Atemporalidade
Durante a pandemia da covid-19, recolhido em meu ateliê devido ao Lockdown eu produzi 69 trabalhos que fizeram parte da exposição “Tempo Insular” realizada em novembro de 2022 no espaço Mahavidya Cultural. Dentre esses trabalhos incluem-se a série de três pinturas denominadas Atemporalidade 1, 2 e 3.
O título da série refere-se à conscientização de que o tempo ficou paralisado durante o isolamento. De repente, o planeta se tornou onipresente na mente das pessoas de forma atemporal, íntegro. Essa sensação me inspirou a criar esses três trabalhos que mostram todos os continentes simultaneamente em uma única imagem. Por isso, aproveitei a moldura de alguns relógios de parede que eu havia ganhado por estarem quebrados.
A disseminação da pandemia por todos os continentes fez com que a maioria dos povos tomasse consciência da finitude do planeta. Em todas as regiões a poluição atmosférica e sonora se reduziu drasticamente. O silêncio imperava pelas grandes cidades. A impossibilidade de locomoção causou em muitas pessoas a sensação de um tempo congelado em que nada de diferente acontecia e, para escapar da monotonia, muitos procuraram ocupar esse tempo estático com atividades físicas em suas casas ou por meio da internet. Com isso, o planeta teve um pequeno descanso do estresse causado pelas consequências das ações de ocupação territorial desorganizada e os seres humanos puderam rever conceitos filosóficos sobre a sua existência e sobre a qualidade de vida proporcionada pela tecnologia dominada atualmente. Se isso terá resultados positivos, só o tempo dirá.
XEQUE ARGENTINO - XEQUE INGLÊS - XEQUE MATE
Uma ação militar com a simples finalidade vangloriosa provoca uma reação militar mais ufanista ainda.
Como sempre, os conceitos político/militares superam os humanitários e, novamente, joga-se irresponsavelmente com vidas humanas.
Esse é o resumo do meu inconformismo, com esse tipo de atitude, representado nessa série que aborda a arrogância de uma ditadura militar e de uma potência bélica. Ambas apenas preocupadas apenas com questões hipócritas, uma relacionada com a propaganda governista de uma ditadura e outra com a manutenção do status político internacional.
AS OBRAS
XEQUE ARGENTINO - Em um tabuleiro de xadrex, quatro capacetes argentinos envolvem um inglês, numa representação da invasão das ilhas Malvinas pela Argentina. As Malvinas encontram-se divididas pelo tabuleiro, a fim de mostrar que durante a contenda elas não têm "dono".
XEQUE INGLÊS - Em outro tabuleiro, doze capacetes ingleses envolvem os quatro argentinos, numa representação da diferença entre a frota naval inglesa e as forças argentinas. Aqui também, o mapa das Malvinas continua dividido.
XEQUE-MATE - As Malvinas encontram-se agora no centro do tabuleiro, ou seja, já tem um dono. Sobre o tabuleiro, 3 vidros rotulados de sangue argentino e 3 vidros rotulados de sangue inglês representam as vidas humanas ceifadas inutilmente. No centro do tabuleiro, um sétimo vidro, vazio e aberto, representa a indagação ética que persiste para o futuro: Correrá mais sangue?
COMPONENTES DAS OBRAS
- Três tabuleiros de xadrez (um para cada quadro).
- Várias metades de cascas de limão, devidamente preparadas para evitar o seu apodrecimento, surgimento de fungos, etc. Estas cascas estão pintadas com a bandeira da Argentina e da Inglaterra, representando capacetes de soldados análogos a peças de um jogo de xadrez.
- Seis vidros lacrados, contendo tinta vermelha, representam containers com o sangue dos soldados mortos e feridos.
Abril/1982 - Walter Miranda