Walter Miranda
Artista Plástico

Trabalhos do Artista

Série

Cartografias de Gaia

– Listando 46 itens

Réquiem a Gaia - Fecundationis Artificiosae

2018

    – Objetos

    – Questões Filosóficas

    – Cartografias de Gaia

    – Réquiem a Gaia

Réquiem a Gaia - UTI de Foucault

2018

    – Objetos

    – Questões Filosóficas

    – Cartografias de Gaia

    – Objetos

    – Réquiem a Gaia

Réquiem a Gaia – Avesso do avesso

2018

    – Questões Filosóficas

    – Cartografias de Gaia

    – Réquiem a Gaia

Réquiem a Gaia – Em berço esplêndido.

2018

    – Questões Filosóficas

    – Cartografias de Gaia

    – Réquiem a Gaia

Réquiem a Gaia – In Totum 8

2018

    – Questões Filosóficas

    – Cartografias de Gaia

    – Réquiem a Gaia

Réquiem a Gaia – Torre de Babel

2018

    – Objetos

    – Questões Filosóficas

    – Cartografias de Gaia

    – Objetos

    – Réquiem a Gaia

Réquiem a Gaia – Universalis Cosmographia - II

2018

    – Questões Filosóficas

    – Cartografias de Gaia

    – Réquiem a Gaia

Réquiem a Gaia – Universalis Cosmographia – I

2018

    – Questões Filosóficas

    – Cartografias de Gaia

    – Réquiem a Gaia

Livro do Porto

2017

    – Objetos

    – Questões Filosóficas

    – Cartografias de Gaia

    – Livro de Gaia

    – Objetos

    – Outras

O nosso lixo eletrônico de cada dia!

2017

    – Objetos

    – Questões Filosóficas

    – Cartografias de Gaia

    – Objetos

    – Réquiem a Gaia

Réquiem a Gaia – Cartografia romântica

2017

    – Questões Filosóficas

    – Cartografias de Gaia

    – Réquiem a Gaia

Réquiem a Gaia – In Totum 5

2017

    – Questões Filosóficas

    – Cartografias de Gaia

    – Réquiem a Gaia

Réquiem a Gaia – In Totum 7

2017

    – Questões Filosóficas

    – Cartografias de Gaia

    – Réquiem a Gaia

Réquiem a Gaia – In Totum 8

2017

    – Questões Filosóficas

    – Cartografias de Gaia

    – Réquiem a Gaia

Descompasso I

2014

    – Questões Filosóficas

    – Cartografias de Gaia

    – Réquiem a Gaia

Descompasso II

2014

    – Questões Filosóficas

    – Cartografias de Gaia

    – Réquiem a Gaia

Descompasso III

2014

    – Questões Filosóficas

    – Cartografias de Gaia

    – Réquiem a Gaia

Desequilíbrio Tecnológico

2014

    – Questões Filosóficas

    – Cartografias de Gaia

    – Réquiem a Gaia

Equilíbrio Natural

2014

    – Questões Filosóficas

    – Cartografias de Gaia

    – Réquiem a Gaia

Está nos Olhos de Quem Vê I

2014

    – Questões Filosóficas

    – Cartografias de Gaia

    – Réquiem a Gaia

Está nos Olhos de Quem Vê II

2014

    – Questões Filosóficas

    – Cartografias de Gaia

    – Réquiem a Gaia

O Norte É Aqui I

2014

    – Questões Filosóficas

    – Cartografias de Gaia

    – Réquiem a Gaia

O Norte É Aqui II

2014

    – Questões Filosóficas

    – Cartografias de Gaia

    – Réquiem a Gaia

Ocupação Espacial

2014

    – Questões Filosóficas

    – Cartografias de Gaia

    – Réquiem a Gaia

Ovo de Colombo !

2014

    – Objetos

    – Questões Filosóficas

    – Cartografias de Gaia

    – Objetos

Reflexões Tecnológicas

2014

    – Questões Filosóficas

    – Cartografias de Gaia

    – Réquiem a Gaia

Réquiem a Gaia - Sem Água

2014

    – Questões Filosóficas

    – Cartografias de Gaia

    – Réquiem a Gaia

Mais obras 'Cartografias de Gaia'

Catálogo Cartografias de Gaia

Texto do Catálogo da exposição Cartografias de Gaia realizana na galeria Nilton Zanotti do Palácio das Artes em Praia Grande e no Centro Cultural Correios em São Paulo


 


CARTOGRAFIAS DE GAIA de Walter Miranda


Desde os anos 1980, a temática ecológica tem sido constante em minha produção artística, assim como a incorporação de placas de computadores e outros acessórios do nosso cotidiano tecnológico. A série de trabalhos denominada “CARTOGRAFIAS DE GAIA” apresenta obras que reproduzem diversas projeções cartográficas para tratar da situação atual de degradação ambiental no planeta. A degradação planetária, provocada pelas ações do ser humano ávido por enriquecimento imediato, conforto material desmesurado e pela presunção de que, com a tecnologia, podemos dominar a natureza.


Os trabalhos bi e tridimensionais foram realizados por meio da utilização da tradicional técnica da pintura a óleo e da incorporação de objetos descartados pela sociedade contemporânea. A utilização conjunta desses dois fatores aparentemente antagônicos (tradição e contemporaneidade) gera o desafio compositivo de obter uma harmonização visual durante o processo criativo de cada trabalho que, quando concluído, provoca no observador reflexões filosóficas sobre a poluição do meio ambiente e o consequente declínio da qualidade de vida do homem no planeta.


