the observation of the sky and the stars, the dominion of fire, the creation of ideograms, the alphabet, the discovery of mathematics, etc. At the bottom, inside a parable (mathematical curve) is one of the men who managed to break free and understand that the world is made up of different realities.
Work 2 - Representation of the same route from the Renaissance to the 20th century. At the top are several simple mathematical formulas up to variations of the famous Einstein formula, in addition to images of the planet and a printed circuit board that represents the technological domain. At the bottom are several objects generated by technology and inside the parable is a ballerina that represents the initial balance obtained with the domain of the physical sciences.
Work 3 - Representation of the current moment in which humanity finds itself. At the top is a representative image of the fission of the atom and another variant of the formula for the relationship between energy and matter. Next to it is an atomic mushroom associated with the technological domain of energy. At the bottom, the man is crestfallen and threatened by a bullet inside the mathematical parable, formed by several bullets.
Title: Plato's Cave to the Dichotomy of a Snag I, II and III.
Technique: Acrylic lacquer + objects on perforated iron plate
Dimensions: 61.8 X 100cm
Year: 1991/2001
Our Every Day Window
The Our Every Day Window series presents three pairs of philosophical questions: Technology versus Nature; the Human Condition versus Understanding Infinity and Ideology versus Violence.
There are three works painted on wood that are articulated because the window leaves can be opened or closed.
Window 1 - Counterposition of the use of technology, represented by the space shuttle, to the detriment of nature protection, represented by a forest being penetrated by a road.
Window 2 - Counterposition of the basic condition of the human being, represented by hunger, and the infinity of the universe of which we are only a tiny part of the designs of Gaia, the Mother Earth.
Window 3 - Counterposition of the human search for freedom, represented by the hand of the statue of liberty, and the use of violence to achieve our goals, represented by the atomic mushroom
Technique: Oil on wood
Dimensions: 100 X 60cm
Year: 1987-2020
Santo André holds its 5th Young Salon of Art
Diário do Grande ABC September 26, 1982.
Art Critic Enock Sacramento
Santo André holds its 5th Young Salon of Art The presence of three Andean artists among the five winners of the V Young Salon of Contemporary Art of Santo André, opened to artists from all over the country, shows that things are changing in the artistic panorama of Grande ABC. New names are emerging in our artistic environment, some revealed by the Young Salon, created in 1978 by Miller de Paiva e Silva for exactly this purpose: to give opportunity to those who do not yet have access to the commercial art galleries of São Paulo. In the first young salon of the three winners, two were from the region: Ronaldo Bertaco, from Santo André, and Antonio Carlos de Almeida Mattos, from São Caetano. At the II Salão, Luiz Antonio Boralli, from Mauá was one of the three artists awarded the City of Santo André award, of an acquisitive nature. From the III Salon onwards, there were five prizes. Mattos was once again contemplated with one of them. In the IV, two prizes were awarded in the region to Renato Brancatelli, from São Caetano and Fátima Palerme, Nil and Paula Caetano, from Santo André who presented a magnificent group creation: Tubular Transitions, today in the City Hall collection. Now in the V version of Young Salon, we have three more Santo André artists awarded: Fausto Ribeiro, Paula Caetano and Wilson de Oliveira Souza. Paula Caetano and Fátima Palerme, who are part of the Group form a Whole and Walter Miranda (this one from São Paulo, but with a great performance in the region), also received special mentions that, by mistake, were not included in the catalog. The judging committee of the V Youth Salon, made up of Ismael Assumpção, Antonio Zago and Jair Glass, selected only 95 works to appear in the show which, for this very reason, presents a good level in the group.
The award-winning works clearly show the jury's tendency to value the graphic. Fausto Ribeiro presents us with works done with pastel and colored pencils. Paula Caetano is present with three Intermezzos, with two colored pencils and a mixed technique, with references to musical themes. Wilson de Oliveira Souza has five works, three made in ink and ecoline and two objects. In all of them, the concern to explore the plastic possibilities of the line and to create a sober and contemporary work. However, the works with the greatest impact at the Salon are those that received mentions instead of awards: The Art Object by Walter Miranda, and the experimental work by the Group form a Whole, made up by Fátima Palerme and Paula Caetano. Miranda entered three works of great creative force and absolutely current: Argentinian Check, English Check, and Check mate, consisting of three chess boards with a map of the eastern and western Falklands / Falkland Islands. These islands are getting closer in sequence to finally occupy the internal area of the chess in checkmate, in which the stones, previously represented by Argentine and English flags, painted on a spherical half, are replaced by glasses of red content identified as' Argentinian blood' and English blood', a sharp criticism of war conflicts. The experimental work of Paula Caetano and Fátima Palerme has the same level of creativity, although with a completely different focus. This work of clear ritual sense has been modified by invited and interested people. It is, therefore, an open work, which foresees the participation of the spectator. Friday it was modified by us, together with the architect Wilson Stanziani, from Santo André. The Youth Salon of Contemporary Art in Santo André has the flavor of spontaneous things and the strength of new sensibilities. It is already an important event in the artistic movement of Greater São Paulo. Be sure to see.
Social Transpositions
Everything that human beings do has a social function. However, within Art, I believe that at the very moment of creation, the work must have a social concern. The function will be the consequence. Therefore, in the series of oils that I developed and presented in 1981, I decided to address the socioeconomic differences that are representative of Brazilian society.
The initial idea was to present a scenario that presented “both sides of the same coin”. However, it would be pointless to use conventional situations, as the idea would not achieve the intended impact. That way, after some studies, I came to Social Transpositions.
I used the child as the main element due to its non-misrepresentation of concepts, which expresses for me, a rest of hope in our society. In all works, both rich and poor children look healthy to exactly reinforce the impression of purity, despite the social and conceptual oppression imposed by us adults.
For this reason, the paintings are presented in pairs with children in identical positions, but in opposite social conditions, in order to show human equality in natural terms and social injustice in human terms.
Walter Miranda April/1981
Walter Miranda at the Shopping News Arts Center
August 30, 1981 Shopping News/City News - Visual Arts
Walter Miranda Walter Miranda at the Shopping News Arts Center opens the openings of a busy week. Tomorrow, at 8:30 p.m., he will exhibit 24 works in oil on canvas and cardboard, all using children as the main element. “For me, children represent a remnant of hope in our society,” explains Walter. Social Transpositions is the title of the artist’s first solo exhibition.