O suporte para os trabalhos são a madeira, objetos de plástico, esfera de alumínio e a tradicional tela. Nos suportes foram incorporados objetos descartados pela sociedade contemporânea, tais como: placas de computador (serradas e esmerilhadas ou em pedaços e cacos), componentes eletrônicos (processadores, chips, alto-falantes, diodos, capacitores e resistores), teclados de computador, cartões de crédito, balas de revólver, moedores de carne, balanças, chaves, cadeados, relógios e cúpulas de relógios, filme plástico de PVC (poli cloreto de vinila), canudos e presilhas de agulhas para acupuntura, bijuterias, moedas, palitos de fósforo queimados, cascas de lápis apontados, farelos de borracha, cacos de vidro etc. Também incorporei elementos da natureza, tais como: sementes, conchas, caracóis, terra, areia, pedras, casco de tatu etc.


Todos os componentes que eu usei foram colocados de acordo com um planejamento de ordem estética a fim de criar texturas e efeitos visuais peculiares que provocam a curiosidade do espectador. Em alguns quadros, pintei de forma realista (como detalhe) o mapa da região apresentada no quadro inteiro a fim de criar um elo que fecha o quadro em si mesmo, ou seja: o quadro é um detalhe dele mesmo e um detalhe dele é o quadro todo.


Cartografias de Gaia tem um total de 44 obras em que utilizei a interpretação artística de projeções cartográficas da seguinte forma:


OBRAS BIDIMENSIONAIS


• 1 painel medindo 2,5m X 2,5m foi feito com placas de circuito impresso, teclados de computador e mouses;


o Esse trabalho apresenta o planeta Terra como um óvulo sendo fecundado pela tecnologia humana. Ele representa a importância extrema que o homem dá ao uso da tecnologia atualmente. Por isso, o planeta foi pintado sobre tela e encontra-se sobre um mundo plano preenchido por placas eletrônicas. Assim, a terra é representada como um óvulo, cuja camada de proteção é composta por teclados de computador e os espermatozoides que tentam penetrar o óvulo são representados por mouses. Ironicamente, o único mouse espermatozoide que consegue penetrar a capa do óvulo tem a marca “Clone”.


• 5 quadros em formatos cartográficos ovais, semicirculares ou multiformes apresentam todas as regiões do planeta.


o Esses trabalhos foram preenchidos com cartões de crédito (símbolo do consumismo desenfreado);chaves (símbolo de abertura ou encerramento de caminhos humanos), placas de computador (símbolo da tecnologia atual), diversos CDs (que representam a brilhante e aparente riqueza proporcionada pela tecnologia atual), canudos e presilhas de acupuntura, mini interruptores eletrônicos, diodos, resistores e capacitores eletrônicos etc.


o Um dos quadros foi feito com 30.000 diodos eletrônicos + 2.500 canudos e 1.600 presilhas de agulhas de acupuntura + 500 capacitores e 400 resistores eletrônicos. Ele também apresenta as cinco ilhas de resíduos plásticos que flutuam de forma concentrada em algumas partes dos oceanos.


• 3 quadros ovais com o mapa-múndi representam a evolução dos continentes durante as eras geológicas .


o Eles representam a progressão da poluição tecnológica gerada pelos humanos ao longo do tempo, pois os trabalhos estabelecem um paralelo evolutivo desde os primórdios das civilizações, quando o homem se espalhou pelo planeta usando materiais naturais para conquistar o meio ambiente, até os dias de hoje, em que o homem está poluindo o planeta de forma inimaginável. Os quadros foram preenchidos com sementes de goiaba, lascas de lápis apontados e resíduos de placas eletrônicas, plásticos, metais etc.;


• 2 quadros apresentam as formas dos primeiros mapas-múndi, criados em 1507, onde aparece pela primeira vez a representação das Américas.


o Um deles foi preenchido com placas de circuito eletrônico, sementes de goiaba e presilhas de agulhas de acupuntura; e outro foi preenchido com lascas de lápis apontados, que representam o desmatamento europeu no século XVI.


• 6 quadros circulares representam regiões do planeta preenchidas com restos de objetos que se relacionam com as características de cada região, a fim de representar a poluição causada pelo consumo excessivo de materiais processados pela indústria atual.


o Na América do Sul, usei palitos de fósforo para representar as queimadas florestais;


o Na Europa, usei pequenos pedaços de placas de computador para montar um mosaico visual representativo das diversas minirregiões que compõem o continente;


o Na África, usei a areia devido à influência marcante do Saara, bem como da seca em diversas regiões daquele continente;


o Na América do Norte, usei diversos chips e processadores de computador para representar a característica da sociedade tecnológica local;


o Na Ásia, usei cascas de lápis apontados para representar a cultura manual que ainda hoje se mantém imperativa na região;


o Na Oceania, usei detritos de placas de computador para representar a dominante produção industrial na região e que tem suprido o mercado mundial de bens eletrônicos;


Ao fundo de alguns quadros, pintei mãos e pés (que representam a ocupação humana do planeta). Em outros, manuscrevi um texto, que segue padrões lineares compositivos específicos de cada trabalho. Este texto, Carta do Chefe Seattle, é conhecido mundialmente e tem uma história muito curiosa:O chefe indígena norte-americano Seattle fez um discurso, em 1855, durante um tratado de paz em que as terras indígenas foram vendidas em troca de uma reserva. Esse discurso foi presenciado por um admirador seu, Henry A. Smith, que o publicou em um jornal local em 1887, baseado em suas lembranças sobre o discurso.Em 1971, o discurso sofreu alterações feitas pelo roteirista, Ted Perry, para um documentário sobre ecologia. A partir daí, o texto passou a ser conhecido mundialmente como a carta resposta do Chefe Seattle ao presidente norte-americano Franklin Pearce.Embora, a autoria seja ambivalente, essa comunhão de textos, a meu ver, apresenta uma mensagem, que se torna cada vez mais atual, para a humanidade. Por isso, resolvi incluí-la em parte desta série de trabalhos. Os interessados na íntegra do texto podem acessá-lo em meu site: http://www.fwmartes.com.br/imprensa/114/carta-do-chefe-seattle


• 2 quadros circulares apresentam os polos terrestres;


o Na Antártida usei detritos de componentes eletrônicos para representar as marcas da ocupação humana e científica no continente ainda pouco explorado;


o No Ártico também usei cascas de lápis apontados, porém sujas com tinta e óleo, para representar as marcas da poluição humana no continente pouco habitado.


• 1 quadro circular representa todos os continentes vistos simultaneamente e preenchidos com pedaços de placas de computador completamente sujas com óleo industrial (outro símbolo da poluição tecnológica).


• 1 quadro circular, pintado em cores soturnas, representa a imagem do planeta sem água;


o No quadro “Sem Água”, usei uma mistura dos rejeitos que usei nos demais quadros para representar os continentes e que, incorporados à pintura a óleo, transformam-se em uma representação dramática de uma imagem captada por meio de radar e divulgada pela Agencia Espacial Europeia, do que seria a Terra sem a água. Essa imagem está sobreposta a um círculo preenchido com cacos de vidros mostrando os limites da água, que gera a forma arredondada do planeta, incutida em nosso inconsciente coletivo.


• 3 quadros com cartografias extravagantes apresentam mapa-múndi preenchido com mini botões eletrônicos de pressão, sementes de goiaba e presilhas de agulhas de acupuntura;


o Dois deles têm a forma losangular, sendo que os oceanos foram feitos em alto relevo usando serragem de placas de circuito impresso e detritos de componentes eletrônicos e as áreas do Ártico e da Antártida foram preenchidas com presilhas de agulhas de acupuntura. Um deles tem os continentes preenchidos com 5.000 mini botões eletrônicos de pressão e presilhas para agulhas de acupuntura.


o O terceiro quadro tem a forma análoga a um coração, reproduzindo uma das diversas projeções cartográficas que existem.


• 2 quadros apresentam mapa-múndi de ponta cabeça.


o Trata-se de uma homenagem ao pintor uruguaio Joaquim Torres Garcia que, na primeira metade do século passado, postulou uma nova forma de ver o mundo sem o ponto de vista convencional usado pela cultura ocidental.


• 1 quadro oval apresenta o mapa-múndi pintado de forma inversa, como se o observador da obra estivesse dentro do quadro observando os espectadores do trabalho;


• 1 quadro oval, apresenta o mapa-múndi “deitado”;


• 1 quadro circular bilateral (frente e verso) representa a real natureza e beleza do planeta;


• 1 quadro retangular feito de retalhos de madeira, pequenas placas de computadores e canudos de acupuntura recortados, representam a beleza visual da poluição atmosférica;


• 3 quadros retangulares apresentam a Terra recortada vertical, diagonal e horizontalmente aludindo ao desequilíbrio ambiental e o descompasso entre o uso da tecnologia e a integração com o planeta de forma sustentável.


• 2 quadros ovais apresentam a África e a América do Sul em evidência e os demais continentes de forma facetada;


o A África e a América estão centralizadas e pintadas de forma realista e os demais continentes estão geometricamente facetados. Assim, a parte central é vista de forma natural e as laterais como se fossem as faces de um diamante para representar o planeta visto por um prisma e como uma pequena joia imersa na infinitude do universo.


OBRAS TRIDIMENSIONAIS


• 1 objeto modular montado em forma de torre, feito com teclados de computadores;


o A base do objeto tem a forma octogonal, o primeiro módulo tem a forma hexagonal, o segundo módulo tem a forma pentagonal, o terceiro módulo tem a forma quadrática, o quarto módulo tem a forma triangular e a parte superior é composta por uma esfera.


 


• 3 “Livros de Gaia”, cujas páginas são placas de computador + objetos, contam o processo do desenvolvimento tecnológico humano e sua relação com o planeta, Gaia.


• 2 objetos, “A Máquina do Juízo final” e “O Equilíbrio Vital”, foram executados a partir do reaproveitamento de um moedor de carne e uma balança.


o O primeiro apresenta a Terra sendo moída em um moedor de carne, e o segundo apresenta a Terra em uma balança enquanto um homem avalia o Sol e a Lua. Ambos representam a coisificação da natureza e de valores filosóficos universais transformando-os em meros valores materiais.


• 2 objetos tridimensionais que apresentam a Terra em forma de ovo acoplada sobre placas de computador abordam as questões ecológicas que podem afetar o equilíbrio climático no planeta.


• 1 objeto em forma sextavada representa o lixo eletrônico despejado ao redor do planeta.


INSTALAÇÃO


• 1 instalação composta de 1 quadro circular e bilateral com imagem do planeta pintada na frente e no verso; imagens digitalizadas; 38.000 botões eletrônicos de pressão; acetato de contato para teclados; marcadores eletrônicos de tempo; globo de plástico; tampo de monitor e seringa subcutânea abdominal.


PERFORMANCE


• 1 performance em que é abordada a grave situação ecológica em que o planeta se encontra devido às ações humanas. A peça tem duração de vinte minutos e conta com a participação do grupo “Suspiro na Arte”. Nela é apresentada a venda fictícia do planeta Terra por um empresário superpoderoso e que não se importa com as injustiças sociais e econômicas existente entre os países.


Em consonância com os quadros expostos, a ideia essencial da instalação e da performance é demonstrar a finitude do planeta Terra e lembrar que o peso das nossas ações coloca em risco o próprio planeta e as nossas vidas.


Finalmente, cabe dizer que esta série de trabalhos, em que uso o mapa-múndi para expressar minhas preocupações atuais enfatiza meu “modus operandi”, já que em toda a minha produção artística, procuro sempre unir a razão à emoção (base de meu processo criativo) a fim de criar uma obra que faz uso de técnicas tradicionais incorporadas a elementos da sociedade atual para estabelecer diversas relações metonímicas que provocam questionamentos no espectador.


Nesse sentido, a linguagem subjetiva que uso para expressar meus sentimentos, anseios, ideias e conceitos filosóficos possibilita que o observador tire suas próprias conclusões sobre o tema abordado em cada série de trabalho. O resultado é a cumplicidade ou a negação, não importa. Ambas formam um tipo de envolvimento que remetem à essência do que tento transmitir.


                                                                                                                               Walter Miranda - agosto/2019


 

  Cartografias de Gaia: heterotopias poéticas na arte de Walter Miranda

 


Cartografias de Gaia: heterotopias poéticas na arte de Walter Miranda


 


   Mirian de Carvalho - Critica de Arte / RJ       Membro da Associação Brasileira de Críticos de Arte - ABCA


 


  A produção artística de Walter Miranda traz questões relevantes ao campo das expressões artísticas contemporâneas, em especial a partir da mostra intitulada Cartografias de Gaia, apresentada no Centro Cultural Correios, em São Paulo, e no Palácio das Artes, em Praia Grande, 2018. Em Cartografias de Gaia, o motivo em foco é o mapa-múndi desdobrado em imagens várias, nas quais o artista realiza interferências espaciais em inúmeros planisférios e globos terrestres, para tematizar ameaças à vida da Terra e a todas as vidas aqui pulsantes, diante das crescentes agressões ambientais, através dos tempos.


 


Para destacar o drama temático, Walter Miranda reúne os trabalhos em três módulos interativos: Réquiem a Gaia: peças bidimensionais e tridimensionais; UTI de Foucault: instalação; e Vende-se Planetinha Azul!: performance. Nessa mescla que abrange a dramaturgia, o artista conduz estranhamento à ordem dos espaços de cada trabalho e toda a mostra, e convida o visitante a envolver-se na ambiência por meio de sinestesias e por meio do conceitual (https://youtu.be/DAEkMU6WrAk).


 


No módulo denominado Réquiem a Gaia, que engloba quadros e peças tridimensionais, a pintura a óleo assinala continentes, oceanos, polos e interferências nos mapas. Às áreas pintadas, aderem materiais diversos e utensílios de tamanhos pequeno e médio, tais como chaves, fósforos, teclados de computador, placas de circuito eletrônico, balas de revólver, aparas de lápis, cadeados, moedas, autofalantes, cartões de crédito, presilhas de agulhas de acupuntura, relógios, canudos, vidro moído, raspas de borracha, sementes, conchas marinhas, carapaças de animais, cúpulas de vidro e inúmeras outras coisas, caracterizando heterotopias.   


 


Nos quadros, variando de 93,4 cm x 58 cm a 244 cm x 244 cm, surgem texturas que, junto à pintura, revelam e ou sugerem profundezas, sulcos, ranhuras, sobreposições, contiguidades, porosidades, asperezas, queimadas etc., observando-se que os utensílios agregados à pintura são, por vezes, pintados. Quanto ao contorno dos quadros, há também estranhamento, visto que o planisfério se diversifica nos formatos retangular, circular, elíptico, entre outros, como nos três quadros denominados In Totum 6, In Totum 7 e Cartografia Romântica, em que os dois primeiros lembram losangos e o terceiro se aproxima do formato de um coração. Destaque-se, nesse recorte, a cartografia configurada por setores latitudinais do globo, em Universalis Cosmographia II.


Ao visitante são também dados a perceber os mapas em ângulos inusitados, por meio de recortes, inversões e espelhamento. Afeitos a essas diversidades, Descompasso I, Descompasso II, Descompasso III mostram visões da Terra seccionada por cortes horizontal, diagonal e vertical, respectivamente. E, em meio a invenções cartográficas, a América do Sul é posicionada ao Norte, numa feliz homenagem a Torres Garcia, em O Norte é Aqui I e O Norte é Aqui II, observando-se que, no segundo quadro, o mapa é mostrado em espelho, angulação também observada em Avesso do Avesso e no quadro intitulado Em berço esplêndido, em que o mapa se posiciona deitado.  


 


 No mesmo módulo, apresentando partes pintadas reunidas a múltiplos objetos, peças tridimensionais ressaltam, igualmente, a problemática da destruição do planeta, e configuram-se por técnicas e formatos incomuns.  Ergue-se, então, a Torre de Babel, numa arquitetura de material eletrônico e encimada por um globo de alumínio pintado. No mesmo segmento, Livro de Gaia I, Livro de Gaia II e o Livro do Porto são peças compostas por placas de computador, com a escrita simbolizada pelo agrupamento de utensílios diversificados. Nessa ambiência caracterizada pela junção das diferenças, Walter Miranda inseriu a Máquina do Juízo Final, onde a Terra é triturada por um moedor de carne. E, em meio a essa mescla do diverso, posicionam-se outros trabalhos que apresentam esperançoso movimento da vida vencendo a destruição, como Paz na Terra entre os Homens de Boa Vontade!


 


 Persistindo na aglomeração do diverso, Walter Miranda integrou à mostra o módulo denominado UTI de Foucault, Trata-se de instalação cenográfica alusiva ao adoecimento da Terra. E, no ciclo interativo que compõe o evento, o artista incluiu a performance Vende-se Planetinha Azul!, expondo desdobramentos do conceitual (https://youtu.be/n4J0vlpmjkk). Ao recorrer a procedimentos técnicos incomuns à pintura, Walter Miranda, por meio da poiesis, privilegiou a aglutinação de utensílios diversos, na organização dos espaços. Note-se que, neste escrito, a noção de poiesis se aplica aos procedimentos implícitos ao trabalho humano, que, perpassando estratos ideativos, cria dinâmica transformadora da matéria, da técnica e da tecnologia, gerando a dimensão poética no trabalho artístico.


 


Em todas as artes, subscreve-se uma poiesis, que, aos espaços e a outras esferas poéticas, entrecruza instâncias relacionadas aos espaços e a outros domínios do tecido sociocultural. Tal dinâmica transparece nas ambiguidades próprias das imagens poéticas, desconstruindo o signo linguístico e a sintaxe comum aos discursos. A essa desconstrução, surge uma linguagem nova, que inaugura espaços que se abrem às diferenças. No plano literário, de modo estrito na poesia, tais espaços são receptivos à enumeração caótica: seriação de elementos diferenciados e até contraditórios. Tal figura de linguagem está presente no ensaio de Jorge Luiz Borges que, numa enciclopédia chinesa, classifica animais na seguinte ordem:


 


a) pertencentes ao imperador, b) embalsamados, c) domesticados, d) leitões, e) sereias, f) fabulosos, g) cães em liberdade, h) incluídos na presente classificação, i) que se agitam como loucos, j) inumeráveis, k) desenhados com um pincel tão fino de pelo de camelo, l) et caetera; m) que acabam de quebrar a bilha, n) que de longe parecem moscas. (Apud Foucault, 1967: 3).


  


 Ao destacar essa mescla no texto de Borges, Foucault discorre sobre o conceito de heterotopia, como posicionamento de coisas diversas e próximas, num determinado espaço, que se torna inominável e impensável, inviabilizando-se nos planos geográfico e social, em virtude das diferenças que ocasionam “contágio” (Foucault, 1967: 3) pelo diverso. Nos estudos do filósofo, diante do poder disciplinar, que submete os corpos e pode determinar afastamento ou reclusão, as heterotopias serão enfocadas em outras obras, que abordam a proscrição das diferenças, como tem ocorrido ao longo da História.


  


A esse quadro, o autor acrescenta o surgimento do biopoder que, sendo de certa forma disciplinador, atua por meio do adestramento: “Portanto, estamos num poder que se incumbiu tanto do corpo quanto da vida, ou que se incumbiu, se vocês preferirem, da vida em geral, com o polo do corpo e o polo da população” (Foucault, 2005: 302). O biopoder pressupõe normas e modelos afetos à força de trabalho e à produção, e ganha vulto a partir da Revolução Industrial e, no decorrer do século XIX, em maior grau. A extensão desses dois poderes ratifica a impossibilidade do agrupamento pelo diverso, no mesmo lugar, visto que tudo deve ser normatizado. Tal questão, pertinente também ao campo da linguagem, já fora antecipada por Foucault em As palavras e as coisas: “As heterotopias inquietam, sem dúvida, porque minam a linguagem, porque impedem de nomear isto e aquilo, porque quebram os nomes comuns ou os emaranham, porque de antemão arruínam a sintaxe” (Foucault, 1967: 6).


 


 Por conduzir sua análise ao campo do poder, e não ao campo da poiesis, o filósofo remete as heterotopias ao domínio do “não lugar da linguagem” (Foucault, 1967:7), que se abre somente a um “espaço impensável” (Foucault, 1967: 4), o que ratifica a segregação do diverso, ou seja: o diverso, tido como desordem, se vê alijado da fala e do pensamento. Entretanto, definido neste texto o viés poético, ressalto, é exatamente esse o alcance desejável e eficaz da enumeração caótica: fundar heterotopias que embaralham a sintaxe dos discursos repetidos e ou ideológicos. E, assim, permitem dizer e tornar pensáveis e materializáveis as mesclas impensáveis nas hierarquias socioculturais que posicionam indivíduos em lugares fixos e normatizados de acordo com a estratificação social.


 


Sob esse aspecto, se consideramos a função social da produção artística, a poiesis se dispõe à ontogênese e à inclusão de toda sorte de diferenças. À dinâmica da poiesis, as heterotopias fundam espaços abertos à aglutinação das diversidades, tais espaços inscrevem-se no não lugar da linguagem, porque a poesia eclode no não lugar circunscrito às imagens, onde falam e ganham sentido o entretexto e os não ditos. Ao modo da poesia, em Cartografias de Gaia, as heterotopias assumem o lugar do pictórico e o do não pictural, assim como assumem o lugar do conceitual e do não conceitual. E, na mesma perspectiva, na instalação e na performance integradas a essa mostra, o cenário e as cenas expõem o encenado e o não encenado. Trata-se de dinâmica que, na fotografia, permite registrar o não clicado e o não enfocado, tal como nos revela Antonioni no filme Blow up.


 


Walter Miranda configura a mostra inteira por meio de heterotopias, que conduzem uma dialética. Ao jogo das oposições, o artista destaca a relevância da sustentabilidade ambiental em contraponto à irracionalidade no uso dos avanços tecnológicos que produzem lixo eletrônico, desmatamento, queima de florestas, vazamento de óleo nas águas, gases poluentes, aquecimento global, destruição da camada de ozônio. Ao confronto dialético, as heterotopias poéticas abalam a sintaxe dos discursos respaldados em ideologias, que ignoram políticas e padrões de responsabilidade ambiental.


Em Cartografias de Gaia, o abalo na sintaxe de tais discursos inicia-se quando o artista retira as coisas fixadas em lugares previsíveis. Posicionados fora da sala de aula, fora do atlas e do livro de Geografia, e configurados de modos diversos, os mapas-múndi expõem contradições que partem da técnica para constituir uma poética do espaço. E todos os módulos da mostra interagem num espaço que se ressignifica por meio de antíteses. Desse modo, destaca-se o contraste entre cores lúgubres e claras, entre sombras e luminosidade, referendando o simbolismo da oposição “morte x vida”.


 


 


Além da oposição que envolve o luminoso e o soturno, surgem tensões advindas das várias peças da mostra. Em meio ao trágico, há movimentos líricos que emergem em várias peças. Assim, ao quadro denominado Desequilíbrio Tecnológico, que sugere a morte da Terra, insurge-se o lirismo da vida na simbologia e no colorido intenso de Ovo de Colombo: um “globo” terrestre no formato oval. De modo sutil, um grito primal reverbera em Fecundationis Artificiose, visto que, circundada por teclados e mouses, a Terra se transforma num óvulo azul, iluminado e vivo. Ainda que por meio do artificial, surge o auspicioso sentido da luminosidade do azul, à expectativa da fecundação de um grande mapa-múndi acolhedor da vida.


Nessa fecundação, todos os trabalhos interagem num pertencimento transitivo. Cada um deles completa o outro, em ambiência concebida como espaço cenográfico, levando o visitante a habitar um grande mapa-múndi, onde pode atuar sem submissão às normas de controle do biopoder. Diante do contraste essencial, que opõe a morte e a vida nesse grande mapa-múndi, o corpo, chamado à escolha dos seus destinos, tem como opção o lastro da vida pulsante nas heterotopias poéticas a desarticular a sintaxe do funesto discurso da morte.


 


Só a vida permite diversidades. Só a poesia permite nomear e dizer o precioso inominável. Certa vez, disse Cecília Meireles: “A vida só é possível reinventada”.


 


Cartografias de Gaia: eis a reinvenção da vida nas heterotopias poéticas criadas por Walter Miranda.        


BIBLIOGRAFIA:


 


FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas.  Trad. Antônio Ramos Rosa. Lisboa: Portugália, 1967.


 ------------------------. Em defesa da sociedade. Trad. Maria Ermantina Galvão. São Paulo: Martins Fontes, 2005.


 MIRANDA, Walter. Cartografias de Gaia. São Paulo: FWM, 2020.


 


 


 


 


 


 

CARTOGRAFIAS DE GAIA por Walter Miranda

Desde os anos 1980, a temática ecológica tem sido constante em minha produção artística, assim como a incorporação de placas de computadores e outros acessórios do nosso cotidiano tecnológico. A série de trabalhos denominada “CARTOGRAFIAS DE GAIA” apresenta obras que reproduzem diversas projeções cartográficas para tratar da situação atual de degradação ambiental no planeta. A degradação planetária, provocada pelas ações do ser humano ávido por enriquecimento imediato, conforto material desmesurado e pela presunção de que, com a tecnologia, podemos dominar a natureza.


 


Os trabalhos bi e tridimensionais foram realizados por meio da utilização da tradicional técnica da pintura a óleo e da incorporação de objetos descartados pela sociedade contemporânea. A utilização conjunta desses dois fatores aparentemente antagônicos (tradição e contemporaneidade) gera o desafio compositivo de obter uma harmonização visual durante o processo criativo de cada trabalho que, quando concluído, provoca no observador reflexões filosóficas sobre a poluição do meio ambiente e o consequente declínio da qualidade de vida do homem no planeta.


 


O suporte para os trabalhos são a madeira, objetos de plástico, esfera de alumínio e a tradicional tela. Nos suportes foram incorporados objetos descartados pela sociedade contemporânea, tais como: placas de computador (serradas e esmerilhadas ou em pedaços e cacos), componentes eletrônicos (processadores, chips, alto-falantes, diodos, capacitores e resistores), teclados de computador, cartões de crédito, balas de revólver, moedores de carne, balanças, chaves, cadeados, relógios e cúpulas de relógios, filme plástico de PVC (poli cloreto de vinila), canudos e presilhas de agulhas para acupuntura, bijuterias, moedas, palitos de fósforo queimados, cascas de lápis apontados, farelos de borracha, cacos de vidro etc. Também incorporei elementos da natureza, tais como: sementes, conchas, caracóis, terra, areia, pedras, casco de tatu etc.


 


Todos os componentes que eu usei foram colocados de acordo com um planejamento de ordem estética a fim de criar texturas e efeitos visuais peculiares que provocam a curiosidade do espectador. Em alguns quadros, pintei de forma realista (como detalhe) o mapa da região apresentada no quadro inteiro a fim de criar um elo que fecha o quadro em si mesmo, ou seja: o quadro é um detalhe dele mesmo e um detalhe dele é o quadro todo.


 


Cartografias de Gaia tem um total de 44 obras em que utilizei a interpretação artística de projeções cartográficas da seguinte forma:


 


OBRAS BIDIMENSIONAIS


 


• 1 painel medindo 2,5mX2,5m foi feito com placas de circuito impresso, teclados de computador e mouses;


 


o   Ele representa a importância extrema que o homem dá ao uso da tecnologia atualmente. Por isso, a terra é representada como um óvulo, cuja camada de proteção é composta por teclados de computador e os espermatozoides que tentam penetrar o óvulo são representados por mouses;


 


• 5 quadros em formatos cartográficos ovais, semicirculares ou multiformes apresentam todas as regiões do planeta.


 


o   Esses trabalhos foram preenchidos com cartões de crédito (símbolo do consumismo desenfreado); chaves (símbolo de abertura ou encerramento de caminhos humanos), placas de computador (símbolo da tecnologia atual), diversos CDs (que representam a brilhante e aparente riqueza proporcionada pela tecnologia atual), canudos e presilhas de acupuntura, mini interruptores eletrônicos, diodos, resistores e capacitores eletrônicos etc.


 


o   Um dos quadros foi feito com 30.000 diodos eletrônicos + 2.500 canudos e 1.600 presilhas de agulhas de acupuntura + 500 capacitores e 400 resistores eletrônicos. Ele também apresenta as cinco ilhas de resíduos plásticos que flutuam de forma concentrada em algumas partes dos oceanos.


 


• 3 quadros ovais com o mapa-múndi representam a evolução dos continentes durante as eras geológicas .


 


o   Eles representam a progressão da poluição tecnológica gerada pelos humanos ao longo do tempo, pois os trabalhos estabelecem um paralelo evolutivo desde os primórdios das civilizações, quando o homem se espalhou pelo planeta usando materiais naturais para conquistar o meio ambiente, até os dias de hoje, em que o homem está poluindo o planeta de forma inimaginável. Os quadros foram preenchidos com sementes de goiaba, lascas de lápis apontados e resíduos de placas eletrônicas, plásticos, metais etc.;


 


• 2 quadros apresentam as formas dos primeiros mapas-múndi,  criados em 1507, onde aparece pela primeira vez a representação das Américas.


 


o   Um deles foi preenchido com placas de circuito eletrônico, sementes de goiaba e presilhas de agulhas de acupuntura; e outro foi preenchido com lascas de lápis apontados, que representam o desmatamento europeu no século XVI.


 


• 6 quadros circulares representam regiões do planeta preenchidas com restos de objetos que se relacionam com as características de cada região, a fim de representar a poluição causada pelo consumo excessivo de materiais processados pela indústria atual.


 


o   Na América do Sul, usei palitos de fósforo para representar as queimadas florestais;


 


o   Na Europa, usei pequenos pedaços de placas de computador para montar um mosaico visual representativo das diversas minirregiões que compõem o continente;


 


o   Na África, usei a areia devido à influência marcante do Saara, bem como da seca em diversas regiões daquele continente;


 


o   Na América do Norte, usei diversos chips e processadores de computador para representar a característica da sociedade tecnológica local;


 


o    Na Ásia, usei cascas de lápis apontados para representar a cultura manual que ainda hoje se mantém imperativa na região;


 


o    Na Oceania, usei detritos de placas de computador para representar a dominante produção industrial na região e que tem suprido o mercado mundial de bens eletrônicos;


 


Ao fundo de alguns quadros, pintei mãos e pés (que representam a ocupação humana do planeta). Em outros, manuscrevi um texto, que segue padrões lineares compositivos específicos de cada trabalho. Este texto, Carta do Chefe Seattle, é conhecido mundialmente e tem uma história muito curiosa: O chefe indígena norte-americano Seattle fez um discurso, em 1855, durante um tratado de paz em que as terras indígenas foram vendidas em troca de uma reserva. Esse discurso foi presenciado por um admirador seu, Henry A. Smith, que o publicou em um jornal local em 1887, baseado em suas lembranças sobre o discurso. Em 1971, o discurso sofreu alterações feitas pelo roteirista, Ted Perry, para um documentário sobre ecologia. A partir daí, o texto passou a ser conhecido mundialmente como a carta resposta do Chefe Seattle ao presidente norte-americano Franklin Pearce. Embora, a autoria seja ambivalente, essa comunhão de textos, a meu ver, apresenta uma mensagem, que se torna cada vez mais atual, para a humanidade. Por isso, resolvi incluí-la em parte desta série de trabalhos. Os interessados na íntegra do texto podem acessá-lo em meu site: http://www.fwmartes.com.br/imprensa/114/carta-do-chefe-seattle


 


• 2 quadros circulares apresentam os polos terrestres;


 


o   Na Antártida usei detritos de componentes eletrônicos para representar as marcas da ocupação humana e científica no continente ainda pouco explorado;


 


o    No Ártico também usei cascas de lápis apontados, porém sujas com tinta e óleo, para representar as marcas da poluição humana no continente pouco habitado.


 


• 1 quadro circular representa todos os continentes vistos simultaneamente e preenchidos com pedaços de placas de computador completamente sujas com óleo industrial (outro símbolo da poluição tecnológica).


 


• 1 quadro circular, pintado em cores soturnas, representa a imagem do planeta sem água;


 


o   No quadro “Sem Água”, usei uma mistura dos rejeitos que usei nos demais quadros para representar os continentes e que, incorporados à pintura a óleo, transformam-se em uma representação dramática de uma imagem captada por meio de radar e divulgada pela Agencia Espacial Europeia, do que seria a Terra sem a água. Essa imagem está sobreposta a um círculo preenchido com cacos de vidros mostrando os limites da água, que gera a forma arredondada do planeta, incutida em nosso inconsciente coletivo.


 


• 3 quadros com cartografias extravagantes apresentam mapa-múndi preenchido com mini botões eletrônicos de pressão, sementes de goiaba e presilhas de agulhas de acupuntura;


 


o   Dois deles têm a forma losangular, sendo que os oceanos foram feitos em alto relevo usando serragem de placas de circuito impresso e detritos de componentes eletrônicos e as áreas do Ártico e da Antártida foram preenchidas com presilhas de agulhas de acupuntura. Um deles tem os continentes preenchidos com 5.000 mini botões eletrônicos de pressão e presilhas para agulhas de acupuntura.


 


o   O terceiro quadro tem a forma análoga a um coração, reproduzindo uma das diversas projeções cartográficas que existem.


 


• 2 quadros apresentam mapa-múndi de ponta cabeça.


 


o   Trata-se de uma homenagem ao pintor uruguaio Joaquim Torres Garcia que, na primeira metade do século passado, postulou uma nova forma de ver o mundo sem o ponto de vista convencional usado pela cultura ocidental.


 


• 1 quadro oval apresenta o mapa-múndi pintado de forma inversa, como se o observador da obra estivesse dentro do quadro observando os espectadores do trabalho;


 


• 1 quadro oval, apresenta o mapa-múndi “deitado”;


 


• 1 quadro circular bilateral (frente e verso) representa a real natureza e beleza do planeta;


 


• 1 quadro retangular feito de retalhos de madeira, pequenas placas de computadores e canudos de acupuntura recortados, representam a beleza visual da poluição atmosférica;


 


• 3 quadros retangulares apresentam a Terra recortada vertical, diagonal e horizontalmente aludindo ao desequilíbrio ambiental e o descompasso entre o uso da tecnologia e a integração com o planeta de forma sustentável.


 


• 2 quadros ovais apresentam a África e a América do Sul em evidência e os demais continentes de forma facetada;


 


o   A África e a América estão centralizadas e pintadas de forma realista e os demais continentes estão geometricamente facetados. Assim, a parte central é vista de forma natural e as laterais como se fossem as faces de um diamante para representar o planeta visto por um prisma e como uma pequena joia imersa na infinitude do universo.


 


OBRAS TRIDIMENSIONAIS


 


• 1 objeto modular montado em forma de torre, feito com teclados de computadores;


 


o   A base do objeto tem a forma octogonal, o primeiro módulo tem a forma hexagonal, o segundo módulo tem a forma pentagonal, o terceiro módulo tem a forma quadrática, o quarto módulo tem a forma triangular e a parte superior é composta por uma esfera.


 


• 3 “Livros de Gaia”, cujas páginas são placas de computador + objetos, contam o processo do desenvolvimento tecnológico humano e sua relação com o planeta, Gaia.


 


• 2 objetos, “A Máquina do Juízo final” e “O Equilíbrio Vital”, foram executados a partir do reaproveitamento de um moedor de carne e uma balança.


 


o   O primeiro apresenta a Terra sendo moída em um moedor de carne, e o segundo apresenta a Terra em uma balança enquanto um homem avalia o Sol e a Lua. Ambos representam a coisificação da natureza e de valores filosóficos universais transformando-os em meros valores materiais.


 


• 2 objetos tridimensionais que apresentam a Terra em forma de ovo acoplada sobre placas de computador abordam as questões ecológicas que podem afetar o equilíbrio climático no planeta.


 


• 1 objeto em forma sextavada representa o lixo eletrônico despejado ao redor do planeta.


 


INSTALAÇÃO


 


• 1 instalação composta de 1 quadro circular e bilateral com imagem do planeta pintada na frente e no verso; imagens digitalizadas; 38.000 botões eletrônicos de pressão; acetato de contato para teclados; marcadores eletrônicos de tempo; globo de plástico; tampo de monitor e seringa subcutânea abdominal.


 


PERFORMANCE


 


• 1 performance em que é abordada a grave situação ecológica em que o planeta se encontra devido às ações humanas. A peça tem duração de vinte minutos e conta com a participação do grupo “Suspiro na Arte”. Nela é apresentada a venda fictícia do planeta Terra por um empresário superpoderoso e que não se importa com as injustiças sociais e econômicas existente entre os países.


 


Em consonância com os quadros expostos, a ideia essencial da instalação e da performance é demonstrar a finitude do planeta Terra e lembrar que o peso das nossas ações coloca em risco o próprio planeta e as nossas vidas.


 


Finalmente, cabe dizer que esta série de trabalhos, em que uso o mapa-múndi para expressar minhas preocupações atuais enfatiza meu “modus operandi”, já que em toda a minha produção artística, procuro sempre unir a razão à emoção (base de meu processo criativo) a fim de criar uma obra que faz uso de técnicas tradicionais incorporadas a elementos da sociedade atual para estabelecer diversas relações metonímicas que provocam questionamentos no espectador. Nesse sentido, a linguagem subjetiva que uso para expressar meus sentimentos, anseios, ideias e conceitos filosóficos possibilita que o observador tire suas próprias conclusões sobre o tema abordado em cada série de trabalho. O resultado é a cumplicidade ou a negação, não importa. Ambas formam um tipo de envolvimento que remetem à essência do que tento transmitir.


 


                                                                                                                      Walter Miranda - agosto/2019


 


 


 

Walter Miranda
Ateliê Oficina FWM de Artes
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